Intitulado imbrochável
A indignação do professor Fabiano Da Costa II
É madrugada e enquanto boa parte do país dorme, eu me perco na minha intranquilidade. Me desculpem, mas em uma noite que já perdura quatro anos, alguém tem de gritar durante a madrugada.
Ver o espetáculo da mais completa idiotice que pude assistir nos últimos anos, sob uma sensação de claustrofobia, me fez sucumbir de vez emocionalmente. Trato aqui do ato da Independência no Rio de Janeiro onde, o atual presidente, um notório insuficiente intelectual, e sua esposa, uma completa desclassificada moral, enxovalharam, da maneira mais terrível, vergonhosa e irreversível, os 200 anos da Independência do país.
Este país foi edificado sobre os pilares de uma sociedade patriarcal, fincada na mais violenta concentração de renda da História, sobretudo nos últimos 200 anos. Nós, o povo brasileiro, fomos nos construindo enquanto sociedade, sob as mais terríveis contradições econômicas e sob os mais severos atrasos sociais perpetrados.
Enquanto todas as nossas cidades, sem distinção, ainda têm valetas e somos um dos campeões globais de falta de saneamento, existe também um outro Brasil, que vai da Avenida Paulista à Copacabana, e onde há uma riqueza que 98% da população não conhece - e nunca irá conhecer. Todos os anos no Brasil que conhecemos, 10 mil pessoas morrem de males evitáveis, que seriam facilmente prevenidos por saneamento e água tratada.
Mesmo neste cenário que não nos orgulha, o espetaculo deprimente de ver Jair Bolsonaro, o presidente, puxando o coro de "Imbrochável", diante de dezenas de milhares de pessoas, no Rio de Janeiro, foi escatológico.
Esta gente (e me refiro a Bolsonaro, suas esposas e seus filhos) não é só violenta, rude, chula e mal educada. Ela é também vulgar, grosseira, baixa, ofensiva, espalhafatosa, incauta, ignorante, perversa, e o pior, inapropriadamente abusada, porque vive, sem constrangimento algum, ostentando o que obtiveram através da política rasteira: desvios de combustíveis, propinas, rachadinhas, funcionários fantasmas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal.
Em um país que, há 200 anos, foi decretado independente pelo próprio monarca que já nos dominava, de fato, tudo é provável. D. Pedro era filho da princesa espanhola Carlota Joaquina, uma figura cruel que com dez anos ameaçava a dama de companhia se esta lhe desagradasse. O pai era D. João, um homem deprimido, que como princípe regente e rei por acaso, assumia o lugar da taciturna rainha Maria, a Louca, que poucos sabem, morreu e foi enterrada no Brasil. Pedro era absolutista como o tio, Fernando VII, tido como o pior e mais terrível monarca da Espanha, mas tornou-se constitucionalista ao perceber que ele mesmo poderia redigir a constituição.
Ou seja: o Brasil foi alicerçado em cima de absurdos. Mesmo assim, não deixa de ser ofensivo à pessoas menos desinteligentes (nós), entretanto, que no meio de tantas coisas inacreditáveis, alguém pegue 4 anos de detenção pelo furto de um celular, enquanto a Família miliciana esteja solta após adquirir 51 imóveis sem registro de transação bancária.
Foi esta família, pornográfica e escatológica, que ontem, 7 de setembro, 200 anos da Independência, enxovalhou o país diante do mundo, mais do que qualquer absurdo causado anteriormente pela Casa de Bragança. Juntos, o insuficiente intelectual e sua esposa, a completa desclassificada moral, foram saudados por um mar de aberrações - sim, porque Bolsonaro conseguiu, como ninguém, agrupar um séquito apavorante de seres deformados moralmente. O coro que a imprensa mundial não conseguiu, ou ficou constrangida em conseguir traduzir, era de "Imbrochável".
Ao lado do auto intitulado "imbrochável" Bolsonaro, estava a sua primeira dama - uma figura cada vez mais rebocada e decrépita. Os dois conseguiram, enfim, sepultar a festa da independência daquele país que D. Pedro deu um jeitinho de dominar, ao dizer que tornava livre. Imbrocháveis, como eles mesmo se definiram, na verdade o casal gozou sabendo que estava fudendo o povo.
Fabiano da Costa é professor de História, suburbano e de família de Baixa renda.