Não gostam de trabalhar
Professores não gostam de trabalhar
Seria mais uma manhã normal em uma escola da rede pública estadual. Mas não é. Na manhã do dia 18 de novembro, mais uma vez, os professores anunciaram à comunidade escolar que farão greve. O “mais uma vez” não deveria ser lido sem causar estranheza. Não deveria ser normal ligar a televisão ou acessar as redes sociais e ser informado que sua escola está em greve, porém, mais uma vez, sim, os professores precisam enfrentar uma realidade dura, penosa e indigna.
Os professores estão em luta no RS pelo pagamento integral de seus salários. Foto: Reprodução/Internet
Há cinco anos professores não tem reajuste salarial. Perderam o poder de compra e junto um pouco do amor próprio. No governo anterior, o salário era parcelado. Pasmem! Vocês devem ficar pasmos, pois professores não devem receber em parcelas. Aliás, ninguém deve. No atual governo eles vão até o banco e fazem empréstimo do próprio salário. Pagam juros como todo empréstimo e não será diferente com o 13º.
Mas comumente os professores escutam que “não gostam de trabalhar”. Digo à essas pessoas: trabalhem vocês recebendo seus salários em parcelas ou pagando juros para receber em dia; trabalhem vocês com escolas que perigam incendiar, porque a fiação não recebe reparos há décadas; trabalhem vocês tendo que comprar material para exercer sua própria função. Você trabalharia assim? É possível ainda que o professor escute: “se não gosta, larga”. Você largaria uma profissão para a qual se preparou, estudou, fez pós-graduação, mestrado, foi aprovado em concurso público? Bom, não se abandona um sonho, se luta.
Os professores sabem que não há outro caminho, e por isso estão em greve. O Cpers, sindicato dos professores, tentou, através do diálogo, negociar, mas encontrou um governador que só sabe onerar a categoria. Mais uma vez um governo desrespeita e ridiculariza uma profissão tão cara à sociedade e indispensável à nação. E para quem não está ciente da realidade, o governador do Estado, Eduardo Leite, encaminhou à Assembleia Legislativa, recentemente, medidas que desestimulam qualquer jovem a entrar no magistério, medidas que põe fim ao plano de carreira e achatam ainda mais o salário de quem já não ganha muito.
Foto: Reprodução/InternetEduardo Leite usa de sutil retórica dizendo que toda a população deve colaborar para combater a crise, porém parece que apenas os professores, em seus ombros, carregam anos de má administração, descaso e corrupção. Professores não são inimigos. Professores formam outras profissões e na escola pública não lecionam apenas conteúdo. O trabalho dessa categoria vai além do que a vista alcança.
Se aproxime de um professor, peça a ele sobre a realidade da escola pública, apoie.
Zaira de Oliveira Canci.
Professora de Filosofia e Sociologia. Mestre em Educação. Especialista em Ciências Sociais. Professora há cinco anos nas redes Estadual e Privada de ensino. Colaboradora do Manifesto Coletivo de Mídia Alternativa.
E-mail para contato:
manifestocoletivodemidia@gmail.com