O aperto financeiro dos idosos
O aperto financeiro dos idosos
O avanço constatado no Estado é superior à média nacional
26/6/2023
É preocupante o movimento de aumento do número de idosos inadimplentes no Rio Grande do Sul. No último mês de abril, eram 745 mil gaúchos com 60 anos ou mais que não estavam conseguindo pagar os seus compromissos financeiros, quantidade 38% superior à observada no mesmo mês de 2019. Os dados são da Serasa Experian.
Essa população segue como alvo preferencial de abordagens abusivas por parte de empresas de serviços financeiros
O avanço constatado no Estado é superior à média nacional (34,7%) no período. Deve-se atentar ainda que o Rio Grande do Sul tem a maior proporção do país de idosos na população. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a fatia passou de 13,8% em 2012 para 19,5% no ano passado. A inadimplência elevada é um fator que reduz a capacidade de consumo e limita o potencial de a economia crescer impulsionada pelo mercado interno.
Há uma série de fatores que podem estar contribuindo para essa situação inquietante e que merece atenção especial para que sejam encontradas saídas. Os ganhos das aposentadorias, em regra, não acompanham a inflação, em especial nos últimos anos, quando o país também passou por uma escalada no juro. Essa é uma faixa etária que despende muitos recursos com remédios e cuidados médicos. São classes de despesas que comprometem uma parte cada vez maior dos benefícios. Ao mesmo tempo, em muitos lares os idosos são o esteio financeiro. Acabam arcando com as contas cotidianas do domicílio e, não raro, familiares ainda fazem empréstimos em seus nomes, pela facilidade do consignado com desconto em folha.
Especialistas chamam atenção para este ponto do crédito. A população idosa segue como alvo preferencial de abordagens abusivas por parte de empresas de serviços financeiros. Vazamentos de dados cadastrais fazem com que sejam insistentemente procurados por estes agentes, que não prezam necessariamente pela ética na tentativa de fechar empréstimos. São recorrentes os relatos de idosos que se dizem surpreendidos ao descobrirem que tomaram crédito. Muitas vezes, por não compreenderem bem operações realizadas especialmente por contato telefônico. Assim se cria a bola de neve do endividamento, que se transforma em inadimplência e em dificuldades crescentes para ter disponível o básico para uma sobrevivência digna.
A solução ideal passaria especialmente por uma melhor educação financeira, mas sabe-se que pelo perfil diverso de instrução desse público, na prática é uma alternativa que seria difícil de se efetivar para uma grande parcela dos idosos. Mesmo assim, seria importante uma maior conscientização, com o auxílio dos familiares, sobre os riscos de ofertas que parecem tentadoras. Ainda é necessário, de outra parte, encontrar formas de inibir mais as abordagens maliciosas. Mas, mesmo assim, se o problema ocorrer, ainda é possível buscar apoio em órgãos de defesa do consumidor e na Defensoria Pública.
Quando estiver disponível, o Desenrola Brasil, previsto para entrar em operação no próximo mês, pode ser uma saída para tentar escapar do redemoinho das dívidas e da inadimplência. É um programa que promete beneficiar principalmente cidadãos com renda de até dois salários mínimos, negativados por não terem conseguido pagar débitos de até R$ 5 mil. A conferir se, de fato, será capaz de auxiliar dezenas de milhões de brasileiros, como promete.
Em outra frente, o governo federal também editou na semana passada decreto que eleva o valor do chamado “mínimo existencial” de R$ 303 para R$ 600. Refere-se ao montante da renda do cidadão que não pode ser bloqueado por instituições financeiras ou cobrado no consignado. É uma medida voltada especialmente a proteger superendividados, que acabam com dificuldades para arcar com as despesas básicas. Um melhor cenário se confirmaria ainda se o país conseguisse entrar em um período duradouro de inflação mais baixa, casado com um ciclo de diminuição do juro.