Nova velha Pandemia
NOVA VELHA PANDEMIA
Cresci ouvindo meu avô contando sobre a pandemia de 1918. A tal “Gripe Espanhola”.
Vovô Nelson, dizia que não havia discriminação para o contágio. Dos mais humildes aos mais abastados, foram alcançados por este terrível flagelo. O presidente da República na época - Rodrigues Alves, havia sido reeleito mas, adoeceu com a gripe e não tomou posse. Assumiu o cargo como presidente interino Delfim Moreira. E Rodrigues Alves veio a falecer em 1919.
O comércio foi todo fechado e as pessoas, aterrorizadas, não saiam ás ruas.
As forças Armadas foram convocadas para retirar os mortos, que os próprios familiares jogavam nas calçadas da capital do Brasil (Rio de Janeiro), com medo de contraírem a “ gripe”.
Nunca estudei tal fato na escola, mas por curiosidade, alguns anos atrás, fiz uma pesquisa e os números foram alarmantes...
A peste chamada de “Gripe Espanhola”, deve-se ao fato que a imprensa daquele pais, anunciava, livremente a doença e o número de vítimas fatais. A divulgação foi possível pois a Espanha não participara da Primeira Guerra Mundial e, consequentemente, não era considerada como segredo de estado. Quando o Rei da Espanha Rei Afonso XIII caiu doente, o fato espalhou-se e assim associado por todos os cantos do planeta como “Gripe Espanhola”
A Primeira Guerra Mundial ocorreu de 1914 a 1918. Estima-se que 17 milhões de pessoas, entre soldados e civis, tenham morrido.
Segundo relatos, a Gripe Espanhola causou mais de 50 milhões de mortes.
Tida como a primeira grande Pandemia, ela se espalhou com o retorno dos combatentes da guerra aos seus países.
Lembrando desta história, percebo o quão é necessário aprendermos com o passado.
Pequenas escolhas fazem a diferença.
Em 28 setembro de 1918, foi promovido um desfile militar na Filadélfia com intuito de arrecadar fundos para I Guerra Mundial que ainda acontecia na Europa. Cerca de 200 mil pessoas lotaram as calçadas, participando do evento e comprando títulos de guerra. Após 72 horas do evento, todos os 31 hospitais da cidade estavam lotados, chegando ao óbito 12 mil habitantes.
Depois do ocorrido, outras localidades nos Estados Unidos tomaram ações radicais, como no caso de Sant Louis, onde o o secretário de saúde - Max Starkloff, teve carta branca para tomar as decisões. No início de outubro de 1918, interditou a cidade, fechando os bares, cinemas, escola e cancelou todos os eventos esportivos e religiosos. Em novembro de1918 como a gripe mantinha o crescimento da infecção, restringiu ainda mais o isolamento fechando as maiorias das empresas, deixando apenas em operação os bancos, jornais e fabricantes de caixão.
Na época ainda não haviam descoberto a penicilina. Inicialmente os médicos achavam que se tratava de uma bactéria, até chegarem a constatação que era um vírus...
No Brasil a pandemia entra pelos Portos. Há registro que em 14 setembro de 1918 o navio inglês "Demerara", vindo de Liverpool, passando por Lisboa, desembarca pessoas infectadas pela doença nos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro (capital do Brasil). No mesmo mês, militares Brasileiros retornando de Dakar, desembarcaram doentes no porto de Recife. Em pouco mais de duas semanas, surgiram casos de gripe em outras cidades do Nordeste alastrando por todo o país.
Infelizmente, na época o desconhecimento era grande e as autoridades brasileiras não deram a devida importância as notícias vindas da Europa sobre os sofrimentos provocados pela pandemia de gripe Espanhola. O desconhecimento era tanto que se acreditava que o oceano impediria a chegada do mal ao Brasil. Infelizmente, este foi um grande engano.
Rapidamente os hospitais de todo o país ficam abarrotados. O ano letivo foi encerrado. As escolas foram fechadas e os alunos aprovados automaticamente para próximo ano letivo sem exame final. Os bondes trafegavam vazios. Todo comércio fechado, à exceção das farmácias, onde pessoas procuravam pílulas e tônicos que prometiam a cura da doença mortal.
Teatros, cinemas, além de lacrados, são lavados com desinfetante.
No Dia de Finados, as pessoas foram proibidas de ir aos cemitérios para evitar as multidões, mas também impedir uma visão aterrorizante dos corpos a serem sepultados.
Os jornais anunciavam remédios milagrosos que diziam ter a capacidade de prevenir e de curar a gripe.
Água tônica de quinino, balas à base de ervas, fórmulas manipuladas com ervas milagrosas. Como a procura foi grande, as farmácias elevam os preços. Na capital do Brasil (Rio de Janeiro), a prefeitura tabela o preço dos remédios.
Diante de uma doença mortal e a falta de informação, a população fica apavorada e acredita em qualquer promessa de salvação. (Algo semelhante?)
No auge da infestação é decretada a distribuição de remédios e alimentos, improvisando enfermarias, construção de hospitais de Campanha, implantando 27 novos pontos de atendimento. Utilizando escolas, clubes e igrejas e convocam médicos particulares e estudantes de medicina.
Com o grande número de mortos diários, corre o rumor no Rio de Janeiro, que a Santa Casa de Misericórdia abrevia a morte dos doentes terminal para liberar leitos.
A história conta que havia um “chazinho” dado aos pacientes na calada da noite. Nasce, assim, a lenda do “chá da meia-noite”. Os jornais da época apelidaram o hospital de “Casa do Diabo”.
A Gripe Espanhola entra em setembro no Brasil, assola todo país com mais de 35 mil mortos e finalmente em dezembro de 1918 já não é computado mais casos de infectados.
O contágio foi enorme entre os meses de setembro e novembro, quando chega dezembro o vírus praticamente não tem mais quem infectar.
Assim como entrou, sumiu...
A gripe Espanhola foi causada pelo H1N1, vírus extremamente agressivo e mortal.
Quem diria que em 2020, com tanta tecnologia, avanço na Medicina iríamos viver uma situação parecida.
É obvio que o Coronavirus (COVID-19) tem um alto grau de contágio, mas não é tão mortal como o H1N1.
Temos que aprender com o passado e nos isolarmos, tomando todas as precauções. O quanto antes, mais cedo ele dissipará!
Maria Elisa Corbisier