Não temos como negar

Não temos como negar

Não temos como negar: há um Brasil conservador, preconceituoso e avesso à diversidade

Resultados do primeiro turno mostram que o pensamento ultradireitista se solidificou nos últimos anos

04/10/2022  - JEFERSON TENÓRIO

 

Mateus Bruxel / Agencia RBS

O fato é que o bolsonarismo veio para ficar e que o Brasil é muito mais complexo do que imaginamos. Mateus Bruxel / Agencia RBS

 

A postura ultraconservadora parece ser uma tendência não só no Brasil, mas também no mundo. Tal postura ultradireitista observada em diversos países é também uma resposta aos avanços sociais no que diz respeito às pautas de costumes. Lidar com a diferença sempre foi uma questão humana e que, muitas vezes, nos levou às guerras.

Na psicanálise, por exemplo, o ódio seria um sentimento mais antigo do que o amor. Uma espécie de sentimento primordial, a primeira relação sentimental entre sujeito e objeto. Freud observa, por exemplo, nessa ambivalência entre amor e ódio que, de tempos em tempos, temos explosões de ódio, como os genocídios e a busca pela aniquilação do outro.

De todo modo, o ódio geralmente tem como alvo o estrangeiro, o diferente e o diverso. Portanto, é muito comum em governos ultraconservadores a defesa de políticas mais duras contra imigração. Ou seja, o estrangeiro emula, ou canaliza essa pulsão primitiva naquele que não suporta a diferença. A xenofobia, o racismo e a homofobia, por exemplo, são bandeiras da direita extremista e que busca na verdade eliminar qualquer forma de diversidade. Uma sociedade “higienizada” é o sonho macabro da ultradireita.

No entanto, embora o ódio seja um sentimento naturalmente presente na humanidade, portanto ainda continuaremos a conviver com ele, não significa que não haja esforços na direção contrária à hostilidade. Os avanços na sociedade demonstram que as relações humanas precisam estabelecer novas formas de convivência. Não há sociedade que se construa somente a partir do ódio, pois sempre precisamos do outro. Porque é o outro que também nos torna quem somos.

Não há como negar que há um Brasil conservador, preconceituoso e avesso à diversidade. Os resultados do primeiro turno mostram que o pensamento ultradireitista se solidificou nos últimos anos. Na se trata de uma nova realidade brasileira, porque tenho a impressão de que este sentimento conservador sempre esteve entre nós, a questão é que agora temos, na verdade, um bom número de representantes em postos de poder.

O resultado das eleições não é uma surpresa, mostra o mais do mesmo: um número expressivo de quem acredita num governo que tem como política a aniquilação da diferença. No entanto, a resistência ao discurso de ódio também está ativa. O fato é que o Bolsonarismo veio para ficar e que o Brasil é muito mais complexo do que imaginamos. Sendo assim, o próximo presidente, seja quem for, terá grandes dificuldades para governar.


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