Manutenção do discurso pró-Israel

Manutenção do discurso pró-Israel

A manutenção do discurso pró-Israel pela grande mídia brasileira é conivente com o massacre palestino

Não se trata apenas de narrativas em farsa, mas de posições que se materializam em tragédia. É preciso encarar a questão como ela é: o discurso pró-Israel da grande mídia brasileira é conivente com o massacre palestino.

Elisa Campos   Filosofia - UFMG    quarta-feira 18 de outubro 

 

FOTO: Ahmed Hijazy / Pacific Press / Getty Images

 

No discurso da grande mídia brasileira, da TV aos rádios e imprensa escrita, as notícias sobre o conflito entre Israel e Palestina tem sempre seu próprio peso e medida. O tom da voz empostada ou dos fatos com F maiúsculo e ponto final falseiam a suposta neutralidade jornalística, mas os próprios termos utilizados denunciam a hegemônica posição pró-Israel nos maiores veículos de comunicação do país.

De um lado, os “terroristas do Hamas”; do outro, “Israel e seus altos valores compartilhados com a democracia dos EUA”. Entre um e outro, o povo palestino e o povo judeu só ganham espaço como álibis morais, desde a grotesca animalização dos palestinos naturalizada pela ofensiva de Israel, até a confusão deliberada em acusar os contrários ao sionismo por promover antissemitismo contra os judeus. Tudo temperado com a associação superficial do conflito político a uma guerra religiosa de fundamentos imbatíveis e impossíveis de conciliação entre os povos.

Obviamente não é do mínimo bom senso compactuar com a estratégia do Hamas para defender o direito à resistência e autodeterminação palestina contra o Apartheid mantido por Israel. Entretanto, é chamativa a constante divulgação da grande mídia dos métodos abusivos de Hamas contra civis israelenses, com relatos minuciosos sobre os sequestros e assassinatos promovidos por este grupo teocrático e patriarcal, em desproporção aos 75 anos de ofensiva imperialista de Israel contra o território palestino e os atuais crimes na guerra declarada à Faixa de Gaza.

Não é a mesma atenção que a grande mídia oferece aos detalhes horripilantes do cerco total de Gaza, declarado pelo ministro da Defesa israelense Yoav Gallant, com a suspensão dos serviços básicos de água, eletricidade, comida e gás para 2 milhões de pessoas presas a céu aberto. Nem o uso de fósforo branco como arma química banida internacionalmente, mas usada pelas forças israelenses em Al Karama. Aliás, atenção esta que jamais foi oferecida nas últimas décadas de opressão ao povo palestino em que estes e outros crimes de Israel se repetiram.

O mais recente e absurdo malabarismo da grande mídia vem do bombardeio ao Hospital Batista Al-Ahli Al-Arabi, na região de Al-Zaytoun, que assassinou mais de 500 palestinos, incluindo crianças, civis que buscaram o local como refúgio dos ataques israelenses, e trabalhadores da saúde que se desdobram para dar conta da grave crise humanitária causada pela limpeza étnica levada adiante pelo Estado de Israel. Frente ao repúdio generalizado a um crime desta natureza, o Ministério da Defesa israelense prontamente recorreu à famigerada tentativa de culpar os próprios palestinos por sua desgraça, publicando um vídeo que dizia comprovar a autoria do atentado à Jihad Islâmica.

Enquanto o veículo de mídia Al Jazeera e vários jornalistas pelo mundo, incluindo Aric Toler da equipe de investigações visuais do New York Times, alertavam que o horário do vídeo nas contas oficiais israelenses aparecia como 40 minutos após a explosão do hospital, o que levou inclusive a que fosse excluído pelo próprio Estado de Israel, toda a grande mídia brasileira, Globo, Estadão, Folha de São Paulo, entre outros, reverberavam as declarações israelenses e o apoio de Biden a elas.

Em todas as capas dos grandes jornais desta quarta (18) se estampou a declaração de Biden ao chegar em Tel Aviv: “Com base no que eu vi, parece que foi causada pelo outro lado”, se referindo à explosão do hospital. Ora, quem são os jornalistas especializados em investigações visuais perto da aguçada visão de Joe Biden, não é mesmo? Quase remete ao “Não tenho provas, mas tenho convicção” a la Lava Jato, que aliás esta mesma mídia também apoiou com mérito para se alinhar aos interesses do golpe institucional de 2016 no Brasil. Não seria uma coincidência, de fato, perceber como a construção de narrativa da imprensa burguesa brasileira em diversas circunstâncias é atravessada pelo laço que possui com o imperialismo estadunidense.

O problema é que não se trata apenas de narrativas em farsa, mas de posições que se materializam em tragédia. É preciso encarar a questão como ela é: o discurso pró-Israel da grande mídia brasileira é conivente com o massacre palestino. Bem como também é a falsa neutralidade de Lula, cuja defesa abstrata da “paz e das crianças” - aliada a concretamente pouquíssimo responsabilizar Israel no conflito - já foi rechaçada pelos EUA na ONU. Enquanto o governo brasileiro não romper todas as relações diplomáticas e militares com Israel terá também suas mãos sujas pelo massacre ao povo palestino, televisionado e naturalizado pela mídia.


FONTE:

https://esquerdadiario.com.br/A-manutencao-do-discurso-pro-Israel-pela-grande-midia-brasileira-e-conivente-com-o-massacre?fbclid=IwAR0oVEInljpIfBmtEMEIgV4pgeHLfI3sVztgiCsXdwuqu8HgK4y2CcmOoro 

 

 




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