Nota vermelha no Índice de EAD

Nota vermelha no Índice de EAD

Por Elida Oliveira, G1     

Ensino remoto implantado após fechamento das escolas chegou a outubro de 2020 com falhas, aponta pesquisa. — Foto: UFT/Divulgação

Ensino remoto implantado após fechamento das escolas chegou a outubro de 2020 com falhas, aponta pesquisa. — Foto: UFT/Divulgação


O Índice de Educação a Distância, criado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) após análise das ações adotadas entre março e outubro de 2020, apontou deficiências na implantação do ensino remoto nos estados com o fechamento das escolas no país.

Pela análise, estados e municípios fecharam o ano com "nota vermelha" por problemas como atraso na implementação do ensino, ineficiência nas ações, descaso com a forma como o aluno acessaria o conteúdo, o que acabou gerando aumento na desigualdade já existente na educação do país.

Entre 10 pontos possíveis, os planos propostos nas redes públicas estaduais tiveram média de 2,38; nas capitais, a rede municipal ficou com 1,6. A nota máxima encontrada foi 5, metade do considerado ideal.

O estudo foi feito pela professora de Ciência Política da USP, Lorena Barberia, que é doutora pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em administração pública e governo, e coordenadora da Rede de Pesquisa Solidária, que analisa as políticas públicas adotadas na pandemia; e os alunos pesquisadores Luiz Cantarelli e Pedro Henrique De Santana Schmalz, da USP.

Os dados indicam como as redes chegaram a outubro de 2020, e não refletem mudanças feitas após o início do ano letivo de 2021.

"O índice confirma a hipótese de que os planos de educação à distância foram relativamente mal estruturados", escrevem os pesquisadores.

Eles reconhecem que, em um primeiro momento, estes aspectos poderiam estar relacionados à expectativa de retorno às aulas presenciais. Mas, depois, os governos demoraram para decretar políticas de acesso à internet, negligenciaram quem deveria supervisionar os alunos e o resultado foi ter "estudantes à deriva". Em 2021, com o novo ano letivo, alguns problemas foram mitigados, segundo os pesquisadores.

"Desde o início da pandemia temos nos esforçado para enfatizar que avaliamos o que está publicamente disponível, ou por decreto, ou por protocolo em site oficial do governo. Não é suficiente ter uma fala de secretário dizendo que estão fazendo algo. Precisamos ter evidências de que isso está sendo transmitindo de forma concreta", afirma Barberia.

"Por isso fomos atrás de olhar que, se estava oferecendo programa de ensino remoto, cadê este programa, ele está explicado? Como está estruturado? Isso é importante para pensarmos em indicadores. Antes de olhar nos sites, pensamos em quais características eram importantes para o ensino remoto e, depois, fomos olhar se os programas atendiam estas demandas", diz.

De acordo com a análise, houve:

Atrasos: a educação à distância demorou a ser implementada, deixando alunos sem atividades, tanto na rede municipal quanto estadual

Ineficiência: os planos foram desenhados sem levar em conta os problemas para serem implementados, como o acesso às tecnologias necessárias

Exclusão: os tipos de programas introduzidos exacerbaram desigualdades educacionais preexistentes

A implantação do ensino remoto em 2020

Imagem de setembro de 2020 mostra salas de aula vazias nas escolas de BH, fechadas em março daquele ano por causa da pandemia. — Foto: TV Globo

Imagem de setembro de 2020 mostra salas de aula vazias nas escolas de BH, fechadas em março daquele ano por causa da pandemia. — Foto: TV Globo


Os pesquisadores levantaram que, em média, foram 34 dias sem aulas nas redes estaduais. ES, RS e TO são os estados que mais demoraram a desenvolver a política, deixando os alunos 100 dias sem aulas (quase três meses). Já o Amapá apresentou programa no dia seguinte ao fechamento das escolas. Nas capitais, a média de atraso foi maior, de 43 dias.

Os autores destacam que as escolas foram fechadas para evitar a propagação do vírus, mas que, sem atividades, o aluno poderia não ver motivos para ficar em casa.

"A falta de programas de educação pode ter afetado indiretamente e aumentado o risco de infecção para populações mais pobres dependentes do ensino público dado que os estudantes teriam menos motivos para permanecer em casa", afirmam os autores.

Para Barberia, os números mostram que, ao longo de 2020, uma parte significativa de ano escolar não teve ensino estruturado para a maioria dos alunos das redes estaduais e municipais.

Segundo a autora, o atraso na implementação do ensino remoto explica por que as notas foram baixas. "Se a escola fechou, e se não foi neste mesmo dia anunciado programa de ensino remoto, este dia já começa com zero", explica.

Além disso, a análise apontou que após a demora para serem implementadas, as estratégias de educação a distância apresentadas continham falhas.

Os planos de ensino foram desenhados sem levar em conta os problemas para serem implementados, como o acesso às tecnologias necessárias. " Poucos estados investiram em transmissão por rádio ou televisão", afirma Barberia.

"Nossa pesquisa mostra que poucos programas buscaram mitigar ou reduzir o impacto da pandemia e do fechamento de escolas sobre as populações mais vulneráveis", afirmam no artigo. "Os programas de educação remota apresentados tendem a exacerbar desigualdades preexistentes."

Supervisão de alunos

Outro ponto importante encontrado no levantamento foi a definição sobre quem deveria supervisionar o aluno – ou seja, monitorar o acesso às aulas e acompanhamento do conteúdo.

"Quando fomos olhar os programas, não ficou claro se era obrigatório participar das aulas, como seria feita a supervisão, havia lista de presença? Tenho chance de interagir com professores e receber monitoramento sobre minha participação? Isso foi outra área que nos preocupa porque sempre procuramos enfatizar que ensino é interação entre aluno e professor", explica Barberia.

"A educação acontece quando transmito conhecimento e recebo dos alunos registro da experiência deles, dificuldades, questionamentos. Este olhar é importante enfatizar porque ensino remoto é um tipo de atividade que é mais complexo de se organizar do que só transmitir aulas online. Não é live", afirma Barberia.

Uma outra pesquisa, feita pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Itaú Social divulgada em março deste ano aponta que na rede municipal, as atividades remotas se concentraram no envio de atividades por WhatsApp ou de materiais impressos.

Para 78,6% dos respondentes, a conectividade dos alunos foi apontada com grau de dificuldade de médio a alto para a continuidade da educação no ano passado.

 

https://g1.globo.com/educacao/volta-as-aulas/noticia/2021/06/22/em-2020-indice-de-educacao-a-distancia-deu-nota-vermelha-a-estados-e-municipios-diz-estudo.ghtml 




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