Nós somos jovens

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Nós somos jovens

"A juventude é uma ideia que começou nos anos 50 e não uma faixa etária", diz Miguel Paiva

29 de julho de 2023   - Miguel Paiva

 

 

 

Com Mick Jagger completando 80 anos esta semana e se juntando a Caetano Veloso também com 80, Gilberto Gil com 81, Paul McCartney também com 81 e por aí afora, chego a uma conclusão: A juventude é uma ideia que começou nos anos 50 e não uma faixa etária. Meu filho Vitor tem um projeto junto comigo de fazer um livro que se chama A História da Juventude. Basicamente é sobre isso e ele relaciona a invenção da juventude com a explosão do rock n’roll no final dos anos 50 do século passado. Antes disso os jovens de idade repetiam o padrão dos adultos inclusive nos figurinos. Mesmo o movimento existencialista, ou os beatniks, apesar de serem vividos por jovens não inventavam nada que os adultos já não conhecessem.

O rock n’roll e as atitudes que o acompanhavam sim. Escandalizou e qualificou para sempre aquele grupo em confronto com o resto da sociedade. O rock n’roll se estabeleceu, criou uma ideologia e seus seguidores, um padrão estético e de comportamento, além de um figurino próprio que a cada estação se renovava. E aconteceu com os hippies, os punks, os grunges, os emos, os darks e por aí em diante.

Vendo o Mick Jagger no palco nos dias de hoje essa noção fica ainda mais forte. Há alguma dúvida que ele não permanece jovem com ideias jovens e atitudes jovens? Paul McCartney talvez menos na sua vida pessoa, mas sua obra reafirma isso o tempo todo, sem falar nos nossos Caetano e Gil. Falando neles podemos também afirmar que a juventude não é sinal de irresponsabilidade. Talvez seja de irreverência e despudor em relação à sociedade vigente, o chamado mainstream. Caetano e Gil têm sempre algo a dizer e são ouvidos, sobre a realidade

Ser jovem talvez seja revolucionar os costumes e não estimular a sociedade de consumo. Isso o jovem faz e talvez só percebamos anos depois. A peça Hair foi transformadora nesse aspecto e além de tudo se colocava contra uma guerra imperialista que enfileirava os jovens no front de batalha. O movimento punk contestava não só a sociedade, mas até o próprio rock n roll. A banda Nirvana trouxe para a irreverência dos jovens as crises existenciais, as reflexões sobre a vida de um modo novo e transformador. Nunca mais a música jovem foi a mesma.

Hoje temos uma criação sobretudo musical muito grande, mas o conceito de jovem talvez só esteja na música da periferia incluindo o samba, no hip-hop, no funk. O resto, mesmo com manifestações diluídas pela nova mídia que são as redes sociais que visam transformar, não passa de uma tentativa de sobrevivência. Pode ser muito bom, mas o conceito de juventude continua sendo outro.

E para terminar, tentando puxar para o lado político (desnecessário porque tudo que os jovens fizeram até hoje foi político) e ligando ao atual governo Lula que manifesta uma simpatia pela juventude que esteja atento também a esta reflexão. Ser jovem é não aceitar, é recriar, é contestar e trazer novos conceitos. Isso é fundamental para o nosso futuro. A juventude de verdade, sim, é ideológica.

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia




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