MBL censura o padre Júlio Lancellotti
Exclusivo: MBL está por trás da censura ao padre Júlio Lancellotti
Publicado por Thiago Suman
Atualizado em 17 de dezembro de 2025
A censura imposta pela Arquidiocese de São Paulo ao padre Júlio Lancellotti não pode ser compreendida sem olhar para o papel desempenhado por influenciadores da extrema direita católica, que transformaram o sacerdote em alvo permanente. Entre eles, destaca-se Miguel Kazam, ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre) e com mais de 100 mil seguidores, que há meses conduz uma campanha sistemática de ataques ao religioso e de pressão pública sobre a Igreja.
Kazam construiu sua relevância digital explorando o conflito. Em vídeos e postagens, ele associa a atuação pastoral de Lancellotti a supostos desvios morais e ideológicos, misturando críticas religiosas com narrativas políticas típicas da guerra cultural. O episódio envolvendo o curta-metragem “São Marino” virou combustível central dessa estratégia. Ao atacar a participação do padre na narração da obra, Kazam passou a sustentar que Lancellotti promoveria uma agenda “trans” dentro da Igreja.
A ofensiva não se limitou às redes sociais. O influenciador admite ter preparado e enviado um dossiê com denúncias à Arquidiocese de São Paulo e ao Vaticano, com apoio de um advogado ligado a extrema direita católica.
As acusações são graves — suposto envolvimento com menor, extorsão e chantagens —, embora investigações conduzidas pela Justiça paulista, pelo Ministério Público e pela própria Arquidiocese tenham sido arquivadas por ausência de materialidade. Ainda assim, Kazam segue tratando insinuações como se fossem fatos consumados, reforçando um ambiente de linchamento moral.
Ao mesmo tempo, o discurso de Kazam busca se blindar sob a narrativa de vítima. Após publicar vídeos críticos, ele afirmou ter sido alvo de “assédio judicial” por parte de um suposto assessor de Lancellotti, episódio que passou a ser explorado como prova de uma alegada proteção institucional ao padre. A estratégia é conhecida: inverter papéis, apresentar-se como perseguido e usar isso para legitimar ataques ainda mais agressivos, sem assumir responsabilidade pelo impacto das acusações lançadas.
O resultado dessa campanha foi a contaminação do debate público dentro e fora da Igreja. Parlamentares da direita passaram a ecoar o conteúdo produzido nas redes, como no caso do pedido de CPI apresentado pelo vereador Rubinho Nunes, que tentou investigar Lancellotti e organizações que atuam com a população em situação de rua. A iniciativa naufragou quando vereadores retiraram apoio, alegando terem sido enganados. Ainda assim, o estrago político já estava feito.
A decisão de Dom Odilo Scherer de restringir a atuação digital de Lancellotti surge nesse ambiente de pressão fabricada. Não é um gesto isolado de prudência institucional, mas uma resposta a uma ofensiva coordenada que transformou o padre em problema administrativo para a Arquidiocese. Kazam e outros influenciadores conseguiram empurrar a hierarquia para uma posição defensiva, na qual silenciar o alvo pareceu mais fácil do que enfrentar publicamente a máquina de difamação.
São Marino
O curta-metragem “São Marino”, dirigido por Leide Jacob e narrado pelo padre Júlio Lancellotti, estreou em 2022 e voltou a circular nas redes com anúncio de exibição no YouTube no último 1º de novembro, Dia de Todos os Santos.
A obra se apresenta como uma releitura contemporânea da história de Santa Marina, defendendo a interpretação de que a santa deveria ser reconhecida como São Marino por ser uma pessoa transmasculina.
Na narração, o padre Júlio Lancellotti, pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Mooca, e vigário da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, afirma que “Marino foi canonizado como Santa Marina”. Ao final do trailer, os realizadores informam que o filme teria como base a história considerada “oficial”, divulgada no site da Arquidiocese de São Paulo e no canal Christian Youth Channel.
A narrativa apresentada pelo curta, no entanto, contrasta com a tradição cristã oriental e ocidental sobre Santa Marina, também conhecida como São Marino. Segundo os relatos hagiográficos.
Com encenações de Ariel Nobre, narração de Júlio Lancellotti e participações de Daniel Veiga, Gabriel Lodi, Leo Moreira Sá, Omo Afefe e Rosa Caldeira, o filme propõe reflexões atuais, como o debate sobre o respeito ao nome social, ressignificando a figura da santa como santo. Dirigido por Leide Jacob e produzido por Paula Pripas, da Filmes de Abril, o curta tem roteiro de Cesar Sandoval Moreira Jr., Fabiana Kelly e do próprio diretor.
O projeto recebeu o Prêmio de Incentivo à Produção de Curta-Metragem (ProAC 30/2020), do governo do Estado de São Paulo, e estreou no 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em novembro de 2022. Desde então, o filme circulou por diversas mostras e festivais no país.
A história de Santa Marina
Marina viveu entre os séculos V e VI, na região do atual Líbano. Após a morte da mãe, ela teria acompanhado o pai, Eugênio, em sua entrada em um mosteiro, passando a viver como monge sob o nome de Marino e ocultando sua identidade feminina como forma de viabilizar a vida monástica.
Ainda de acordo com a tradição, Marina foi injustamente acusada de engravidar uma jovem da região. Mesmo inocente, não se defendeu, aceitou a acusação, foi expulsa do mosteiro e passou anos vivendo em extrema pobreza, cuidando da criança que lhe foi atribuída. Apenas após sua morte os monges teriam descoberto que ela era biologicamente mulher, reconhecendo sua inocência e passando a venerá-la como exemplo de humildade, penitência, silêncio e santidade.
Na interpretação tradicional da Igreja Católica, não há o entendimento de Santa Marina como uma pessoa trans. O uso de vestes masculinas é visto como uma estratégia de ascese e sobrevivência em um contexto religioso restritivo às mulheres, e não como uma afirmação de identidade de gênero nos moldes contemporâneos.
Jornalista com atuação em rádio, TV, impresso e online. É correspondente do Daily Mail, da Inglaterra, apresentador do DCMTV e professor de filosofia e sociologia, além de roteirista de cinema e compositor musical premiado em festivais no Brasil e no mundo
FONTE:
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Excelente texto !
"Por mais que hoje eu não seja cristão, tive uma educação católica e cresci acreditando em duas mentiras:
1) que o presidente que acabasse com a fome no Brasil seria adorado e glorificado;
2) que pessoas que ajudam os pobres teriam sempre respeito e apoio da sociedade.
Obviamente que errei nas duas crenças. Lula acabou com a fome, foi preso, conseguiram fazer a fome voltar e mesmo com seu retorno ao governo não há sequer um pequeno reconhecimento de boa parte da elite e da sociedade por isso.
O outro caso é o do padre Júlio Lancelot. Sério, não consigo imaginar porque perseguem tanto um homem que dedica sua vida a atender às pessoas que ninguém olha. Eu não seria capaz de fazer o que o padre Júlio faz. Por isso, vejo nele uma pessoa necessária para tornar o Brasil melhor.
Só que há duas coisas que mudaram no Brasil. Uma que foi o surgimento desse discurso de extrema direita que criminaliza a pobreza e que ataca quem faz alguma coisa para atenua-la. Dois, o crescimento da teologia da "prosperidade" dos evangélicos neopentecas que mistura o discurso neoliberal meritocrático com o de coachings de fundo de quintal, tratando quem está na pobreza como culpado pela situação.
Em resumo, o cristianismo da extrema direita e dos neopentecas não passa de um cristianismo de fachada. Lula e o padre Júlio são exemplos diferentes de cristãos. Claro que ninguém é perfeito. Mas a coerência com a fé que alguém segue é fundamental.
E aí pergunto. Se Jesus vivesse hoje em dia, ele frequentaria o "templo de Salomão" onde tiram até a casa das pessoas ou os becos escuros de São Paulo onde falta absolutamente tudo e em vez de tirar das pessoas, lhes é dado?" ( Thomas de Toledo )
"Seguinte. Parece que tem sujeira da grossa no afastamento de Pe. Júlio. Um incell canalha, do partido da papula lotada em Minas, deputado federal Junio Amaral, enviou supostos "documentos" e abaixo-assinado ao Vaticano, acusando Pe. Júlio de crimes sexuais. Ele e a fascista mulher dele fizeram aquele combo que a gente conhece, pegaram o material falso que o mbl montou (lembram?), com assinaturas pedindo a expulsão de Pe. Júlio.
Dom Odílio disse que o afastamento do Padre é para poupá-lo. Na verdade, a igreja, acovardada, optou por aderir ao fascismo e silenciar o padre com base em material espúrio.
A extrema direita está comemorando porque odeia cristão, pobre, ter compaixão. Pe. Júlio deve ter sido orientado a acatar a decisão porque poderia ser pior para ele com esse papa que, de leão, só tem a vaidade, é o oposto do Papa Francisco.
A gente precisava de alguém para escarafunchar a vida desse deputado porque ele é aquele combo completo: deus, pátria, família. É milico, bozofascista."
(Por Palas Atena - Via João Lopes)
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