Importância do Curso Normal
Importância do Curso Normal (Magistério) na formação inicial de professores e professoras
Sabemos que a formação inicial de professores e professoras é um aspecto fundamental para a qualidade da educação. No RS, como em alguns estados brasileiros, ainda se mantém o Curso Normal (também chamado Magistério) para estudantes que se formaram no Ensino Fundamental e passam a ingressar no Ensino Médio.
Conforme dados do Censo Escolar 2020, no Rio Grande do Sul, 108 instituições de ensino ofertam o Curso Normal, das quais 99 são escolas Estaduais, 04 Municipais e 05 Particulares, em um total de 10.871 matrículas.
Procurando valorizar este Curso, destacar a sua importância e justificar a sua existência, sobretudo para a formação dos professores e professoras da educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, conversamos com a professora Ivanete Terezinha Santi, que é coordenadora do Curso Normal da Escola Estadual de Educação Básica Nicolau de Araújo Vergueiro (EENAV), em Passo Fundo, RS.
SITE NEIPIES: Há quantos anos este Educandário oferece o Curso Normal (Curso de formação de professores e professoras no Ensino Médio)? Qual é a importância desta oferta para o município de Passo Fundo e de toda região Norte do RS?
Professora Ivanete: A história da formação de professores em Passo Fundo está ligada a Escola Estadual de Educação Básica Nicolau de Araújo Vergueiro, uma vez que desde a sua origem vem oferecendo o Curso Normal.
No ano de 1929, emergia a necessidade da criação de um Estabelecimento de Ensino para formar professores, pois não havia nesta região educandário com tal finalidade. O movimento pró-criação da Escola Complementar partiu da iniciativa da professora Eulina Braga, que exercia o cargo de Diretora do Colégio Elementar, Estabelecimento Estadual com mais de 100(cem) alunos, localizado em frente à Praça da República (atual Ernesto Tochetto) contando com o apoio e trabalho da professora Anna Luíza Ferrão Teixeira.
É de grande importância o oferecimento do Curso Normal, temos alunos oriundos dos diversos bairros da cidade, bem como dos municípios vizinhos de Passo Fundo.
A procura do Município, bem como das escolas de Educação Infantil na busca de alunos que cursam esta modalidade para atuar como monitoras, é vista como um ponto forte do Curso.
SITE NEIPIES: A senhora coordena este Curso na Escola há pelo menos 08 anos. Conte-nos de sua relação com esta Modalidade de Ensino no Ensino Médio?
Professora Ivanete: Minha base de formação inicial também foi o Curso Normal, iniciei no ano de 1982 trabalhando na Educação Infantil. Fiz curso de Pedagogia, o qual veio trazer mais certeza que é com a Educação que me realizo profissionalmente.
Percebo nos diálogos com os alunos que ingressam que também trazem esta motivação de ensinar, de atuar com o bem precioso que são as crianças.
SITE NEIPIES: Fale-nos da motivação destes jovens pelo Curso e da motivação dos colegas professores e professoras na formação inicial destes docentes.
Professora Ivanete: A maioria dos alunos que buscam a Formação do Curso Normal vêem como uma alternativa de trabalho já durante a Formação, um campo que oferece várias atuações, monitores de alunos especiais, auxiliar de Educação Infantil, bem como uma formação para a vida, devido ao currículo que é desenvolvido durante o Curso.
SITE NEIPIES: Na sua avaliação, por que é tão importante manter e fortalecero Curso Normal no Ensino Médio, mesmo que outros Estados brasileiros já não o ofereceram mais?
Professora Ivanete: Na minha avaliação, o Curso Normal oferece uma formação especial para atuar na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, esta formação não é tão evidenciada (detalhada) nos Cursos de Educação do Ensino Superior. Relatos de Professores da Universidade sobre o diferencial dos alunos oriundos do Curso Normal, sobre os que fizeram o Ensino Médio é perceptível e evidenciada nos conhecimentos que demonstram através das participações em sala de aula.
Percebe-se também que alunos que passaram pelo curso buscam outras áreas de formação no Ensino Superior (veterinária, estética, odontologia, estética …). Neste sentido, acredito na formação de qualidade também mais ampla e geral.
SITE NEIPIES: Qual é a situação do Curso Normal na sua escola hoje?
Professora Ivanete: Desde que estou atuando na Escola, o Curso sempre teve uma boa procura, geralmente são oferecidas 90 vagas, as inscrições acontecem no site da SEDUC.
Em 2020, tivemos uma procura maior, abrimos quatro turmas no mês de março. Já para este ano, devido a pandemia e o pouco tempo para inscrição, iniciamos com 2 turmas.
No ano de 2021 temos: 2 turmas de 1º ano com 61 alunos, 3 turmas de 2º ano com 67 alunos, 2 turmas de 3º ano com 50 alunos e uma turma de Estágio com 37 alunos. Temos hoje, no total, 215 estudantes vinculados ao Curso.
SITE NEIPIES: Como é a organização Curricular do Curso Normal?
Professora Ivanete: O Ensino Médio Curso Normal tem na sua matriz curricular todos os componentes da Educação Geral que constam no Ensino Médio, porém com uma carga horária semanal menor, além da Formação Profissional. Constam 18 componentes no primeiro ano, 24 no segundo ano e 22 no terceiro ano. Estes componentes curriculares oferecem ao aluno com conjunto de conhecimentos que poderá ser aperfeiçoado independente da área que deseja seguir, pois dá uma boa base de aprendizado.
A Prática Pedagógica de 400 hs desenvolvidas nos três anos do curso. Acredito ser um diferencial para uma formação mais consistente, bem como o Estágio supervisionado que acontece no 4º ano com a duração de um semestre.
SITE NEIPIES: Como a senhora vê as atuais mudanças previstas e que vem sendo implantadas no Ensino Médio? Teremos um Ensino Médio mais atualizado com as necessidades do jovem estudante e com as demandas do mundo atual?
Professora Ivanete: Acredito que sempre há necessidade de adequação e mudanças em todos os setores da sociedade, a educação precisa caminhar para a formação de cidadãos que dêem conta das necessidades emergentes. Percebo, porém, dificuldade de muitos profissionais atuar para que os estudantes sejam críticos, criativos e busquem uma maior autonomia.
SITE NEIPIES: Uma mensagem aos jovens estudantes que escolhem pela profissão Professor ou Professora. Uma mensagem aos colegas professores e professoras que bravamente resistem na profissão, apesar dos ataques a seus direitos e da desvalorização.
Professora Ivanete: Penso que a profissão Professor tem algo de “alma” “vocação”, é mais do que apenas optar por uma carreira a seguir.
Vou relatar algo bem familiar aqui.
Minha mãe foi professora, quando criança as brincadeiras com minhas irmãs eram na maioria das vezes de escolinha. Tenho três filhos, não imaginava qual carreira iriam seguir, principalmente porque, nos dias de hoje, nossa profissão é pouco valorizada e também tem salário pouco atrativo.
Com muito orgulho, tenho dois filhos que desempenham a profissão de professor, sei que é por amor que o fazem. A fala do caçula quando decidiu fazer matemática foi: “eu escolhi é pela PROFISSÃO”. Isto me dá a certeza que, mesmo com tantas opções nos dias de hoje, ainda tem os que vem com a missão de ensinar. Minha filha é formada em Jornalismo, foi para Sydney para fazer curso de inglês, mas o destino levou para um curso na área da Educação Infantil. Hoje é professora de educação infantil e adora o que faz.
Apresentamos, agora, um pouco da trajetória do Educandário EENAV (Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro) no Curso Normal.
Trajetória do Curso Normal EENAV: tempos, espaços e convivências
Este é um artigo que foi escrito em 2018, faz parte de um livro organizado pela SEDUC com um histórico de todas as escolas do Curso Normal do RS.
A história da formação de professores em Passo Fundo está ligada à Escola Estadual de Educação Básica “Nicolau de Araújo Vergueiro”, uma vez que desde a sua origem vem formando profissionais através do Curso Normal.
No ano de 1929, surgiu a necessidade da criação de um Estabelecimento de Ensino para formar professores, pois não havia nesta região educandário com tal finalidade. O movimento pró criação da Escola Complementar partiu da iniciativa da professora Eulina Braga, que exercia o cargo de Diretora do Colégio Elementar – Estabelecimento Estadual, com mais de cem alunos, localizado em frente à Praça da República (atual Ernesto Tochetto), contando com o apoio e trabalho da professora Anna Luíza Ferrão Teixeira. O governo do estado estava inclinado a instalar uma Escola em Cruz Alta, não em Passo Fundo. Sabendo disso, a professora Eulina Braga apelou para o Dr. Nicolau de Araújo Vergueiro, Intendente Municipal, que empenhou todo seu prestígio junto ao Governo Estadual, conseguindo com que a Escola Complementar fosse instalada em Passo Fundo.
Assim, em abril de 1929 foi instalada, oficialmente, a Escola Complementar no edifício do Clube Pinheiro Machado, localizado na Avenida Brasil, n.º 792; este prédio foi cedido temporariamente. Matricularam-se no primeiro ano da Escola cinquenta e sete alunos. Em seguida, conheceu-se o primeiro Diretor da Escola Complementar, o Professor Reinaldo Haeuer que a dirigiu até o início de 1932. Desde sua abertura, a Instituição adquiriu notoriedade, atraindo alunos de municípios vizinhos. Em maio de 1932, sob a direção da educadora Mathilde Hassolocher Mazeron, a Escola Complementar transferiu-se para o prédio que mais tarde funcionaria a Câmara Municipal de Vereadores. Em dezembro desse ano, realizou-se a primeira formatura com dezenove Professores. A Escola Complementar passou à categoria de Escola Normal Oswaldo Cruz, formando até o ano de 1957 quatorze turmas, totalizando duzentos e trinta e seis alunos-mestres. Três anos mais tarde, foi autorizado o funcionamento do Ginásio Estadual, incorporando-o à Escola Normal Oswaldo Cruz que, nesse mesmo ano foi transferido para o prédio do antigo Colégio Elementar e passou a denominar-se Ginásio Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro em homenagem aos relevantes serviços prestados à causa da educação pelo referido médico.
Em 1959, a Escola Normal Oswaldo Cruz e o Ginásio Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro, sob a única direção, transferiram-se daquelas instalações para o prédio próprio situado à Rua Capitão Araújo, n.º 444, próximo à Praça Tamandaré. Em 1960 ampliou suas atividades com oferecimento do 2º Ciclo (Colégio Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro) junto à Escola Normal Oswaldo Cruz.
Cabe aqui salientar que, segundo algumas normalistas da época, o desejo de entrar no curso foi com a intenção de serem professoras, também por vontade dos pais, e ainda por ser uma profissão de “status”, voltada basicamente ao público feminino, no entanto, naquele contexto, era muito difícil ingressar no CENAV, em virtude da prova de seleção (comparada ao vestibular nos dias de hoje). Havia muito rigor, o uniforme era examinado diariamente, pois os alunos não entravam na escola se não estivessem uniformizados. Na hora cívica semanal a entoação do Hino Nacional, era obrigatória e, no currículo, além dos componentes da base comum, também estavam incluídas os estudos das Línguas: Inglesa, Francesa e Latina; as aulas eram de segunda a sábados; a maior dificuldade centrava-se nos professores que eram estritamente rigorosos, porém competentes, o que demandava muito empenho e estudo por parte dos alunos. Depois de formadas as alunas iniciavam atuando nas séries inicias até se aposentarem, e outras cursaram o ensino superior.
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc), por meio de seu Departamento Pedagógico, está disponibilizando o livro Narrativas e Memórias das Escolas Estaduais de Curso Normal do Rio Grande do Sul. A obra resgata, através de fotos e um conjunto de narrativas, a trajetória da modalidade de ensino responsável pela formação de professores. Para ter acesso à obra completa e depois fazer o download basta clicar aqui. O Rio Grande do Sul é um dos poucos estados que ainda mantêm o Curso Normal – atualmente, a rede estadual possui cerca de 100 escolas da modalidade.