Nota dos militares é mentirosa e golpista
Reinaldo Azevedo: 'nota dos militares é mentirosa e golpista'
O jornalista fez referência à nota emitida por militares, dentre eles o ministro Walter Braga Netto (Defesa). Militares chamaram as críticas feitas pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, de infundadas e irresponsáveis
8 de julho de 2021
Jornalista Reinaldo Azevedo e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto (Foto: Reprodução | Isac Nóbrega/PR)
"Absurda, golpista e mentirosa a nota do Ministério da Defesa, assinada também pelos três comandantes militares, em reação à fala do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI", escreve o jornalista Reinaldo Azevedo em sua coluna publicada no portal Uol.
"Em primeiro lugar, Aziz não atacou as Forças Armadas, mas as defendeu. Em segundo lugar, quem dispõe de armas não pode fazer ameaças. Ainda mais em nome da democracia. Se algum fundamento da Carta é violado, deve recorrer à Justiça, não aos canhões", acrescenta.
De acordo com o colunista, a nota das Forças Armadas "é mentirosa porque tudo o que Aziz não faz é generalizar". "Ao contrário. Quando diz que os bons das Forças Armadas têm motivos para se envergonhar, evoca aqueles que, então, seriam os princípios dos chamados setores castrenses".
https://www.brasil247.com/midia/reinaldo-azevedo-nota-dos-militares-e-mentirosa-e-golpista
Nós, cidadãs e cidadãos brasileiros, e entidades civis, vimos a público coletivamente repudiar e manifestar profunda preocupação sobre o pronunciamento veiculado pelas Forças Armadas na noite de 07 de julho de 2021. A nota expressa uma reação ao presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as causas da calamitosa gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil, Senador Omar Aziz (PSD-AM), e ataca o próprio Senado da República, instituição cuja liberdade de atuação é vital para a saúde da nossa democracia. Ao afirmar que “não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições” e prometer uma reação “mais dura”, caso a CPI volte a fazer citações a suspeitas de corrupção envolvendo militares, o ministro da Defesa e os chefes das Forças Armadas transgridem fronteiras estruturantes de qualquer regime efetivamente democrático.
Nos últimos anos, a prática da intimidação dos poderes da República tem sido crescente por parte das Forças Armadas no Brasil. Em 2015, o hoje vice-presidente Hamilton Mourão, então general do Comando Militar Sul, protagonizou uma séria crise ao criticar o governo federal. Em 2018, o comandante do Exército, General Villas Boas, proferiu uma grave ameaça ao STF, na tentativa de influenciar a decisão da Corte Suprema. Em 2020, o então ministro da Defesa, General Azevedo e Silva, participou de manifestações antidemocráticas.
Infelizmente, há uma confusão de papéis entre as Forças Armadas e o governo de Jair Bolsonaro atualmente, com um grave risco para a reputação e consistência das próprias Forças Armadas. Hoje, mais de seis mil militares ocupam cargos políticos e da administração pública brasileira. Postos políticos eminentemente civis estão sendo assumidos por chefes do Exército. Assim como os militares estão participando cada vez mais da política, a política tem entrado cada vez mais nos quartéis, autorizados por membros da alta cúpula, como o general da ativa Eduardo Pazuello, que frequentou ato político do presidente da República, sem ser punido, contrariando o regimento militar.
O governo federal, grande responsável pela desastrosa gestão da pandemia, que ceifou tantas vidas desnecessariamente, sob liderança, importante ressaltar, do já citado general Pazuello, tem se mostrado essencialmente autoritário, com ambições golpistas e contrárias ao regime democrático. E agora, sabemos com fatos, também um governo permeado por graves suspeitas de corrupção.
A política é uma arena de encontro e diálogo entre civis. A sombra das armas não pode e não deve estar presente nos tensionamentos naturais da vida pública. Ao mesclar-se com o governo federal e trazer para si o atual projeto político, as Forças Armadas ficam suscetíveis aos confrontos inerentes à vida democrática e rompem preceitos constitucionais ao proferirem ameaças dessa natureza.
As Forças Armadas vêm sinalizando obediência primeira ao presidente e a seu projeto político, e não ao País. Jair Bolsonaro reafirma diariamente seu compromisso em se manter no poder a qualquer custo. É fonte de grande preocupação da sociedade civil abaixo assinada as mãos dadas entre o autoritarismo do presidente e as armas dos militares. As instituições da República precisam responder à altura a fim de defender a democracia no Brasil.
Assinam as seguintes organizações:
- ABI (Associação Brasileira de Imprensa)
- Abong
- Ação Educativa
- Andeps - Associação Nacional da Carreira de Desenvolvimento de Políticas Sociais
- Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
- Associação Amigos do Piraquê-açu
- Associação da Parada do Orgulho LGBT de Santos
- Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo
- Artigo 19
- AVAAZ
- Centro de Convivência É de Lei
- CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
- Congresso em Foco
- EIG Evangélicas pela Igualdade de Gênero
- Elas No Poder
- Engenheiros Sem Fronteiras - Brasil
- Esquina Democrática - Jornalismo Livre e Independente
- Federação Internacional de Cineclubes - Grupo Latino Americano
- Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
- Frente Nacional de Mulheres na Política
- Fundação Tide Setubal
- Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares - GAJOP
- Grupo de Estudos Democratismo
- Instituto Brasileiro de Análise Econômica e Social - Ibase
- Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
- INESC Instituto de estudos socioeconômicos
- Iniciativa negra por uma nova política sobre drogas
- Instituto Diplomacia para democracia
- Instituto Cidade Democrática
- Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB)
- Instituto de Defesa do Direito de Defesa - IDDD
- Instituto de Governo Aberto
- Instituto Hori - Educação e Cultura
- Instituto Physis - Cultura & Ambiente
- Instituto Socioambiental - ISA
- Instituto Soma Brasil
- Instituto Talanoa
- Kurytiba Metropole
- MORHAN = Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase
- Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil
- Ocupa Política
- Oxfam Brasil
- Protesto Sem Covid
- RCA - Rede de Cooperação Amazônica
- Rede Brasileira de Conselhos
- Rede Feminista de Juristas - deFEMde
- Rede Justiça Criminal
- Rede LGBTI Família Stronger
- SINDICATO DOS TRABALHADORES DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ / ASFOC SN
- Transparência Brasil
- Transparência Capixaba
- União Nacional dos Estudantes - UNE
- UNEGRO
- Zanzalab
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