Índice de analfabetismo muito alto

Índice de analfabetismo muito alto

‘Incompreensível país de Paulo Freire ter índice de analfabetismo muito alto’, critica professor da USP

Brasil tem 9,1 milhões de analfabetos e 29% da população em situação de analfabetismo funcional

No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado nesta segunda-feira (8), o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara critica a negligência histórica do Brasil com o tema. “É completamente incompreensível que no país de Paulo Freire, que foi o maior pensador da alfabetização e da educação ao longo da vida dos adultos, referência global, o índice de analfabetismo absoluto seja ainda muito alto”, afirmou ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabiam ler nem escrever em 2024, o que corresponde a uma taxa de 5,3% da população adulta. Além disso, o Indicador de Analfabetismo Funcional (Idaf) do último ano indica que cerca de 29% da população brasileira era considerada analfabeta funcional.

O pesquisador ressalta que o impacto da alfabetização, inclusive da Educação de Jovens e Adultos (EJA), vai para além da sala de aula. “Uma criança que tem contato com um adulto que volta para a escola (…) quase sempre tem um desempenho escolar muito satisfatório porque vê que a família valoriza a educação”, explica.

Ele explica que o analfabetismo funcional gera um problema em todos os níveis de ensino. “Se você chega até a universidade e está em situação de analfabetismo funcional, é um problema, concretamente, de algo que não ocorreu na educação básica. […] Isso é gravíssimo”, afirma.

Cara lembra ainda que o aprendizado não é cumulativo e exige estímulo constante. “Quantas vezes uma pessoa estuda um idioma estrangeiro e, pelo fato de não praticar, tem muita dificuldade de retomar o uso da língua? Essa é a prova de que o aprendizado não é cumulativo”, compara.

Mudanças climáticas e desigualdades regionais

O professor destaca que a crise climática impõe novos desafios à educação, como no Rio Grande do Sul, onde enchentes inviabilizaram aulas em 2024. “As mudanças climáticas trazem inúmeros desafios para o aprendizado, tanto na inviabilização do curso normal das aulas […] como também a climatização das salas de aula não permite um aprendizado”, diz.

Ele também ressalta que as desigualdades regionais ampliam a exclusão educacional. “[O Norte] é uma região que ainda está muito pautada em processos de corrupção, […] tem um garimpo mobilizado pelo crime muito estruturado, […] diante do fato de que o Brasil não respeita as populações indígenas, tampouco as ribeirinhas. Isso resulta em uma região que tem pouco acesso à educação, comparado com as outras regiões”, exemplifica.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.




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