Leite quer salvar o IPE?

Leite quer salvar o IPE?

Leite quer mesmo salvar o IPE?

01/03/2024

30 mil: eis o número de usuários que já deixaram o IPE Saúde desde a reforma promovida pelo governo Leite no ano passado. O levantamento veio à tona esta semana, em meio à nova crise enfrentada pelo instituto, que atende cerca de 1 milhão de pessoas no Estado.

Entidades que representam os servidores públicos e parlamentares de oposição já alertavam que a entrada em vigor de novas alíquotas e da contribuição por dependentes não resolveria o problema do instituto, pelo contrário, expulsaria justamente alguns dos que mais necessitam do plano. 

As informações, obtidas pela bancada do PT na Assembleia junto ao IPE, mostram ainda que a contribuição média de titulares e pensionistas subiu de R$ 170,44, em setembro — último mês com as alíquotas antigas –, para R$ 197,60 em novembro. Já os dependentes, que não contribuíam, passaram a pagar mensalmente, em média, R$ 183,15.

A redução nos usuários inclui, além do plano Principal — composto por servidores, pensionistas e seus dependentes —, os Optantes, que são ex-servidores e dependentes que optam por permanecer no plano após a perda de vínculo direto.

Em 20 de junho do ano passado, logo após a Assembleia aprovar a reforma do IPE Saúde, Eduardo Leite fez uma publicação em suas redes sociais saudando a aprovação como uma forma de “garantir o IPE equilibrado” para “assegurar o atendimento a todos e dar condições de ampliar a qualificar a rede credenciada”.

Servidores protestam contra reforma do IPE em audiência pública realizada uma semana antes de aprovação pela Assembleia Legislativa | Foto: Joana Berwanger/Sul21

 

Oito meses depois, o almejado equilíbrio se mostra uma meta ainda distante. Parece reprise de novela, mas não é. Classe médica e federações hospitalares ameaçam outra vez suspender o atendimento pelo plano.

No início da semana, a Federação dos Hospitais (Fehosul) e a Federação Hospitais Filantrópicos do RS (Federação RS) informaram que devem descontinuar o atendimento pelo IPE com a entrada em vigor do novo modelo de remuneração para os hospitais. A partir das novas normativas, o IPE Saúde passará a ressarcir os medicamentos de acordo com o valor do princípio ativo.

A diferença do valor entre o que os hospitais recebiam e passarão a receber por medicamentos será realocada para o reajuste de serviços, aumentando em até 90% o repasse para esse tipo de contas, segundo o IPE Saúde. Mas Fehosul e Federação RS, que estimam atender 60% dos usuários do plano, afirmam que as medidas poderão reduzir em até 33% o faturamento anual, o que levaria as instituições a operarem com prejuízo.

O imbróglio não é simples. Auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) e diretor de Comunicação da União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública, Filipe Leiria pontua que, diante do desfinanciamento do órgão, hospitais e médicos vinham equilibrando a situação nos últimos anos por meio de gambiarras, como o subsídio cruzado que era pago com sobrepreço nos remédios e a cobrança “por fora” de procedimentos.

Ele avalia que é difícil prever qual a solução para a crise, mas estima que deverá resultar em elevação dos custos do plano e, como já se vê, evasão por parte dos servidores. “A massa do IPE Saúde, aproximadamente 80%, ganha até uns R$ 4 mil, a faixa etária se concentra mais em pessoas com 59 anos ou mais. Logo, baixa capacidade de pagamento e alta demanda. A sinistralidade da carteira é elevada. Em um segundo momento, no médio prazo, dado que as pessoas envelhecem e morrem, a sinistralidade da carteira tende a baixar. Talvez arrefeça um pouco a cobrança da classe médica. Ou seja, uma lógica perversa, na base da morte para equilibrar contas”, diz. 

Entidades como o Sintergs defendem há muito tempo que, se o governo enfrentasse a situação do congelamento salarial dos servidores, as contribuições aumentariam sem causar a pressão que a revisão das tarifas provocou. Leiria, no entanto, não acredita que o governador esteja disposto a aumentar gastos primários para atacar a raiz do problema.

Dado o orgulho que o governo Leite vem demonstrando de seus questionáveis superávits - obtidos às custas de privatizações, não pagamento da dívida com a União e desinvestimento em serviços públicos - não parece mesmo que esteja disposto a desembolsar recursos para, quem sabe, resolver de vez a situação do IPE Saúde. A pergunta talvez seja: o governo está falhando em salvar o plano de saúde dos servidores ou está obtendo sucesso em sucateá-lo para, quem sabe, entregar à iniciativa privada?

 

 

Nova crise do IPE Saúde confirma alertas feitos antes da reforma, dizem servidores




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