Nós, os fracassados!
Nós, os fracassados!
Mas, então, o que significa esse nosso fracasso? Não seríamos vencedores?
Para a parcela conservadora da sociedade, nós somos o fracasso, pois não nos ajustamos àquilo que era esperado para nós. Nossa existência escapa às normas estabelecidas para os gêneros e para as sexualidades. Esse fracasso, de certa maneira, é o fracasso do sistema sexo-gênero, em que todos nascem já sendo heterossexuais cisgêneros, classificação essa feita a partir da genitália.
Escancara também que essa maneira de existir no mundo é apenas uma dentre muitas outras possibilidades, assim como mostra que todas elas possuem a mesma legitimidade, não havendo gêneros e sexualidades superiores ou inferiores.
E isso não deve ser motivo para que ninguém seja minorizado, discriminado ou morto. A manifestação do gênero e/ou da sexualidade é algo particular, e que diz respeito apenas a cada pessoa.
Aos outros, cabe apenas acolher: quanto a aceitar, respeitar e tolerar, isso nem deveria mais estar em discussão, uma vez que todos os humanos devem ser respeitados, tolerados e aceitos, independentemente de qualquer circunstância.
Quanto a isso, vale citar a fala da atriz estadunidense Dominique Jackson, que diz “eu retiro de você o direito de dizer que me respeita, me aceita ou me tolera”, pelo simples fato de que não há a opção de não fazer isso.
Contudo, ainda precisamos avançar – e muito: os dados do Observatório de Mortes e Violências Contra LGBTI+ mostram um crescimento de 33% nas mortes contra essa população no ano de 2021.
Isso quer dizer que 316 pessoas foram mortas de forma violenta, apenas – veja bem, apenas – por manifestarem seus gêneros e/ou sexualidades de maneira diferente daquela historicamente instituída pela sociedade.
Aquilo que seria óbvio, para nós ainda é motivo de muita luta, em razão de nossos gêneros e sexualidades manifestarem-se fora do padrão socialmente instituído; por causa disso, corremos o risco de ter nossas vidas aniquiladas.
Muitos ainda não veem nossa existência como legítima, nos considerando como menos humanos, ou, até mesmo, como não humanos, os quais devem em ser aniquilados.
Por isso, ainda é necessário ocupar espaços que, historicamente, não foram pensados para nós, inclusive na política, para que tenhamos mais representatividade no poder.
Também, é importante estarmos sempre vigilantes em relação aos direitos que já conquistamos, pois eles são conquistas muitos frágeis, e que podem retroceder facilmente.
Da mesma forma, precisamos estar atentos aos discursos que nos colocam como minorias: não somos minorias, mas, sim, um grupo que, historicamente, foi minorizado.
Por esse motivo, é importante cada vez mais nos unirmos como comunidade, daqueles que a norma para os gêneros e para as sexualidades não pode abarcar, uma vez que, nesses tempos pandemônicos, a união é o melhor dos caminhos.
Lembremos que: aqueles que detêm o poder de fazer as normas estão sempre unidos.
Neste 28 de junho, celebremos! Celebremos a nossa existência, celebremos o fracasso de tudo aquilo que esperavam para nós. Celebremos nossas pequenas conquistas. Façamos memória daqueles lutaram antes de nós e que tenhamos força e coragem para continuarmos resistindo e existindo!
Nosso fracasso perante esse sistema é nossa vitória!
Rudson Adriano Rossato da Luz é professor, historiador, mestre e doutorando em Educação. Design Educacional na Universidade de Caxias do Sul (UCS). E-mail: rarluz@ucs.br