NEM muda a cara das escolas

NEM muda a cara das escolas

Novo ensino médio muda a cara das escolas e dá mais autonomia aos alunos

Colégios particulares ouvem estudantes antes, durante e depois de mudanças

Por: FOLHAPRESS - PAOLA FERREIRA ROSA  -  10/09/2022 

CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - Para escolas particulares, geralmente avaliadas por índices de aprovação de estudantes nos vestibulares, o novo ensino médio possibilitou a incorporação de métodos de ensino adaptados às características de cada comunidade acadêmica. A reforma passou a vigorar de forma obrigatória neste ano.

A lei, aprovada em 2017, propõe que a carga horária voltada às matérias tradicionais, comuns a todos os estudantes, seja reduzida e pelo menos 40% do tempo de aula seja dedicado aos itinerários formativos --conjunto de disciplinas de aprofundamento e prática interdisciplinar escolhidas pelos próprios alunos segundo os seus interesses. Também há previsão de aumento da carga horária.

Com sedes em São José dos Campos, São Paulo e Campinas, o Colégio Poliedro desenvolveu itinerários formativos próprios para cada unidade.

A escola, que periodicamente consulta os alunos sobre a qualidade das aulas, materiais didáticos e desempenho dos professores, realizou um questionário de interesses antes de definir quais disciplinas e aprofundamentos ofereceria.

"O itinerário formativo tem de atender os desejos e anseios dos alunos", diz Luís Gustavo Megiolaro, diretor-adjunto de unidades escolares do Poliedro. Na capital, a escola tem unidades em Perdizes e na Vila Mariana com mensalidade a partir de R$ 2.756.

O colégio começou a implementar o modelo em 2021, para que os estudantes de primeiro e segundo anos estivessem mais adaptados agora. O terceiro ano continuará com o modelo já consolidado na escola, voltado à preparação para o vestibular.

As trilhas são divididas entre aprofundamento e atividades interdisciplinares. Há aulas de robótica, empreendedorismo, química forense, fisioterapia e o clube do debate e escrita criativa.

Já o Colégio Humboldt, localizado em Interlagos (zona sul de São Paulo), oferece duas trilhas de aprendizagem principais, dando aos seus 160 alunos a possibilidade de escolher matérias específicas de cada uma, se preferir.

As aulas de idiomas, tradicionalmente oferecidas pela escola, precisam compor os itinerários --assim, independentemente de escolhas, o estudante fará alemão e inglês.

A instituição, com mensalidades a partir de R$ 3.650, ainda tem opções de disciplinas eletivas que podem ser feitas de casa. Por lei, até 30% da carga horária do ensino médio noturno e 20% da carga horária diurna pode ser ministrada a distância.

"Tão logo o ensino médio se consolide, as escolas passarão a ter perfis", diz Erik Horner, diretor pedagógico do Humboldt. Ele conta que o colégio determinou as trilhas a partir da composição da comunidade acadêmica e do posicionamento da instituição.

"Para a gente, por exemplo, não faz sentido criar um itinerário de línguas eletivo, porque em um colégio alemão internacional as línguas precisam ser comuns a todos."

Com certificado internacional por sua ênfase em ciências, matemática e tecnologia, a escola priorizou tais características para se posicionar.

Para Horner, colégios grandes conseguirão oferecer mais disciplinas eletivas, mas os menores precisarão direcionar os seus recursos para tornar o modelo viável.

Foi a estratégia do Colégio Ofélia Fonseca, em Higienópolis (região central de SP), que tem cerca de 60 estudantes de ensino médio e mensalidade a partir de R$ 4.066.

Os três itinerários disponibilizados foram desenvolvidos pelos docentes --alguns têm mais de uma formação e passaram a dar aulas para diferentes itinerários.

As disciplinas também foram pensadas para conversar entre si, gerando projetos interdisciplinares. Após as aulas, professores e estudantes propõem juntos como transformar teoria em conteúdo que unifique o aprendizado.

Outro ponto do novo ensino médio, o chamado projeto de vida, deve fazer parte da vivência escolar, seja como disciplina, orientação pedagógica ou parte de cada matéria.

O objetivo é que o aluno consiga desenvolver autonomia, consciência e responsabilidade em diferentes aspectos da vida, do pessoal ao social.

Para Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV e colunista da Folha, o projeto tende a aumentar o comprometimento dos alunos com os estudos ao conectá-los com seus objetivos.

Localizado no Morumbi (zona sul), o Colégio Franciscano Pio XII tem o projeto de vida como um dos pilares.

A escola tem equipe formada por profissionais de ensino religioso, filosofia, psicologia e orientador profissional para auxiliar os jovens em seu planejamento pessoal.

"É preciso entender o mundo em que se está inserido para saber se o que você quer ser funciona", afirma Viviane Paiva Direito, coordenadora pedagógica de ensino médio do colégio.

Segundo ela, a consciência social é um dos principais pontos trabalhados no projeto, que é atrelado ao desenvolvimento de um programa de vivência social.

Nele, os 265 alunos matriculados precisam cumprir pelo menos 20 horas de dedicação ao desenvolvimento de uma iniciativa voltada à resolução de problemas do dia a dia --que podem ser, inclusive, aplicados na escola, que tem mensalidade a partir de R$ 4.364.

O Pio XII, assim como os outros colégios, pretende revisar, ao final de cada ano, seus itinerários, conteúdos e atuação. Uma incerteza para todos são os vestibulares, outrora tidos como principal foco do ensino médio.

Até o momento, apenas o Enem tem uma mudança, prevista para 2024, para acompanhar o formato.

Para Costin, da FGV, o ensino ainda passará por diferentes fases de adaptação até ser solidificado. A pandemia, diz, prejudicou o planejamento de mudanças e afetou a todos, de professores a alunos.

"Durante o fechamento das escolas, a atenção estava toda em tentar assegurar alguma aprendizagem em casa, e não necessariamente em preparar os professores para esse novo ensino médio."

O mais importante agora é implementar as mudanças, que podem e devem ser aprimoradas.

"É mais fácil para as particulares, porque conseguem estruturar isso de uma maneira mais simples, diferentemente das públicas, que têm um desafio maior apesar de não lidarem só com populações vulneráveis."

Publicado em Sat, 10 Sep 2022 

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