Militarização da educação
A militarização da educação está implantando a ditadura dentro das escolas
Em meio a um enorme sucateamento da educação pública no país e a crescente precarização do ensino devido a falta de investimentos, fechamento de escolas, falta de professores a extrema direita defende a proposta esdrúxula de militarização das escolas.
Imagem: consciência.blog.br
A militarização das escolas significa entregar a gestão das escolas públicas nas mãos dos militares e da polícia com objetivo de impor uma disciplina de caserna sobre professores e estudantes para acabar com o pensamento crítico e o questionamento da sociedade burguesa nas escolas transformando assim, os estudantes em um rebanho obediente e submisso.
Recentemente o candidato ultra-reacionário, racista, machista e homofóbico, Jair Bolsonaro (PSL), que quer resolver os problemas da educação no país construindo uma escola militar por capital, afirmou publicamente que “tem que acabar com o pensamento crítico”. A ideia de militarização das escolas que essa extrema direita com mentalidade escravagista defende, vem de encontro ao absurdo de ideias reacionárias como o projeto “escola sem partido”, que é uma verdadeira “lei da mordaça”, uma censura dos tempos da ditadura para proibir o pensamento crítico e o questionamento da realidade política e social.
O objetivo é intimidar os professores cerceando suas posições políticas e adestrar os jovens como fazem no exército impondo a obediência sem reflexão, para transformá-los em mão de obra servil e submissa, ou seja, para serem verdadeiros escravos dos patrões no futuro. Além disso, especialistas afirmam que o processo de militarização de escolas públicas é inconstitucional, fere a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e coloca em risco a capacidade cognitiva dos estudantes.
Essas ideias ultra-reacionárias vem se fortalecendo pelo país, trazendo de volta a ditadura militar para dentro das escolas. Um levantamento feito pela revista ÉPOCA descobriu que, de 2013 a 2018, o número de escolas estaduais geridas pela Polícia Militar saltou de 39 para 122 em 14 estados da Federação — um aumento de 212%. Em 2019, outras 70 escolas deverão ser colocadas sob a gestão de militares nesses estados. O fenômeno se reproduz por todo o país, mas com mais intensidade nos estados do Norte e do Centro-Oeste. Amazonas já conta com 15 escolas administradas pela PM. Mato Grosso pretende criar cinco escolas da PM no segundo semestre. Em Roraima, das 382 escolas da rede estadual de ensino, 18 unidades foram militarizadas, totalizando 20 mil alunos sob jurisdição militar.
Onde este processo está mais avançado é em Goias e já podemos ver seus resultados. Há cinco anos, o estado tinha apenas oito colégios militares. Hoje, já são 48 o número de escolas administradas pela PM. Cada escola precisa de pelo menos 16 policiais e os agentes são convocados da reserva que é composta por policiais aposentados. A militarização da educação também visa o desmonte da escola pública com a substituição de professores por “policiais aposentados”, como uma forma de “bico”, sem possuírem conhecimento científico/pedagógico para exercer a função, demonstrando o avanço de uma concepção de educação fascistizante.
Essas escolas passam a seguir a normatização dos quartéis elaborada pelos militares. Os alunos recebem sanções quando deixam de cortar o cabelo ou apresentam-se com barba ou bigode por fazer. Para as meninas, a regra é usar “rabo de cavalo”, pois não é permitido cabelo solto, com pontas ou mechas caídas. Também é transgressão deixar de prestar continência aos militares.
Um exemplo desse regime fascistizante é colégio Estadual Waldemar Mundim, na periferia de Goiânia. Lá são transgressões disciplinares consideradas graves e que podem levar à expulsão do aluno: provocar ou tomar parte, uniformizado ou estando no colégio, em manifestações de natureza política, manter contato físico que denote envolvimento de cunho amoroso — namoro, abraços, beijos — e desrespeitar símbolos nacionais também são transgressões consideradas graves. Por ai se percebe o caráter ditatorial e repressor que pune qualquer manifestação política estudantil ou dos professores.
O caráter moralista e reacionário da militarização fica explícito nas palavras do diretor comandante da escola:
“O que acontece, com a nossa chegada, é uma quebra de cultura. Os alunos vinham de uma cultura de libertinagem. Tinha menina que chegava na hora do intervalo, abraçava o colega e enganchava nele com as pernas”, lembrou o tenente-coronel, tentando explicar as cenas com imitações e gestos. “Tinha homossexual aqui que pintava o cabelo de alaranjado, de vermelho, de roxo. Com a nossa chegada, a gente diz: ‘Rapaz, você pode ser homossexual, mas tem de manter a postura’. Dentro da razoabilidade, o que a gente cobra é o mínimo de moral.”
A repressão é tamanha que a secretária do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Ludmylla Morais afirma: “o próprio sindicato costuma ser impedido de entrar nas dependências das escolas geridas pela PM […] um policial dentro de uma escola fardado e com arma na cintura é uma coação. É uma forma de dizer que ‘aqui tem quem manda e quem obedece’”, completou.
Mas não é somente a direita e a extrema direita que defendem essa proposta retrógrada. A pouco tempo atrás o governador da Bahia, Rui Costa (PT), defendeu a militarização da administração escolar, terceirizada ao exército e a polícia. Além do PT não lutar contra o golpe, trair as greves gerais, se aliar ao que há de mais podre na política brasileira, em 13 anos não investigar os crimes da ditadura, agora também vê no exército (que é o instrumento de garantia da dominação burguesa) a solução para a educação.
Leia mais em: http://www.esquerdadiario.com.br/Governador-da-BA-quer-escolas-estaduais-com-metodologia-e-filosofia-dos-colegios-militares
Para ilustrar essa mentalidade reacionária que avança sobre a educação, em Caxias do Sul, no RS, após as ocupações estudantis das escolas em 2016, onde os estudantes lutaram contra a precarização exigindo investimentos e melhorias nas escolas, na escola Cristóvão de Mendoza formou-se uma milícia proto-fascista com traços medievais, chamada “Pais do bem”, formada por pais de alunos e ex-policiais armados que recebiam a diretora de joelhos, com imagens de santos, entoando orações católicas e ocupavam os espaços da escola durante as aulas para vigiar e intimidar os estudantes e professores. Em qualquer caso de indisciplina ou manifestação política e cultural era chamada a polícia para reprimir os estudantes, inclusive com ocorrência de agressões físicas por parte da polícia à estudantes menores de idade.
Os problemas da educação só podem ser resolvidos por investimento massivo na educação pública desde a pré-escola até o ensino superior, na pesquisa e na ciência. Mas para isso é preciso romper com o pagamento do mecanismo de pagamento da dívida pública, que é uma verdadeira sangria dos cofres públicos em nome do lucro de um punhado de investidores e banqueiros, o fim das isenções fiscais e o confisco dos bens dos grandes sonegadores.
O fortalecimento da extrema direita, dos militares e do pensamento conservador só vai trazer mais repressão e opressão contra a juventude. Essa elite reacionária de mentalidade escravagista que sempre esteve no poder, quer impedir que a juventude questione a realidade social, que erga a cabeça e se levante em revolta diante de suas condições de vida. A militarização das escolas serve somente para censurar e reprimir o pensamento crítico e manter os trabalhadores e a juventude na “rédea curta”, como cavalos encilhados, obedientes e submissos aos patrões e aos governantes para que aceitem passivamente a realidade de exploração e miséria a que somos submetidos.