Indicadores fraudados na educação de MT
PEDRO TAQUES ACUSA MAURO MENDES DE FRAUDAR INDICADORES DA EDUCAÇÃO DE MT PARA TURBINAR IDEB E DISPUTAR RECURSOS FEDERAIS DO GOVERNO LULA
Por João Guató
REPORTAGEM — JOÃO GUATÓ

Uma denúncia feita pelo ex-governador Pedro Taques reacendeu o debate sobre a situação da educação pública em Mato Grosso ao acusar diretamente o governador Mauro Mendes de fraudar indicadores educacionais para melhorar artificialmente o desempenho do estado e, com isso, obter vantagens na distribuição de recursos federais.
Durante entrevista ao Popó Cast, Taques afirmou que o governo estadual estaria aprovando 100% dos alunos, independentemente de frequência ou aprendizagem, além de orientar que professores deixem de registrar faltas. Para ele, a prática distorce os indicadores oficiais e cria uma evolução fictícia do desempenho das escolas estaduais. Taques declarou que isso “é fraude, é mentira, é propaganda enganosa com dinheiro público” e defendeu que o caso seja investigado pelo Ministério Público, especialmente pela promotoria de educação, classificando a prática como criminosa e prejudicial ao desenvolvimento das crianças e jovens mato-grossenses.
A DISPUTA PELOS ÍNDICES E PELO DINHEIRO FEDERAL
Os dados supostamente manipulados impactam diretamente o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal métrica de qualidade da educação brasileira. O índice combina desempenho em provas de Língua Portuguesa e Matemática com taxas de aprovação — exatamente o componente mais facilmente inflado quando se aprova todos os estudantes e se apagam faltas.
Em 2023, Mato Grosso registrou:
IDEB 6,0 nos anos iniciais do fundamental, acima da meta
IDEB 4,9 nos anos finais, abaixo da meta
IDEB 4,2 no ensino médio, abaixo da meta
O único indicador acima da meta foi justamente o mais sensível à manipulação administrativa.
Taques sustenta que essa maquiagem estatística favorece Mato Grosso na disputa por recursos federais, especialmente nos mecanismos que vinculam financiamento a resultados educacionais, como o VAAR do Fundeb, que considera metas de desempenho, e propostas legislativas que defendem atrelar repasses ao IDEB. Na avaliação do ex-governador, o estado estaria simulando avanços para ampliar vantagens financeiras, enquanto os alunos enfrentam fragilidades reais de aprendizagem.
O TABULEIRO DA AGROPOLÍTICA E O COMANDO DA EDUCAÇÃO
A denúncia ocorre em um momento em que a educação se tornou peça estratégica no consórcio de poder da agropolítica mato-grossense. Na estrutura atual, a pasta é politicamente controlada pelo vice-governador Otaviano Pivetta — figura central do agronegócio e já articulado como candidato ao governo de Mato Grosso. Paralelamente, o secretário de Educação, Alan Porto, movimenta-se como pré-candidato a deputado estadual, transformando a própria gestão educacional em vitrine eleitoral.
Esse arranjo político ajuda a explicar a pressão por índices positivos: bons resultados, ainda que artificiais, funcionam como combustível para projetos de poder e para narrativas de eficiência administrativa, mesmo quando os números não correspondem à realidade das salas de aula.
PROPAGANDA X REALIDADE
Apesar da aprovação universal anunciada nos bastidores, Mato Grosso ficou apenas em 15º lugar no Enem, resultado que contraria o discurso oficial de avanço acelerado, comprovando a fraude nos dados de desempenho. Para Taques, esse contraste entre marketing e desempenho real evidencia que algo está sendo escondido por trás das estatísticas estaduais.
“Estão roubando o futuro de uma geração inteira”, afirmou o ex-governador.
O caso adiciona tensão ao ambiente político e coloca a educação no centro de um embate que não é apenas técnico: trata-se de disputa por prestígio, por narrativa e por dinheiro. Resta saber se o avanço exibido é fruto de política pública ou apenas de edição de planilha.
CONTRAPONTO
No fim das contas, o que Pedro Taques expôs não é apenas uma briga de bastidores ou uma troca de farpas entre ex e atual governador. É algo muito mais grave, mais fundo, mais feio: quando um governo manipula números da educação, ele não está apenas enganando o eleitor — está cometendo bandidagem contra a própria nação. Fraudar indicadores, apagar faltas, inflar aprovação, tudo isso não é invenção administrativa: é uma forma de mentir para o Brasil e, pior, enganar o governo federal para receber mais recursos.
E quando um estado começa a sobreviver de maquiagem em vez de política pública, a educação deixa de ser projeto de país e vira truque de auditório. A fraude não rouba só a verdade das planilhas — rouba o direito de aprendizado, rouba a confiança das famílias, rouba o futuro das crianças e dos jovens de Mato Grosso.
No governo Mauro Mendes, a planilha vale mais do que a sala de aula. E quando o Estado escolhe proteger números em vez de proteger gente, aí sim se revela o verdadeiro crime: transformar educação em fraude de gabinete.
Fraudar indicadores educacionais não é esperteza.
Não é gestão eficiente.
Não é atalho técnico.
É golpe.
É engodo.
É crime contra o país.
E como Guató, educador, pesquisador e cidadão, deixo a última linha sem metáfora:
quem frauda a educação frauda o futuro — e não há maquiagem alguma capaz de esconder isso.
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