NEM só aumenta exclusão
Novo ensino médio só aumenta exclusão dos estudantes trabalhadores
Sabemos que a condição do aluno trabalhador é a mais desfavorecida e desvalorizada.
Após jornada de trabalho diurna ter disposição para o aprender quando o mundo se debruça na alienação e no consumo de mercadorias para o entretenimento que só reforça a falta de consciência requer extrapolar o corpo esfacelado, adiar a fome e as preocupações emergentes para pelo menos almejar algum conhecimento que mobilize forças contra o cotidiano atroz dos efeitos da desumanização, um lampejo de luz que pode iluminar a escuridão de hábitos cristalizados.
O novo ensino médio impõe sobrecarga a essa jornada dupla de estudantes trabalhadores nos cursos noturnos no Estado de São Paulo. A carga horária prevista na reforma não é condizente com o contraturno da jornada de trabalho.
Alunos que saem de casa na madrugada para trabalhar e voltam por volta das 24 horas quando conseguem pegar o ônibus às 23 horas devem cumprir a denominada ” expansão da carga horária” sob a forma de orientação de estudos no período da manhã ou a tarde.
Se o horário comercial de alunos trabalhadores termina às 18 horas é claro que a expansão dificulta ou inviabiliza o ensino noturno.
Fazendo valer a premissa de que quantidade de carga horária supera a qualidade da regularidade de encontros e trocas na escola, o aluno trabalhador deverá transmutar a jornada dupla semanal em jornada triplicada ou quadruplicada através de atividades direcionadas oferecidas como alternativas a suposta desafagem curricular de alunos trabalhadores.
Aulas virtuais ou atividades que formam os alunos tarefeiros é a alternativa típica apresentada.
Presente de grego é o Cavalo de Tróia, reconhecimento da luta do opositor pelo extermínio do mesmo. No caso, o opositor é o trabalhador num país de desempregados…
A lógica desta política educacional é mais que perversa, exclui com o slogan da inclusão. Imobiliza os que praticam a ginástica para não atrofiar os músculos exaustos.
Individualiza o que deveria ser problema coletivo: a possibilidade de conhecer que transcende o fazer repetitivo do trabalho mal remunerado.
Depois da receita do remédio amargo que envolve a desumanização do trabalho pelo aparato tecnológico, eis consolidada a tarefa da desumanização por uma educação técnico-burocrática.
Embora o fracasso dessa tentativa tenha assustado até os mais otimistas nos avanços dos produtos da “sociedade da informação” e nos avanços pafernálias das plataformas digitais educativas durante a pandêmia, gerando evasão escolar nas escolas públicas e inadimplência nas privadas, continuemos administrando placebos com o sabor amargo com melhores remédios e também mais eficazes venenos…
“O que não mata, engorda” diz o ditado popular que, via de regra, oculta a lacuna do índice da desnutrição.
Para uma barriga nutrida por vermes e de vermes, as instâncias federais já indicaram que um bom vermífugo é a solução para todos os problemas.
*Dalva Garcia é professora de filosofia da rede pública de São Paulo.