Um dia depois de anunciar que, a partir de sábado (27), todo o Rio Grande do Sul entrará em bandeira preta, o governador Eduardo Leite respondeu a uma série de perguntas feitas por representantes de entidades e pela população gaúcha. As dúvidas foram respondidas ao vivo durante o programa Gaúcha Atualidade, na manhã desta sexta (26). 

Leite reforçou que a situação pela qual o Estado passa é gravíssima, portanto, não é o momento de procurar culpados, mas, sim, de contar com a conscientização e a união da população.   O vírus está circulando como nunca. Então, já que não conseguimos parar o vírus, vamos ter que parar as pessoas de circular o máximo possível para podermos vencê-lo    alertou. 

Confira as dúvidas respondidas por Leite: 

Como a área da saúde pode contribuir no sentido de unir a sociedade gaúcha para que possamos ter um entendimento e um enfrentamento mais unido para vencer a pandemia? Nadine Clausell, diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre 

"É difícil responder quando alguém que já está contribuindo muito pergunta como pode contribuir mais. Os profissionais da saúde estão sendo muito demandados lá na ponta. Nós expandimos mais de 125% as estruturas de unidades de terapia intensiva (UTIs) e isso significa mais trabalhadores que estão se somando a esse esforço. Nosso grande esforço é justamente conseguirmos criar consciência coletiva e, para isso, é muito importante que a gente consiga traduzir isso de alguma forma.  Eu sei que a doutora Nadine, o pessoal do Clínicas e tantos outros estão fazendo esse esforço: traduzir o que está acontecendo lá dentro para a população. As pessoas que vão para as UTIs, 60% delas não voltam. Ficou se tratando sobre UTIs nesse um ano como se isso fosse a cura, mas não é assim. E nossa capacidade de expansão não é infinita. E mesmo que fosse, as tantas vidas das pessoas que fossem levadas às UTIs, 60% delas não voltaria, então, temos que traduzir isso para a população, para que entendam a gravidade do momento. Eu agradeço aos profissionais da saúde, que estão cansados, sendo super demandados, exaustos, mas que seguem fazendo sua parte enfrentando essa pandemia"

Percebemos o entendimento do governo de que o comércio não é um vetor do vírus, muito pelo contrário. Atuamos (no comércio) até mesmo como agentes fiscalizadores dos protocolos de saúde. Partindo dessa premissa, que medida podemos ter em médio prazo que auxilie esse setor já tão penalizado pela pandemia, para que retome um bom ritmo de vendas e manutenção dos empregos?
Luiz Carlos Bohn, presidente Sistema Fecomércio RS 

"As entidades têm buscado conscientizar, formar a consciência dos seus colaboradores e da sociedade de cumprir os protocolos, os cuidados, o distanciamento. Mas, neste momento, vamos precisar fazer parada mais forte. E isso não significa que o comércio seja culpado, que os restaurantes sejam culpados, que a academia seja culpada. A gente não está procurando culpados aqui. A questão objetiva é que é importante maior distanciamento. Os protocolos ajudam a reduzir os riscos, mas não eliminam eles, e um maior distanciamento aumenta essa segurança. Neste momento, vamos precisar fazer uma parada técnica para que possamos dar um golpe nessa taxa de contágio que chegou a níveis antes não vistos. É o momento mais crítico de crescimento de pandemia no Estado. Não vimos, neste um ano, essa velocidade tão forte e agressiva de internações. Os protocolos já adotados não estão sendo suficientes e aí vamos ter que fazer esses fechamentos maiores. Espero que logo ali na frente a gente possa retomar as atividades".  

Primeira pergunta é se existe possibilidade de liberação (para retorno presencial), em etapas, de todas as outras turmas do Ensino Fundamental 1, que vai até o 5º ano? E a segunda é sobre a priorização à vacinação dos nossos professores e funcionários.
Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS)

"Encaminhei um ofício ao ministro da Saúde pedindo que, pelo menos, os funcionários e professores do grupo de risco, acima de 60 anos ou com comorbidades, possam ser priorizados desde já. Temos que cumprir o que foi determinado pelo Programa Nacional de Imunização, então, é importante que a gente tenha a liberação, ao menos, desses grupos.  

Sobre o retorno das séries, é dentro do protocolo de distanciamento. Quando sairmos da bandeira preta, permitir que voltem outras etapas do ensino. Neste momento, entendemos que apenas a Educação Infantil e a alfabetização, 1º e 2º anos, vão ser permitidas mesmo na bandeira preta, mas as demais, só quando voltarmos à bandeira vermelha". 

Está bastante claro que não chegamos ao pico da pandemia e a situação ainda vai piorar. Em menos de duas semanas, começam as aulas na rede estadual. Permitir a abertura de escolas mesmo em bandeira preta sem limite de alunos em sala, sem previsão de vacina para os professores, sem política de testagem e sem sequer contabilizar e divulgar os casos de covid-19 na rede estadual, não é uma grande omissão com a vida de educadores, alunos e suas famílias?
Helenir Schürer, presidente do Cpers 

"Temos buscado o diálogo com o sindicato no sentido de podermos ter um retorno seguro e tranquilo, o que é importante para as famílias e para o Rio Grande no presente e no futuro. 

No presente, é importante pelo desenvolvimento individual dos alunos. Sua formação cognitiva, como cidadão. Suas habilidades dependem dessa transmissão de conhecimento, que é feita na escola. É importante também como saúde. A escola é o grande braço do poder público para acompanhar casos de subnutrição, violência doméstica, agressão e abuso. Por isso que a gente insiste na retomada presencial, mas importante dizer que a retomada só se dará se sairmos da bandeira preta.  

Importante dizer que o distanciamento na sala de aula está garantido. A regra era 1m50cm de distância e até o máximo de metade da turma.  Tiramos a limitação das turmas. A regra do distanciamento permanece. Se a sala não comportar o distanciamento, pode ter até menos de metade da turma. Temos buscado a garantia de segurança para todos e a vacina para os professores". 

Você acredita que pacientes que vieram de Manaus que trouxeram a cepa mais agressiva para o Estado ou foi o turismo?
Gabriel, de Caxias do Sul 

"Esse momento é menos de achar culpados e mais de reconhecer a gravidade da situação, e pedir que as pessoas mantenham o distanciamento. Em geral, os ataques, as críticas que se fazem buscando culpados são daqueles que querem confundir, gerar instabilidade. A questão dos pacientes que vieram de fora foi um pedido do próprio Ministério da Saúde, se não eles morreriam sufocados, sem oxigênio, sem estrutura naquele Estado. É importante receber esses pacientes com todos os cuidados para evitar contatos que pudessem significar contágio. Todo cuidado foi feito no transporte desses pacientes, em um dever de solidariedade, de humanidade, para não vermos irmão brasileiros morrendo. No geral, quem levanta esse tema são os que negam a importância do distanciamento. São os que dizem: "Ah, o governador quer distanciamento e trouxe pacientes de fora". É no mínimo curioso os que negam a importância do distanciamento queiram manter pacientes de fora distante. Nessa hora, o distanciamento vale". 

Por que, neste momento em que os hospitais estão sobrecarregados, não temos hospitais de campanha?
Ana Paula Garcia, de Porto Alegre 

"Os hospitais estão sobrecarregados, especialmente, nos leitos de UTI, e os hospitais de campanha não são de UTI. São leitos clínicos, nos quais o Estado tem estrutura. Tínhamos até o início de fevereiro, 20% de ocupação. É verdade que houve um salto na ocupação nos clínicos. Saiu de 20% para mais de 50% em pouco mais de 15 dias. Mas não entendemos que seja nesse momento de hospitais de campanha. Grande problema é que parte desses pacientes agrava e vai para leitos de UTI. Aí precisa de toda uma estrutura mais robusta, não só física, mas principalmente de equipe especializada. Esses recursos humanos são escassos". 

Por que o governador não fez o trancamento no Carnaval?
Carlos, de Porto Alegre 

"Observamos que a curva começou a se inclinar antes do Carnaval. Não sabíamos se era alarme falso ou não, mas fizemos um trabalho no Carnaval para evitar aglomerações, mas, claro, o Estado não consegue estar em todos os lugares. Não é o Carnaval o culpado por essa situação. As internações desse período não foram de pessoas contaminadas no Carnaval, foram pessoas que se agravaram no Carnaval. Tomamos os protocolos restritivos, orientando a população e, agora, fomos acompanhando essa evolução e mediante a compreensão da sociedade de que era importante uma parada maior, estabelecemos esse decreto. 

Aliás, muita gente acha que governador resolve em um decreto, e não é assim. O poder do governador não é do tamanho que as pessoas imaginam. Se não houver consciência coletiva, não é a caneta do governador que vai fazer o distanciamento funcionar. Se houver consciência coletiva da importância de pararmos por um período as atividades, nós vamos vencer essa etapa. Se não houver isso, não adianta o decreto do governador. Tem que haver engajamento". 

Qual a situação da negociação com a Pfizer para a compra de vacinas? E sobre os testes? Soube que tem testes parados, por que não distribuir?
Felipe, de São Leopoldo

"Há distribuição do teste RT-PCR, observamos, inclusive, uma demanda menor por eles em janeiro. Sobre a vacina, buscamos a Pfizer, a Janssen, a União Química. Estamos procurando em todas as frentes. Estamos na etapa de buscar a efetiva disponibilidade deles. Estamos em tratativas, mas as farmacêuticas pedem que a gente não traga a público o estágio da negociação. O governo está buscando diretamente essas vacinas e em consórcio pelo Fórum dos Governadores". 

Existem pessoas circulando perguntas e questionamentos sobre os bilhões enviados para os Estados pelo governo federal. Você poderia responder onde foi parar essa verba? Antônio, de Porto Alegre 

"Tem muitas fake news, muito ataque, muita gente querendo confusão. Parte do recurso foi para a saúde. Todo o recurso para covid-19 foi utilizado para a covid-19. Outra parte foi para sustentar as atividades básicas dos Estados porque a arrecadação ia cair. Não teríamos como pagar os serviços essenciais da população, como segurança, os próprios hospitais, os professores, a sustentação da atividade da máquina pública. Foi dinheiro para a covid-19 e para a sustentação das atividades básicas. Todo o dinheiro da covid-19 foi para a covid-19, integralmente. E o que veio para compensar a perda de arrecadação foi usado no que seria usado pela própria arrecadação".

Como ficam as pet shops e clínicas veterinárias na bandeira preta?
Lucas, de Farroupilha

Pet shop não pode abrir. Clínicas veterinárias podem com 50% dos trabalhadores. 

Caso não diminuam os números, quais medidas o governo pretende adotar?
Rafael Menezes, São Pedro do Sul

"Nossa intenção é dar um golpe na taxa de contágio, uma "pancada" nela, que está muito elevada. Se conseguirmos observar que houve adesão da população para restringir circulação, a gente pode, no final da próxima semana, considerar a hipótese de uma medida menos restritiva para a semana seguinte. Seria precipitado adiantar qual medida virá logo em seguida. Mas posso assegurar que tenho consciência do impacto que isso tem na vida das pessoas, na economia das famílias, na sua renda. Sabemos que a medida é ruim, gera ansiedade, angústia, e que não tem como durar muito tempo. Mas é importante que tenha adesão de todos agora para que a gente possa dar um passo com segurança depois em uma medida menos restritiva. Essa é minha vontade. É tudo o que eu quero: voltar ao máximo próximo da normalidade". 

Como fica o retorno às aulas previsto para 8 de março (na rede estadual)?
Simone, de Novo Hamburgo 

"O retorno acontecerá dentro do protocolo. Se estivermos em bandeira preta, não haverá retorno porque teremos que manter o distanciamento em um patamar elevado e vamos deixar apenas os 1º e 2º anos e Educação Infantil retornarem. As demais terão que fazer o retorno remotamente, nas plataformas que o governo do Estado disponibiliza. O Estado comprou 50 mil notebooks para os professores. Temos a disponibilidade da rede de internet. Sabemos que nem todos têm os dispositivos, não dá para apostar que só aula remota vá resolver, por isso a gente insiste no retorno presencial na modalidade híbrida, mas se estivermos em bandeira preta, séries subsequentes ao 1º e ao 2º ano não vão voltar". 

 

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