Não se surpreenda
Não se surpreenda: aquele cara aparentemente gente boa era um fascista perto de você
Ele é apaixonado por um presidente assumidamente racista, homofóbico, que tolera a violência contra a mulher e tem amigos milicianos, além de nutrir simpatias por nazistas. Logo, expressa os mesmos valores.
E aquele comediante, que encantou uma geração de crianças e jovens em horário nobre de TV e atraiu milhões de pessoas ao cinema para assistir seus filmes? O ex-palhaço também assumiu sua simpatia pelo fascismo tupiniquim.
Da mesma forma aquela atriz que o Brasil inteiro admirou como protagonista na novela das 20h. Sem esquecer os cantores que fizeram sucesso na era da TV e do rádio. Todos batem continência para o capitão.
Esse é o choque de realidade que emerge após a eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018. As urnas que empoderaram o comandante em chefe de um retrocesso civilizatório são as mesmas que mostraram o que não enxergávamos ou que estava muito bem camuflado. O Brasil totalitário estava adormecido e agora está vivo, pulsando sob as ordens de um capitão auxiliado por generais de pijama.
Bolsonaro não apenas nos conduz a um abismo social gigantesco, aprofundando a concentração de renda no país, tentando institucionalizar um genocídio contra índios e precarizando o mercado de trabalho ou atacando jornalistas, mas inspira os sentimentos mais sórdidos que estavam adormecidos ou escondidos no íntimo de milhões de brasileiros, entre eles artistas que formavam opinião.
Agora é possível entender o que levou a sociedade brasileira a um estágio tão doentio. O Brasil que decide é o país que cresceu sob a influência da Televisão e do Rádio, dois veículos de comunicação que até o século passado exerciam influência absoluta no país.
Nessas plataformas atuaram os coveiros do sentimento de solidariedade e propulsores de uma descrença que conduziram a nação ao domínio de pastores charlatões em templos neopentencostais, defensores da teologia da prosperidade. São figuras bizarras que transforam púlpitos de templos religiosos em palanques, expressando o que há de mais excludente e preconceituoso, afrontando a própria bíblia.
Se há um mérito na escalada do Bolsonarismo, ele consiste no fato de abrir os armários para libertar os fascistas enrustidos que atuavam em diferentes setores da sociedade brasileira, principalmente os religiosos. É algo revelador, já que até mesmo integrantes de minorias repudiadas por essas ideologias (como é o caso de pobres, negros e gays) prestam obediência cega a esses líderes. É literalmente amar e servir aos que vos odeiam.
Esta será uma onda passageira e oxalá que seja breve. Uma travessia dura que, talvez, permita a necessária distinção entre o joio e o trigo.
Passada a tempestade, os que cruzaram o rubicão para as fileiras totalitárias dificilmente conseguirão fazer o caminho de volta. Por isso, estamos nos tempos em que cada um deve saber onde está e o que exatamente defende, porque a breve história será implacável.
Os historiadores deverão retratá-la como um início de 4ª revolução industrial assustador, contudo, um divisor de águas com potencial de tragar o fascismo e aquele simpatizante que estava perto de você.