Magistério estadual congelado

Magistério estadual congelado

Magistério estadual congelado

Sem aumento salarial há sete anos

Juremir Machado   09/08/2021 

 

Velhas imagens para eternos problemas. O que é o magistério estadual na expectativa da sociedade? Tudo. O que ele parece ser do ponto de vista oficial com sete anos de salário congelado e inflação acumulada no período de 45%? Nada. O que ele pode vir a ser? Alguma coisa. Se tiver um aumento que lhe permita parar de sangrar e de perder seu poder de compra. O que é o professor na perspectiva dos pais e do futuro dos alunos? Tudo. O que tem sido o docente com o seu meio de subsistência mantido no freezer governamental durante 70% de uma década? Nada. O que ainda pode vir a ser se alguma esperança lhe for dada? Tudo. O que se espera do professor? Tudo. Que seja culto, inteligente, competente, resiliente (não pode faltar palavra da moda), afável, gentil, otimista, perseverante, meio pai de substituição, meio psicólogo, enfermeiro, consultor, amigo, formador.

    O que se tem oferecido de estímulo a esse herói do cotidiano, esse lutador das manhãs frias e cinzentas, dos dias quentes e sufocantes, dos ônibus lotados, do poder aquisitivo limitado, das contas pendentes e das tarefas intermináveis? Nada. O que se deveria conceder imediatamente para arrancá-lo da situação desesperadora em que se encontra? Alguma coisa. O que foi o frio de alguns dias atrás perto do congelamento dos proventos dos professores da rede estadual desde 2014? Nada. Quase um veranico. O que pode significar para um mestre manter a sua capacidade de comprar o indispensável para se manter? Tudo. Absolutamente tudo. O que sinaliza a autoridade quando deixa o tempo passar sem repor as perdas daqueles a quem pede tudo? Sinaliza que essas podem esperar, de preferência em silêncio.

    O Terceiro Estado, segundo Sieyes, era tudo, embora tratado como nada, podendo vir a ser alguma coisa. Que estado é o magistério na ordem das prioridades da sociedade que nele deposita tantas fichas e dele tanto cobra? Quarto, quinto, centésimo? Como se sente o jovem quando se torna, cheio de ideais, professor? Tudo. Como se sente depois, hoje, a cada dia vendo o seu dinheiro se desintegrar, trazendo para casa sempre menos itens dos supermercados da vida, pedindo ajuda a familiares e amigos para enfrentar cada final de mês? Nada. O que ele quer? Ser alguma coisa. O que diz o senso comum sobre a situação dos professores? Eles são muitos. Não podem voar. É tudo. Repor a inflação seria demais? Nada disso. Seria alguma coisa, um direito, um respeito, um pouco de dignidade e acerto.

    Todos os dias eles fazem tudo certo, acordam cedo, estudam, ensinam, aprendem, trabalham, ajudam, consolam, lutam, sonham, sofrem e não recebem o que merecem. Na olimpíada da vida, competem apaixonadamente, mas não são recebidos no pódio nem cobertos de medalhas. Certamente que, em meio à luta renhida, pensam: o que somos mesmo? Tudo. O que temos sido agora? Nada. O que podemos ser em breve? Alguma coisa. Ao menos, alguma coisa que permita se manter firme para fazer TUDO de novo. E alguém pergunta: o que foi? Nada. O que é isso no olho? Alguma coisa. Um cisco. Isso, um cisco.

 
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