Inscrições de novas turmas de EJA

Inscrições de novas turmas de EJA

Depois de permitir pré-matrícula, governo adia inscrições de novas turmas de EJA para junho

Luciano Velleda

Professores e alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Agrônomo Pedro Pereira, localizada no bairro Agronomia, em Porto Alegre, estão inconformados com a não concretização de 283 matrículas na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) para o primeiro semestre de 2021. A contrariedade se mistura à falta de justificativas para o que está acontecendo por parte da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Na última sexta-feira (5), a direção da escola enviou ofício pedindo explicações para o coordenador-geral da 1ª CRE, Alaor Baptista, mas ainda não recebeu resposta.

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As dificuldades têm se sucedido desde o começo do ano. O professor Newton Colombo explica que, em janeiro, o site disponibilizado para as pré-matrículas no 1º ano do Ensino Médio na EJA apresentou problemas, embora alunos que desejassem fazer a pré-matrícula para o 2º ou 3º ano conseguissem. Com o problema técnico no site, a orientação dada pela 1ª CRE foi a de realizar as pré-matrículas presencialmente na escola. Colombo diz que foram feitas 140 pré-matrículas assim na última semana de janeiro.

Em março, porém, quando o processo deve ser concluído, isso ainda não aconteceu. Somando os alunos do 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio na EJA que fizeram a pré-matrícula de modo presencial ou pelo site, a Escola Agrônomo Pedro Pereira tem 283 pessoas aguardando a homologação da matrícula e com o futuro indefinido.

O resultado, até o momento, é a escola ter apenas três turmas da EJA garantidas para 2021, quantidade muito inferior às cerca de 12 turmas que a escola teve até recentemente. “O governo está barrando, não está permitindo que as escolas façam as matrículas desses alunos”, afirma o professor Colombo. “Enxergamos isso como um projeto de desmonte. Ano passado já teve a matrícula virtual, depois no meio do ano não deixaram as matrículas acontecerem, e esse ano não tem a homologação. É um projeto de desmonte da EJA pública. Talvez a ideia do governo seja repassar para as escolas privadas.”

Procurada pela reportagem do Sul21, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou, nesta quinta-feira (11), que adiou as inscrições de novas turmas na modalidade EJA para o ano letivo de 2021. A justificativa é evitar a evasão diante da crise do coronavírus (leia a íntegra da nota abaixo).

“As inscrições de novas turmas serão realizadas somente no mês de junho, após a realização do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A meta é que o maior número de alunos possível realize a prova e alcance a sua certificação na etapa de ensino desejada. Assim, estarão aptos para a realização de Enem, vestibulares, cursos técnicos e entrada no mercado de trabalho”, explica a Seduc.

Com relação à situação da Escola Agrônomo Pedro Pereira, a Secretaria Estadual da Educação diz ter autorizado a realização de um “pré-cadastro” dos alunos interessados em cursar os primeiros anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio da EJA. Os alunos das outras séries, diz a órgão, “devem aguardar a designação pelo sistema de matrícula das Seduc”.

Evasão

O professor Newton Colombo destaca que a mudança para o modelo on-line de matrícula já foi prejudicial, pois não houve divulgação do novo processo e muitos alunos não têm acesso à internet ou têm dificuldade em lidar com a ferramenta. Como as aulas da EJA são em módulos semestrais, Colombo também crítica a decisão do governo de Eduardo Leite (PSDB) de não ter aberto novas turmas no segundo semestre de 2020, sob a justificativa da crise do novo coronavírus — embora, na ocasião, o governo estadual quisesse retomar as aulas presenciais. Com isso, apenas os alunos já matriculados puderam passar para a série seguinte, reduzindo a oferta de educação para jovens e adultos completarem seus estudos.

Também professora na Escola Agrônomo Pedro Pereira, Maria Fernanda da Silva Viegas diz que o governo tem alegado falta de demanda na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), algo que ela refuta. Na escola situada no bairro Agronomia, a professora conta que sempre houve lista de espera.

Maria Fernanda pondera que a evasão escolar é um problema antigo e conhecido. No caso da EJA, com a particularidade dos alunos serem adultos e jovens que não puderam estudar na época apropriada e retornam à escola em outra fase da vida, a evasão sempre foi maior do que a média. A crise econômica do Brasil nos últimos seis anos é ainda outro elemento a agravar o cenário geral. “A evasão é intrínseca devido aos problemas sociais. Violência e desemprego também causa evasão”, afirma.

A professora conta que coordenador-geral da 1ª CRE, Alaor Baptista, teria garantido a confirmação das matrículas se houvesse demanda. Como isso não foi concretizado, já havia sinais de que o governo pudesse transferir os alunos para o modelo do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (NEEJA), um formato semi-presencial, ou ainda oferecer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), uma prova aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O professor Newton Colombo destaca que o NEEJA cumpre uma função importante, mas é um sistema diferente. Outro problema é a localização. Sem as vagas na Escola Estadual de Ensino Médio Agrônomo Pedro Pereira, referência para os moradores da Agronomia, Lomba do Pinheiro e até o Morro da Cruz, a desistência em estudar será maior.

A análise é compartilhada pela colega e professora Maria Fernanda da Silva Viegas. “É a única escola que oferece EJA no ensino médio nessa região. Se a gente não oferecer, essa demanda não vai aparecer. A demanda existe. Existem muitas pessoas que não completaram ensino médio e têm acima de 18 anos. Se não oferecer, alguém que tiver um pouco mais de dinheiro vai pagar (numa escola privada), mas outras não vão pagar, simplesmente não vão”, afirma.

A professora diz que foi uma contradição a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) ter aberto a pré-matrícula e não ter confirmado as vagas. “Fizemos pra nada, correndo risco no meio da pandemia, e agora não oferecem as matrículas.”

Leia abaixo a nota na íntegra:

“Com o intuito de evitar que um número expressivo de alunos evadisse diante das dificuldades impostas pela pandemia de coronavírus, dando mais tempo para que os estudantes concluíssem o período letivo de 2020, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informa que adiou as inscrições de novas turmas na modalidade de ensino de Educação para Jovens e Adultos (EJA) para o ano letivo de 2021.

As inscrições de novas turmas serão realizadas somente no mês de junho, após a realização do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A meta é que o maior número de alunos possível realize a prova e alcance a sua certificação na etapa de ensino desejada. Assim, estarão aptos para a realização de Enem, vestibulares, cursos técnicos e entrada no mercado de trabalho.

O que ocorreu especificamente na Escola Agrônomo Pedro Pereira, assim como nas demais escolas estaduais, é que a Seduc autorizou a realização de um pré-cadastro dos alunos que tivessem interesse em se inscrever para os primeiros anos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os demais, matriculados nas demais totalidades da EJA, devem aguardar a designação pelo sistema de matrícula das Seduc.”

 

https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2021/03/depois-de-permitir-pre-matricula-governo-adia-inscricoes-de-novas-turmas-de-eja-para-junho/ 




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