MEC: mais do mesmo

MEC: mais do mesmo

MEC: mais do mesmo (ampliado)

Que Velez estava “fazendo hora extra” no MEC, já se sabia. A demora em demiti-lo se deu em função da busca de um novo nome para o Ministério da Educação. Não era uma tarefa fácil dada a existência de uma coalizão conservadora/neoliberal que perpassa todo o governo. Vários nomes foram indicados e até mesmo o nome de Mozart voltou a ser sugerido nos bastidores, o que confere com a intensa agenda que este teve nos últimos dias com participação no programa Roda Viva e entrevistas, em uma das quais disse ser um “soldado da educação brasileira”, quando indagaram se aceitaria ir para o MEC no governo Bolsonaro.

Novamente o governo desperdiçou a possibilidade de pacificar o MEC pelo menos com a área liberal da educação. Mas Bolsonaro não quer mesmo isso, pois considera, como já disse anteriormente, que esta é uma área contaminada pelo marxismo cultural.

O novo ministro é, e não é, mais do mesmo. Por um lado, é seguidor de Olavo de Carvalho como o anterior. Diz o novo ministro que para se combater o marxismo cultural é preciso “humor e inteligência”.  Ou seja, a hipocrisia e a ironia vão aumentar.

Por outro lado, o novo ministro é mais do que conservador. Ele vem da área econômica e tem experiência na lógica operativa do neoliberalismo. Foi diretor estatutário do Banco Votorantim, CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities nos Estados Unidos e na Inglaterra. Dessa forma, é um nome que reúne as teses conservadoras e a lógica da privatização e da concorrência.

Com Velez argumentávamos que deveriam existir duas etapas no MEC: uma conservadora e outra neoliberal, pois ele só teria condição de conduzir a agenda conservadora. Com o novo ministro ganha-se a possibilidade de fazer as duas agendas seja de forma simultânea, seja em série – na dependência das prioridades do plano geral de privatização do governo, com sede na área do Ministério da Economia.

No momento, a prioridade é com a agenda conservadora e a recuperação da capacidade de gestão do MEC. Os ex-alunos e olavetes que foram retirados do MEC na gestão Velez, tendem a ser recolocados no órgão. Há quem diga que isso fez parte do acordo. O diferencial nesta fase, em relação a Velez, é que ela será feita com mais gestão – eliminando os problemas recorrentes que criaram situações embaraçosas para o governo até agora.

O número dois do MEC, seu secretário executivo, já está definido no próprio acordo: será Eduardo de Melo e ele tem trânsito com os evangélicos, tem formação na área militar e tem o apoio de Olavo de Carvalho. Com isso, tenta-se apaziguar as outras correntes do MEC: evangélicos e militares e criar algum tipo de armistício entre estas forças. Mas, detalhe, Eduardo também tem interface com a iniciativa privada.

O conjunto de forças que emerge desta alteração, reforça a ideia de que se mantém a agenda conservadora e desloca-se para o órgão um pessoal que tem condições também para a fase neoliberal de privatização, sob a batuta de Paulo Guedes do Ministério da Economia.

Mas, mais importante ainda, é que a vivência dos novos ocupantes na iniciativa privada permitiu a eles desenvolver uma compreensão da lógica de funcionamento neoliberalComo diz Marilena Chauí, o neoliberalismo não é só uma questão que se explica pelo regime acelerado de financeirização, mas ele é, em si, um padrão sócio-político.

Neste sentido, o alto comando do MEC tem agora pessoas que podem orientar o órgão, por um lado, pelas teses conservadoras e, por outra, na lógica operativa do padrão sócio-político do neoliberalismo. Pode, portanto, destruir o MEC como instituição social que é, e transformá-lo em uma “organização empresarial”. Por tanto, não é apenas mais do mesmo, mas é mais do mesmo ampliado no contexto de uma coalizão conservadora-neoliberal.

Resta saber como vão se comportar os liberais de raiz. Estes, embora concordem com a agenda econômica neoliberal, têm divergências com os conservadores e neoliberais ligadas à preservação da democracia liberal representativa. Tudo vai depender de como o novo ministro caminhe no combate ao marxismo cultural e na intensidade da privatização.

Se tal combate for tolerável, os liberais de raiz apoiarão o novo ministro “em nome do Brasil”, “em nome da educação brasileira”, em nome de que “não podemos torcer para dar errado”. Principalmente se as propostas que vinham sendo executadas no governo Temer forem mantidas e desenvolvidas.

Devemos agora aguardar pelas mudanças nos postos do MEC que poderão ocorrer nos próximos dias e as primeiras ações do novo ministro.

 

https://avaliacaoeducacional.com/2019/04/08/mec-mais-do-mesmo-ampliado/ 




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