Infraestrutura melhora o clima escolar

Infraestrutura melhora o clima escolar

INFRAESTRUTURA MELHORA O CLIMA ESCOLAR

Boletim 73 - fevereiro de 2022

Evidências sobre a importância dos espaços escolares para aprendizagem estão presentes em uma série de estudos nacionais e internacionais. Mas a pandemia de Covid-19 demandou dos gestores um olhar especial sobre a infraestrutura da escola e contribuiu para o direcionamento de investimentos nesse quesito. Boa parte das adequações determinadas pelos protocolos sanitários contribuem para melhorias básicas há tempos necessárias para oferta de uma educação de qualidade: maior ventilação nas salas, banheiros limpos, ampliação do uso dos ambientes externos e do entorno da escola (como parques e praças).

Um dos estudos mais recentes sobre o tema foi divulgado pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Unesco em 2019. A pesquisa analisou a qualidade da infraestrutura de escolas públicas de Ensino Fundamental do país e o desempenho delas no Ideb em 2013, 2015 e 2017; constatou que quanto mais altos os indicadores de infraestrutura, melhores os resultados do Ideb.

Vale destacar que o estudo considera múltiplas dimensões da infraestrutura: área (onde a escola está localizada – zona urbana/rural, regiões do país); atendimento (etapas e modalidades de ensino ofertadas), condições do estabelecimento de ensino (qualidade da edificação e dos espaços onde a escola funciona, instalações, conservação e conforto do prédio), condições para o ensino e aprendizado (espaços pedagógicos, equipamentos para apoio administrativo e apoio pedagógico) e condições para a equidade (acessibilidade para pessoas com deficiência).

Além de assegurar um ambiente adequado e propício para o processo educativo, uma boa infraestrutura também impacta indiretamente a aprendizagem ao afetar o clima escolar. Uma escola limpa, bem cuidada contribui para tornar o espaço agradável e convidativo para os estudantes. Pesquisas que buscaram captar a percepção dos jovens sobre o papel da escola mostram que eles avaliam as instalações como um elemento importante para aprendizagem. No estudo “Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?”, realizado pela Flacso Brasil, em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e o Ministério da Educação (MEC) (2015), o item “o ambiente da escola é ruim, desanima” aparece como o quinto mais citado pelos jovens entrevistados dentre as dificuldades que enfrentam para estudar, com 8,7% das menções.

O relatório “Juventudes, Educação e Projeto de Vida” (2020), produzido pela Fundação Roberto Marinho em parceria com a Plano CDE, a questão também aparece como relevante: 28% dos participantes da pesquisa apontaram a “falta de infraestrutura da escola” como obstáculo ao aprendizado.

ESCOLA SAUDÁVEL

Em 2020, o Instituto de Arquitetos do Brasil de São Paulo (IAB-SP) elaborou, em parceria com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Manual Técnico para Escolas Saudáveis. A publicação é direcionada às mais de 5 mil escolas da rede estadual paulista e visa apoiá-las tecnicamente no processo de adequação dos espaços para retomada das atividades presenciais. Mas vai além e propõe uma reflexão sobre a qualidade dos espaços escolares, trazendo premissas e orientações preciosas para os gestores interessados em promover melhorias nesse sentido.

O conceito de “escola saudável” descrito no Manual contempla aspectos relacionados ao conforto das instalações físicas, mas também ao uso de outros espaços para além da sala de aula e envolve uma compreensão da escola conectada ao território, ao meio ambiente e como local de “criação de vínculos e de afetos”.

“Uma escola saudável é uma escola cuidada, pensada e transformada pelo seu coletivo de usuários. O espaço é importante na mesma proporção que o tempo e o currículo”.  Bia Goulart, Arquiteta e uma das coordenadoras técnicas do material

Conforme detalhado no Manual, ela enfatiza a importância da participação de toda a comunidade nas decisões sobre o uso, a gestão e a manutenção dos espaços escolares – processos que devem estar articulados à organização dos tempos e ao projeto político pedagógico da escola. “Pensar o espaço é um assunto pedagógico. Como a gente quer habitar a escola e o mundo?”, destaca Bia. Nesse sentido, ela propõe que essa reflexão sobre os espaços escolares “seja uma agenda cotidiana”, e não se resuma a reformas pontuais, tocadas por profissionais externos.

EXPERIÊNCIAS

Cuidar da infraestrutura da escola depende de investimentos públicos, mas também da ação dos gestores e comunidade escolar para sua manutenção e melhoria.

Na E.E. Romualdo José da Costa, em Ribeirão das Neves (MG), município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o diretor Natanael Barros conta que um trabalho de revitalização do espaço vem sendo realizado desde 2016 com a participação dos estudantes. Uma série de oficinas que trabalharam diferentes linguagens artísticas foram realizadas naquele ano e resultaram em intervenções no espaço feitas pelos próprios alunos – grafites e fotografias dos jovens passaram a decorar o pátio e um dos muros da escola, conferindo um visual mais agradável e acolhedor.

No ano seguinte, a partir de uma consulta da gestão junto ao corpo discente sobre que destino dar a um montante de recursos disponível, foi implantado um viveiro de plantas no local. A construção foi realizada pelos próprios estudantes e funcionários em oficinas lideradas por Juliano Borin, especialista em cultivo de plantas do Instituto Inhotim. Depois dessa ação, o espaço seguiu sendo utilizado em outras oficinas e para atividades de Educação Ambiental com as turmas; as mudas ali produzidas ajudam a embelezar os jardins da escola e também abastecem a horta.

Mais recentemente, o laboratório de informática e a sala de vídeo foram modernizados, os banheiros, reformados, e foi instalado um elevador para assegurar a acessibilidade de pessoas com deficiência. Para o diretor, o envolvimento dos alunos nas ações de melhoria dos ambientes escolares contribui para que as mudanças façam sentido para eles, colaborando na “conservação dessa transformação”. Barros também observa que essas iniciativas de revitaIização da escola acabaram repercutindo na própria comunidade, já que a instituição se tornou uma referência no território.

Na E. E. E. F. M. Clóvis Borges Miguel, no município de Serra (ES), a direção viu na gestão compartilhada dos espaços (biblioteca, laboratórios, auditório e rádio) uma solução para ampliar e potencializar a utilização desses equipamentos, que até então tinham horários reduzidos de atendimento pela falta de recursos humanos. Foram criados colegiados de estudantes para cada um desses espaços, que se alternam na monitoria.  

“É como se a escola tivesse aumentado o número de braços para alcançar os alunos. Observamos uma melhora significativa dos resultados escolares com aumento de 65% para 73% de aprovação e com a perspectiva de chegarmos a 80%”.  Elaíse Soneghetti, Diretora

A coordenadora de turno Karina Alencar da Silva conta que também é perceptível o desenvolvimento dos alunos que atuam como monitores. “Tivemos alunos que começaram tímidos e hoje já se mostram proativos e tomam decisões sem precisar perguntar para a gente”, relata.

Clique aqui para conferir o depoimento completo da equipe gestora e dos estudantes da E. E. E. F. M. Clóvis Borges Miguel no Banco de Soluções do Instituto Unibanco.




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