Mães CID

Mães CID

Sobre as mães CID

Adorava as tardes em que passava a história de El Cid na tv. Era com Charlton Heston e Sophia Loren. Um filme de grandes batalhas, sangue, espadas, amor não correspondido, enfim, a gente “ganhava a tarde”! Uma novela inteira editada em algumas horas. A cena de El Cid amarrado morto ao cavalo e, mesmo assim, derrotando seus inimigos pelo que ele representava é de arrepiar!

Nas aulas de Psicologia conheci um outro CID, o livro de Classificação Internacional de Doenças. Um X número de características dá, como resultado, um diagnóstico e, consequentemente, um código que é inserido nos atestados médicos, nos laudos encaminhados para as escolas e, para melhor comunicação entre os profissionais da saúde.

Junto com o laudo vem uma criança e, uma mãe. Vou chamar aqui de mãe CID. Ao falar “mãe CID” não quero fazer referência a uma única categoria (mães de crianças do espectro autista, mães de crianças com baixa visão, mães de crianças com TDAH.....). Quero falar de todas as mães que conhecem a responsabilidade desse código. Além disso, não quero falar sob o ponto de vista médico. Uso CID porque mães CID são tão resignadas como El Cid, usam armaduras e espadas e enfrentam, muitas vezes, ambientes tão inóspitos e ameaçadores como a Espanha que Rodrigo Díaz de Vivar cavalgava.

Conheci as mães Cid ainda na faculdade: nos estágios, nas observações e, depois, passei a conviver mais com as mães como professora. Falo as mães Cid porque raramente você verá um pai Cid, encontramos muitas famílias Cid, mas, a grande maioria é de mães Cid.

As mães Cid estão sempre em percurso: estão indo para as terapias, estão indo para as consultas, estão indo para o trabalho, estão indo para a escola. As mães Cid estão sempre madrugando: vão para as filas do SUS, do CAPS, dos Centros de atendimento, sejam quais forem, em busca de respostas, de melhores condições de estudo e de vida para suas crias.

As mães Cid criam redes de apoio nas salas de espera: trocam receitas de comidas, sugestões de medicações, nomes de médicos, conselhos amorosos, dicas de novas terapias, pontos de tricô....

Enquanto esperam as terapias terminarem as mães Cid aproveitam, também, para estudar e trabalhar. Correm muito contra a máquina para não serem discriminadas pelos empregadores, para não serem preteridas nos convites para reuniões, eventos e festas.

As mães Cid brigam com os médicos e fazem as pazes, discutem de igual para igual com eles e piram quando as respostas para suas perguntas não chegam no prazo esperado.

As mães Cid podem perguntar para outra mãe Cid, sem ofender, “o que é que ele tem”? Mas, não suportam essa pergunta vinda de mães “não Cid”.

As mães Cid não são melhores que outras mães, porque cada mãe sabe das idiossincrasias de suas crias. Mas, em tempos de pandemia as mães Cid podem estar muito vulneráveis. As terapias não estão acontecendo e, nem as aulas, nas quais as crianças podem interagir com outras crianças. E, também, a rede de apoio pode não estar funcionando. As mães Cid podem estar muito cansadas.

Se você conhece uma mãe Cid, entra em contato, conta uma piada, manda um bolo. Se você não conhece, assiste alguma das lives sobre inclusão que estão acontecendo. Você vai entender um pouco mais sobre uma bolha diferente. E, por favor, nunca, nunca mesmo, dirija um olhar de pena para uma mãe Cid e sua cria, pois ela pode enfiar uma espada na sua garganta. As mães Cid têm muito orgulho de suas conquistas.

Abraços virtuais! Para todas as mães!

Tatiana Lebedeff

 

https://www.facebook.com/tatiana.lebedeff 




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