Movimento na sala de aula
Generalizando, há duas razões para uma criança não conseguir ficar quieta e prestar atenção na sala de aula (e a grande maioria não é porque há ou deveria haver um diagnóstico). As duas razões são a falta de sensação de segurança ou a falta de movimento. E muitas vezes até podem ser ambas as coisas. Hoje quero falar da falta de movimento.
Quando eu estou a aprender coisas novas, quando estou em processos de escrita, quando estou em busca de motivação. Não fico sentada numa mesa com uma cadeira dura a ouvir, nem fico assim sentada a escrever. Neste momento estou estendida no sofá a procurar produzir um texto que faça sentido. E antes disso estive a brincar um pouco com a nossa cadela, fui beber um copo de água, fiz um grande treino, já andei a pé, já tive conversas interessantes nas quais me senti estimulada, vista e ouvida.
A utilização do corpo, posturas diferentes, mexer e estar em movimento não é só bom para mim. É bom para a maioria das pessoas nos processos de aprendizagem e escrita e não só.
Incluindo as nossas crianças. Mas por incrível que pareça, o facto de a investigação mostrar que as crianças estarem em movimento quando aprendem promove uma melhor aprendizagem e que o movimento livre é essencial para a aprendizagem, e que o movimento apoia a saúde mental, promove o desenvolvimento de várias competências, aumenta a capacidade do cérebro… o facto de que as crianças ficam mais envolvidas e mais atentas quando as deixamos sair das cadeiras, não chegou até as salas de aula e muitas famílias também não promovem movimento real diário.
As crianças estão sentadas na mesma posição durante muito tempo e isso é um verdadeiro problema. Não trepam árvores, não saltam, não rebolam. Não brincam ao ar livre porque o tempo está mau, porque é perigoso, porque não dá… O tempo de recreio é curto, as exigências de estudo muitas, e o tempo de ecrã cada vez mais. As crianças simplesmente não se estão a mexer o suficiente. Ter uma atividade extracurricular desportiva no final do dia uns dias por semana não chega!
Um dos resultados que vemos é a dificuldade (impossibilidade) das crianças prestarem atenção, ficarem quietas e caladas na sala de aula.
As crianças entram na sala de aula com corpos que não estão preparados para aprender. Os seus corpos e sistemas sensoriais não estão a funcionar direito e nesse estado é lhes pedido que fiquem quietos e que prestem atenção. Assim, naturalmente começam a mexer, a falar para o lado, a baloiçar na cadeira, a atirar papéis, a “portar-se mal”… Procurando assim a regulação e o movimento que o corpo precisa para ‘ligar o cérebro’. As estratégias que usamos é pedir as crianças para pararem, para ficarem quietos e atentos… e o cérebro ‘adormece’.
Não é o Mindfulness que vai resolver isto. É o movimento. Movimento enquanto se está a aprender, pausas curtas para alongar, para dançar, para saltar, aulas que incluem movimento e e posições livres para prestar atenção… mas acima de tudo muito movimento fora da sala de aula, principalmente através da brincadeira livre.
Nós pais temos a responsabilidade de assegurar que haja muito movimento fora da escola. E a escola também tem de fazer a sua parte muito ativa enquanto tem as crianças ao seu cuidado.
Pois nem todas as crianças vivem num contexto possibilitador.
Mikaela Övén - Mindfulness, Heartfulness & Parentalidade Consciente
FONTE: