impactos diferença entre idade e série
Os impactos da diferença entre idade e série na educação
- HENRIQUE NOYA - Diretor-executivo do Instituto de Longevidade MAG
A distorção idade-série é um dos fenômenos mais preocupantes da educação brasileira. O indicador aponta a diferença entre a idade que o aluno tem, de fato, e a idade esperada para a série em que se encontra. Naturalmente, o recomendado é que essa diferença seja zero; ou seja, é ideal que o aluno tenha a mesma idade que a esperada para a série.
São três as origens que geram esta defasagem: a reprovação, o abandono escolar acompanhado de posterior retorno do estudante ou a matrícula tardia. Tais causas esclarecem o porquê da preocupação com a distorção idade-série. Todos os três apontam para uma maior chance de evasão escolar definitiva, baixa qualidade do aprendizado e, portanto, de um menor efeito positivo da educação no futuro do indivíduo.
Lamentavelmente, no Brasil, a distorção idade-série é considerada alta por especialistas. Essa percepção é corroborada pelo Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL), estudo realizado pelo Instituto de Longevidade MAG, que mostra as condições que as cidades oferecem para as pessoas terem uma vida longa, saudável e financeiramente protegida. Apenas 60% dos 876 municípios brasileiros analisados pelo IDL têm taxas aceitáveis de distorção idade-série entre os estudantes — ou seja, em mais de 350 municípios essa taxa é inaceitável.
O estudo elaborado pelo IDL também avaliou que as cidades do estado da Bahia são as que apresentam a maior taxa de distorção idade-série do país. Considerando a categoria Cidades Grandes são as que abrigam mais de 500 mil habitantes, os municípios de Simões Filho, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Ilhéus e Salvador estão entre os que apresentam um alto índice de atraso escolar. Em contrapartida, também na região Nordeste, a cidade de Sobral, no Ceará, é a que tem a menor taxa de distorção idade-série no Brasil.
Esses dados são de suma importância, pois o atraso escolar afeta vários estudantes em diferentes regiões do Brasil e tem forte impacto na vida futura de cada um deles. Apesar de a educação ser um direito fundamental que auxilia na vida de cada indivíduo, muitos estudantes não tiveram o direito de aprender e de se desenvolver na idade correta. Dessa forma, acabam sendo abandonados e sem perspectiva.
Para piorar a situação, é bastante razoável assumir que a pandemia veio agravar ainda mais a situação. Se é verdade que, desde cedo, entendemos que a realidade não voltará a ser como era mesmo após o término do furacão da covid-19 foi apenas recentemente que a proporção desses impactos começou a ser revelada de forma quantificada.
O estudo "Perda de Aprendizagem na Pandemia", realizado pelo Insper e pelo Instituto Unibanco, estima que, no ensino remoto, os estudantes aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, em comparação com o que ocorreria nas aulas presenciais. Tal redução afeta a motivação dos estudantes, o que pode levar ao aumento dos índices de reprovação e de afastamento da escola — reforçando, daí, a distorção idade-série.
Não pode ser desprezado ainda o afastamento da escola causado pela ausência de condições de acompanhar as aulas remotamente e por necessidade de que o jovem se envolva com alguma forma de geração de renda para ajudar a família. Até janeiro de 2021, 1 milhão e 300 mil alunos com idade entre 6 e 17 anos abandonaram os estudos por tais razões, segundo o relatório Enfrentamento da Cultura do Fracasso Escolar, do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para Infância (Unicef).
A educação é o passaporte para o sucesso profissional e financeiro de qualquer cidadão, e, por isso, está diretamente relacionada à longevidade, seja do ponto de vista da saúde física, emocional ou financeira. Vale dizer que é equivocada a visão de que o impacto negativo gerado por problemas como a distorção idade-série se dê apenas na vida do indivíduo diretamente afetado por tal problema. Com menor capital humano, perdemos todos por um menor crescimento econômico de longo prazo e por uma menor queda esperada da desigualdade social. É o Brasil perdendo seus futuros talentos antes mesmo que eles possam descobrir quais seriam seus pontos fortes acadêmicos. E esse tipo de perda é imensurável.