Militares, autocrítica ou isolados?
Militares fizeram autocrítica ou apenas estão isolados?
É um recuo arrependido, que reconhece seus defeitos e busca aprimoramento? Ou estamos diante de um recuo tático?
E o problema é justamente esse: o período de baixa credibilidade do século vinte não
foi o suficiente para mudar as forças militares brasileiras no século vinte e um.
Foto: - Reprodução / Vigília Lula Livre
Os militares do Brasil vivem um momento complicado. Expostos pelo bolsonarismo, antes considerados por uma parcela da população como um grupo liderado por intelectuais que dedicam suas vidas ao estudo da segurança nacional, no caso do exército, e da segurança pública, no caso das polícias militares, agora vivem uma baixa em sua credibilidade só comparável com os anos finais da ditadura de 64.
E o problema é justamente esse: o período de baixa credibilidade do século vinte não foi o suficiente para mudar as forças militares brasileiras no século vinte e um.
É preciso identificar o tipo de recuo que estamos testemunhando. É um recuo arrependido, que reconhece seus defeitos e busca aprimoramento? Ou estamos diante de um recuo tático, uma visão de que a situação não é boa para as ideologias acalantadas pela caserna? Eu diria que estamos diante do segundo caso.
A mudança perpassa dois pontos. Primeiro, é preciso que a educação das entidades militares seja mesclada com a educação civil, é preciso que as instituições de ensino militares sejam fiscalizadas e desafiadas da mesma forma que uma universidade é fiscalizada e desafiada.
Isso significaria que uma tese antes de ser divulgada como verdade, teria de passar por revisão por pares, por pesquisa e por provas. As matérias não devem permanecer na mão de um instrutor simplesmente porque ele é militar, mas somente se ele for o mais capaz naquela temática, cabendo nesse quesito prova de títulos e experiência curricular.
O segundo ponto é uma melhor delimitação das funções dos militares nos tempos de paz. No caso do exército, a proteção do patrimônio ambiental e das fronteiras podem ser aprimoradas, tornando-as um trabalho que ocupe mais do tempo do oficialato e gerando menos interesse em teorias de tutela da nação.
No caso das polícias militares, é preciso restringir as funções da polícia para que ela consiga se especializar em determinados atendimentos. Principalmente depois do surgimento das guardas municipais como forças de segurança, é possível estabelecer funções diferenciadas para cada grupo e deixar o treinamento ainda mais aprimorado.
O trabalhador policial precisa de qualidade de vida e alto nível de conhecimento, afinal ele representa um poder muito grande e que não deve poder ser manipulado por teorias consipiratórias com facilidade.
*Martel Alexandre Del Colle policial aposentado e expulso das fileiras da Polícia Militar do Paraná pela sua defesa de direitos humanos e visão social. É integrante dos policiais antifascistas.
**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná
Edição: Pedro Carrano
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