Métodos não tradicionais

Métodos não tradicionais

Escolas de SP se reinventam com base em métodos não tradicionais

Saem o currículo engessado e o formato conhecido de aula e entra a autonomia do aluno. Os efeitos foram imediatos: os estudantes passaram a ter prazer de ir à escola e a valorizar o aprendizado. Ouça o quarto capítulo da série ''Desafios do próximo governo - São Paulo' sobre educação.

Jovens devem debater política e outros assuntos sociais nas escolas. Foto: Divulgação/Governo federal (Crédito: )

Jovens devem debater política e outros assuntos sociais nas escolas. Foto: Divulgação/Governo federal

POR GUILHERME BALZA (guilherme.balza@cbn.com.br)

A luta da comunidade do pequeno distrito de Mailasky, em São Roque, pra ter uma escola durou dez anos. Ela foi concluída em 2014 e inaugurada às pressas sem sala de informática, biblioteca e com problemas na construção.

O geógrafo e linguista João Paulo Jeannine se formou na USP. Fez mestrado e doutorado. Estudou em Paris e viveu com índios em Roraima. Por vocação, queria voltar pra sala de aula. Acabou na Escola Estadual do Distrito de Mailasky.

João seguia à risca o material do governo, mas algo estava errado: 90% dos alunos tiravam nota vermelha e não aprendiam nada. 

"É quase um adestramento. A gente está formando um bando de copista, na verdade. Ninguém está pensando, ninguém está refletindo. Está apenas copiando. Aí o professor pega os cadernos preenchidos, dá um visto e pronto. Acabou. É assim que é feito", conta João. 

Ele decidiu se juntar com três professoras e adotar um novo método, baseado na autonomia e interdisciplinariedade. Cada aluno deveria escolher um assunto e associá-lo a itens do currículo e a questões do vestibular. A partir daí, tinham que fazer pesquisas e produzir textos. As decisões eram tomadas em assembleias. As aulas eram dadas em círculos. O projeto foi batizado de Escola do Pontilhão, porque inspirou-se na Escola da Ponte, de Portugal.

Deu certo. Alunos começaram a entrar em universidades públicas, fato inédito por ali. Um deles foi Ruan Serafim da Silva, que passou em Biologia na Unesp:

"Eu não sabia porque tinha que ir na escola. Não sabia para o que servia a escola. As aulas tradicionais, pra mim, sempre foi algo muito dificultoso. Sempre fui um aluno muito difícil. Inclusive os professores que me davam aula não acreditam quando eu falo que entrei em uma universidade pública porque eu dava muito trabalho". 

Em 2015, o MEC reconheceu o projeto como uma das 178 iniciativas inovadoras no país. Apenas três escolas estaduais de São Paulo foram escolhidas. Apesar do resultado, a iniciativa foi suspensa porque desagradava a direção da escola. O projeto só foi retomado agora com um novo diretor simpático à ideia.

"Eu, professor, doutor, pela USP, ganho R$ 1.100 reais para trabalhar, para me dedicar 30 horas por semana à escola. A grana que é gasta com esses caderninhos, que não dialogam com os livros didáticos que vêm do Ministério da Educação. É um sistema que não é feito para funcionar para os professores, nem para aquela comunidade", afirma o professor João Paulo Jeannine.

Toda sexta-feira à noite, a Escola Estadual Ítalo Betarello, no Jaraguá, periferia de São Paulo, ficava às moscas. Dos 300 alunos do noturno, uns 30 apareciam nas aulas. Os bares, as festas, a rua atraíam mais. 

Em 2012, o diretor Ariovaldo Guinther reuniu os professores e pediu a cada que um propusesse algo diferente às sextas. Saíram as aulas tradicionais e entraram cursos práticos de pintura em tela, gastronomia, coral, robótica e dança, entre outros.

A evasão despencou. Os alunos pararam de depredar o colégio. Em 2016, a escola alcançou o primeiro lugar no Idesp. A afinidade entre professores e estudantes aumentou. E o mais importante: criou entre os alunos o sentimento de que a escola, no fundo, os pertence.

"Trazer o aluno para um ambiente para o qual ele se sentisse pertencente. Um ambiente no qual o aluno também pudesse aprender com prazer. Todas as escolas têm algo muito bom e têm muitos artistas. Alunos com talentos magníficos", conta o diretor Ariovaldo Guinther.

O OUTRO LADO

Em nota, a Secretaria de Educação informou que mantém diálogo constante com a rede com intuito de aprimorar práticas e implementar ações de acordo com as necessidades das escolas, professores e alunos. A pasta sustenta que o planejamento também cabe ao professor, que tem liberdade para elaborar suas aulas e ainda conta com os cursos da Escola de Formação de Professores para formação continuada.

http://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/203855/escolas-de-sp-se-reinventam-com-base-na-autonomia-.htm 




ONLINE
61