Nível de escolaridade e trabalho
Menor nível de escolaridade desafia retorno ao mercado de trabalho no RS
Grupo de trabalhadores com Ensino Fundamental incompleto é mais afetado pela crise do coronavírus, sinalizam dados do Caged
Fila em uma agência do Sine, em Porto Alegre Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Encontrar nova oportunidade de trabalho é tarefa mais difícil para profissionais com menor nível de escolaridade no Rio Grande do Sul. Números consultados por GZH no Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério da Economia, ilustram a situação.
Após perder 27,5 mil vagas com carteira assinada no início da pandemia, de março a junho, a parcela de trabalhadores com Ensino Fundamental incompleto teve abertura de apenas 979 postos entre julho e outubro. Ou seja, só conseguiu recuperar o equivalente a 3,6% dos empregos fechados no começo da crise do coronavírus.
As estatísticas são referentes ao saldo de vagas – diferença entre contratações e demissões. Na prática, significam que, de março a junho, quando o mercado de trabalho ficou no vermelho, os cortes superaram as admissões em 27,5 mil contratos. Passado o efeito inicial da covid-19, houve 979 contratações a mais do que demissões nos quatro meses seguintes.
Na visão de especialistas, o quadro mostra que trabalhadores com menos estudo tendem a ficar mais fragilizados em períodos de turbulência nos negócios.
Além da pandemia, a estiagem que castigou lavouras gaúchas neste ano pode ter dificultado a reinserção desses profissionais, lembra o economista Guilherme Stein, professor da Unisinos:
– Trabalhadores com menor grau de instrução ficam mais vulneráveis em qualquer tipo de crise. São os primeiros a serem demitidos.
Depois da parcela com Ensino Fundamental incompleto, aquela que registrou o segundo menor percentual de postos recuperados figura no outro extremo do mercado de trabalho. Trata-se do grupo de trabalhadores com Ensino Superior completo.
De março a junho, esses profissionais perderam quase 6,8 mil vagas no Estado. Nos quatro meses seguintes, tiveram 681 oportunidades geradas. Ou seja, conseguiram preencher o equivalente a 10% dos empregos destruídos.
– Entre os trabalhadores com Ensino Superior completo, há um grupo bastante afetado: o de professores. Além disso, profissionais com graduação têm mais condições de esperar por mais tempo por uma oportunidade compatível em termos de remuneração e conhecimento – explica Stein.
Até outubro, o maior percentual de empregos recuperados foi registrado entre analfabetos (58%). Contudo, esse grupo é bem menos numeroso do que os demais no mercado de trabalho. Um dos pontos que chamam atenção é a retomada de 57,8% dos postos que haviam sido perdidos por trabalhadores com Ensino Médio completo.
– O que está voltando agora é o emprego intermediário. É, por exemplo, o vendedor que foi recontratado. As vagas de menor qualificação tendem a ser recuperadas quando a economia de modo geral também voltar – frisa o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
No total, o Rio Grande do Sul abriu quase 51,1 mil postos com carteira assinada de julho a outubro. O resultado ocorreu após a destruição de 135,4 mil nos quatro meses anteriores. Ou seja, 37,7% já foram retomados.
Cenário para 2021
Ely avalia que o próximo ano tende a ser melhor para a economia, o que pode beneficiar o mercado de trabalho. Entretanto, o professor ressalta que o desempenho dos negócios seguirá atrelado ao comportamento da pandemia. E, neste momento, o Estado vive novo avanço nos casos de coronavírus, o que joga incertezas para a largada de 2021.
– Devemos ter uma retomada, embora ainda não haja um plano mais claro por parte do governo federal – pondera Ely.
Stein reforça que o nível de recuperação econômica terá relação com o comportamento da covid-19:
– A retomada vai depender muito de como a pandemia vai evoluir ao longo do verão. Saúde e economia estão interligadas.