Investimento por aluno, desigual
Investimento por aluno realça desigualdade na educação
Escola privada em Minas chega a gastar por estudante até 738% mais do que o poder público
Matriculado na rede pública estadual custa 8 vezes menos do que na particular
Além dos resultados obtidos pelos alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que também diferencia as escolas públicas das privadas é o valor do investimento realizado por estudante matriculado. Na rede pública estadual, um aluno do ensino médio custa oito vezes menos do que um jovem matriculado em escolas particulares de elite de Belo Horizonte. Especialistas destacam que, se houvesse pelo menos uma distância menor nessa diferença, os resultados obtidos na aprendizagem seriam menos desiguais.
Esse baixo investimento ajuda a reforçar as desigualdades sociais que se refletem na educação e dificultam que alunos de baixa renda cheguem ao ensino superior, como está sendo mostrado na série “Educação para Todos, Futuro para Poucos”.
Em 2018, o governo de Minas Gerais gastou R$ 2,43 bilhões para atender 700 mil alunos matriculados no ensino médio na rede estadual. Fazendo os cálculos, o Estado gastou R$ 3.468 por ano com cada estudante. Já nos colégios com os melhores desempenhos nas notas médias do Enem, esse valor pode ultrapassar os R$ 29 mil, ou seja, 738% a mais que o investido pelo poder público.
O coordenador do projeto da UFMG “Pensar a Educação, Pensar o Brasil”, Luciano Mendes, destaca que esse quadro mostra que é preciso aumentar os investimentos na educação básica no país. “No Brasil, chegamos a investir, nos melhores momentos, até 6% do PIB na educação. Se pensarmos na França, que tem uma economia em valores nominais próxima da do Brasil, ela também investe 6% do PIB. A diferença é que o país europeu tem uma população bem menor do que a do Brasil. Então, o investimento per capita lá é bem mais alto do que aqui. Esse é um desafio do Brasil porque tem proporções continentais, que demandam um maior investimento para garantir uma educação melhor”, destaca.
Um exemplo de que um investimento maior traria um nível melhor de aprendizado é que os colégios técnicos, militares e de aplicação alcançam resultados positivos no Enem. Mendes destaca que um diferencial dessas unidades é uma valorização maior do professor. “Salários, carreira e condições de trabalho dos professores dessas instituições são bem melhores que nas demais escolas. Isso, aliado aos projetos de assistências dessas escolas, é fundamental para que eles tenham um resultado melhor do que o restante das escolas públicas”, disse.
Ajuda para jovens de baixa renda
No Colégio Loyola, no bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul da capital, uma ex-aluna teve a ideia de criar um cursinho para ajudar jovens de baixa renda a conseguir uma vaga no ensino superior. Assim surgiu o pré-vestibular Asia, que atende hoje cerca 50 estudantes de escola pública que se preparam para o Enem.
Todos os professores do cursinho são voluntários, muitos deles ex-alunos do Loyola. A coordenadora do curso, Viviana Moreira, explica como funciona a iniciativa: “O curso acontece na sede do colégio, que oferta toda a estrutura para a realização das aulas, que ocorrem no período noturno, de segunda a sexta-feira. Usamos muitas vezes o mesmo material didático que é adotado para os alunos do Loyola, só que com algumas adaptações para o nivelar o nível de aprendizado”.
Rita Carvalho, que faz parte da comissão do Enem do colégio, diz que o Loyola atua para que seus alunos participem de ações como essa: “A preparação vai além do desempenho no ensino didático e tem a preocupação de passar os valores nos quais o colégio acredita para que se tornem cidadãos melhores”.
Auxílio
Inclusão. Uma ex-aluna do cursinho Asia, que já se formou no ensino superior, hoje ajuda na coordenação do projeto.
Recurso para estudante em Minas cresceu 58%
De 2013 para 2018, o investimento por aluno no ensino médio na rede pública estadual de Minas cresceu 58,42%. O custo de anual de um estudante do ensino médio passou de R$ 2.189 para R$ 3.468. O número de jovens matriculados também cresceu, passando de 694 mil em 2013 para 700 mil no ano passado.
Em valores nominais, os recursos passaram de R$ 1,5 bilhão para R$ 2,43 bilhões, nesse caso um crescimento de 62%. Parte desse maior investimento se deve à valorização da carreira de professor no Estado. Em 2015, durante a gestão de Fernando Pimentel (PT), o ex-governador fez um acordo para pagar o piso nacional aos professores. Porém, a regularização durou pouco porque o Estado não aplicou o reajuste estipulado nos anos seguintes.
Diferença
Salário. Enquanto professores da rede estadual têm salários que seguem como base o piso nacional de R$ 2.557,74, nos institutos federais e colégios de aplicação há docentes que recebem até R$ 19 mil.