O avanço da educação a distância
Investimento em tecnologia é fundamental para o avanço da educação a distância
Instituições investem em novidades tecnológicas e metodológicas para proporcionar experiências práticas em cursos a distância, aumentando a procura pela modalidade
16/12/2022 PADRINHO AGÊNCIA DE CONTEÚDO
Uma coisa leva para outra: cursos de graduação e especialização na modalidade de Ensino a Distância (EAD) são cada vez mais procurados porque investem em qualificação e inovação. E vice-versa: conforme aumenta a procura, mais fica justificado o investimento. Segundo o Censo do Ensino Superior de 2021, o aumento no número de vagas em cursos a distância foi de quase 24%, levando os 3,7 milhões de alunos da EAD a ocuparem uma fatia superior a 40% do total de universitários do país.
Essa procura se intensificou durante e após a pandemia, quando instituições, professores e alunos precisaram se adaptar rapidamente a um contato mediado por dispositivos eletrônicos. Entre os pontos que ajudam a conquistar os alunos está a evolução tecnológica. Equipamentos de realidade aumentada e laboratórios virtuais oferecem uma experiência que se aproxima bastante da vivida em aulas presenciais.
— Temos a tecnologia a nosso favor. Os alunos já aprendem com games e com tecnologia fora do ambiente educacional. A educação precisa andar junto com a sociedade e os avanços da conexão em rede — defende a gerente Acadêmica e de Conteúdo da +A Educação, Daiana Rocha.
Os recursos digitais também servem para dar à EAD um caráter de socialização que até algum tempo só era experimentado presencialmente. A pró-reitora de Ensino da Feevale, Angelita Renck Gerhardt, explica que a plataforma de aprendizagem utilizada pela instituição permite que se trabalhe praticamente como se estivesse em sala de aula — ou melhor, em salas, no plural, pois é possível mudar de ambiente e fazer dinâmicas de grupo.
— Estamos migrando para um novo ambiente virtual, onde os alunos terão mais de 200 laboratórios à disposição para cursos presenciais e a distância — conta.
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Remoto e presencial juntos
A semelhança entre as modalidades, aliás, parece cada vez mais real. Tudo para atender a uma sociedade que entendeu a oportunidade de resolver muita coisa sem sair de casa ou do trabalho, mas que continua precisando da interação social para ensinar, aprender e fazer negócios. Na Univates, a aposta é no hibridismo. Enquanto os cursos presenciais receberam ainda mais tempo de atividades remotas depois da pandemia, a EAD conta com experiências práticas de forma física em sala de aula.
— Mesclamos a presencialidade dos componentes que exigem postura mais "maker", mão na massa, com componentes a distância sempre que for mais adequado para esse aluno que quer estudar dentro das condições de seu contexto de vida — explica a vice-reitora e pró-reitora de Ensino, Fernanda Storck Pinheiro.
A chegada de concorrentes de fora do Rio Grande do Sul acendeu o sinal de alerta e fez com que as instituições gaúchas aumentassem a atenção aos cursos a distância. Nos próximos anos, elas pretendem despender alguns milhões de reais na qualificação da estrutura e de seus professores e técnicos para continuarem competitivos e oferecendo ensino de qualidade.
Confira, a seguir, o que algumas delas estão projetando:
Aplicação prática para agregar valor aos curso
Pode parecer contraditório, mas é isso mesmo. Com os equipamentos e sistemas certos, as instituições promovem experiências que antes eram exclusividade de aulas presenciais. Além de oferecer cursos de educação continuada na área da saúde, a edtech +A Educação tem conteúdos replicados por outras instituições de ensino, alcançando mais de 100 mil alunos.
Segundo Daiana Rocha, gerente Acadêmica e de Conteúdo, a preocupação é sempre com a parte humana — o foco está em projetos práticos que ajudem o aluno a agregar sentido ao que está aprendendo. A realidade virtual tem um grande papel nesse processo. Na sede da instituição, em Porto Alegre, uma sala de imersão reúne tecnologias como óculos de realidade aumentada, vídeos 360º e 3D.
Alunos de cursos de Engenharia experimentam a sensação de estar em um canteiro de obras, por exemplo, sem saírem de casa. No ambiente virtual, podem selecionar equipamentos de proteção, materiais para a construção e fazer vistorias, entre outras atividades. É possível ver e ouvir a construção em andamento.
Na área da saúde, o estudante pode escutar a respiração de um paciente, medir a pulsação e fazer a anamnese. Tudo isso com a possibilidade de erro e acerto, o que é fundamental para a aprendizagem, mas sem riscos para a integridade física. Graças à tecnologia, a EAD já oferece esse tipo de experiência que, antes, era restrita às aulas presenciais.
Enquanto isso, no acesso remoto ganha força o conceito LXP (da sigla em inglês para Learning Experience Platform). É a integração de todo o ecossistema de conteúdo de forma acessível e com diferentes formas de apresentação. Nos próximos três anos, a edtech +A Educação projeta investimento de R$ 100 milhões no desenvolvimento de novos conteúdos e tecnologias. Para o CEO, Celso Kiperman, apenas uma coisa não muda: o papel do professor.
— Haverá, cada vez mais, uma convergência entre presencial e virtual, o que resultará em uma educação híbrida. O professor continuará sendo figura importante na educação mediada por tecnologia — projeta.
Análise de dados para dar suporte aos alunos
Para que os alunos pratiquem o que aprendem, as instituições combinam momentos remotos com encontros presenciais — até o limite de 30% da carga horária, conforme a legislação permite. Na Univates, em Lajeado, cursos como os de Gastronomia e Estética, lançados recentemente, usam essa estratégia.
— Essa é uma tendência que veio para ficar. Além de ser um ensino cada vez mais customizado para o estudante encontrar sua forma mais interessante de estudar e de aprender — defende a vice-reitora e pró-reitora de Ensino, Fernanda Storck Pinheiro
O hibridismo aparece também nos cursos presenciais, que contam com atividades remotas em até 40% do tempo. Além das áreas de saúde e engenharia, como na +A Educação, a Univates também aplica sistemas específicos para os cursos de gestão — com softwares que simulam, por exemplo, uma empresa que precisa criar um plano de negócios. Fernanda acredita que o avanço, nos próximos anos, seguirá pelo caminho da interação. Ela cita o protagonismo dos alunos na criação de podcasts e vídeos, além da experimentação em laboratórios virtuais, como a principal tendência.
— Se em um primeiro momento a gente teve uma oferta linear de construção de aprendizagem, a cada nova revisão de material se percebe uma colocação maior de ferramentas que conduzam o aluno a uma postura mais ativa, e não de um mero receptor de informações – analisa.
Para dar dinamismo, os módulos são trimestrais. Os conteúdos são disponibilizados semanalmente e o formato depende de cada curso, já que a customização é uma das preocupações. Conforme a necessidade ou o perfil da turma, são priorizados vídeos, textos, áudios ou outras experiências.
— Nos preparamos com constante curadoria em termos do que há de mais novo no mercado. Estamos inseridos em instituições de referência no mundo, pesquisando o que está se fazendo em outros lugares e que podemos adotar — conta Fernanda.
Hibridismo para garantir experiência completa
Mais do que um canal para transmissão de conteúdos e avaliações, a tecnologia permite que os professores acompanhem de perto o rendimento dos estudantes. É nisso que a Feevale está focada: nos próximos anos, uma ferramenta de análise de dados com solidez está entre os principais investimentos.
— Na presencialidade, é fácil diagnosticar as dificuldades e o professor tomar uma ação. No digital, precisamos de ferramentas e vamos contar com uma bem mais robusta de analytics (análise de dados) — pontua a pró-reitora de Ensino, Angelita Gerhardt.
Os professores vão saber a forma como cada aluno estuda, os horários que organiza, como realiza atividades, o tempo necessário, entre muitas outras informações. Assim, podem traçar um perfil detalhado e intervir quando necessário. Nos próximos três anos, a instituição também vai ampliar o uso de realidade aumentada, laboratórios virtuais e projeções em 3D. O investimento anual será de R$ 1,4 milhão até 2025.
Os estudos no ambiente virtual são organizados por roteiros, que incluem vídeos gravados pelos próprios professores, apresentações, infográficos e outros recursos interativos. Muitos estudantes montam grupos de estudos e se encontram semanalmente ou a cada duas semanas na instituição, além de atividades mediadas por professores e tutores – que não são obrigatórias, mas têm boa adesão.
Os módulos são trimestrais e chegam a contar com até 16 atividades presenciais ou síncronas com os professores. Os alunos da EAD são convidados para todas as atividades que ocorrem presencialmente, nos polos ou na sede — não apenas do curso, mas também outros da instituição e de diretórios acadêmicos. Durante os encontros e as aulas síncronas, os estudantes fazem estudos de casos e outras atividades dinâmicas que buscam consolidar a aprendizagem dos conteúdos que acessaram pelo ambiente virtual de aprendizagem.
Como funciona a rotina de trabalhos, pesquisas e avaliações nos cursos a distância
Trocas entre alunos e professores via plataformas e apresentações em formato remoto e presencial fazem parte das avaliações EAD
16/12/2022
Uma rotina que costuma envolver aquela correria de pesquisa na biblioteca, aulas de diferentes disciplinas, planejamento de estudos, apresentação de trabalhos e preparação para provas. Os movimentados corredores das escolas e universidades ainda são o cotidiano de muitos estudantes, mas a Educação a Distância (EAD) permitiu que todos esses afazeres pudessem ser realizados dentro de casa. Mas como funcionam os processos avaliativos nesta modalidade?
Cada instituição tem suas particularidades, mas algumas regras delimitadas pelo Ministério da Educação (MEC) valem para a grande maioria dos cursos. De acordo com a pró-reitora de Ensino da Universidade Feevale, Angelita Renck Gerhardt, a pandemia modificou algumas dessas orientações.
— As avaliações podem ser a distância e presenciais. Até o ano passado, as instituições deveriam realizar ao menos uma prova presencial por período letivo, mas, durante a pandemia, o MEC alterou essa regra. Hoje todas as provas podem ser a distância — explica Angelita.
Quanto aos trabalhos apresentados nas disciplinas, a pró-reitora explica que isso é definido a partir da proposta pedagógica de cada curso, podendo flexibilizar de acordo com a situação a exigência de trabalhos presenciais ou a distância. Nas licenciaturas, por exemplo, é necessário que o aluno realize práticas e estágios de forma presencial. Para os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), a diretriz nacional é a mesma para a modalidade presencial ou a distância: se o curso prevê TCC, a regra vale para ambas modalidades.
Na EAD, há orientações e apresentações online. Mesmo que o ensino a distância seja realidade há algumas décadas no Brasil, ainda existem dúvidas quanto ao acompanhamento da evolução dos alunos. Porém, há uma preocupação unânime entre as instituições para o bem-estar do estudante e o desenvolvimento de novas habilidades.
— A instituição acompanha individualmente a evolução dos estudantes durante seu percurso formativo a partir da tutoria e da coordenação de curso, encaminhando-o, quando necessário, ao plantão com o professor ou aos serviços de apoio, como psicopedagogia e psicologia — explica Angelita.
Além do acompanhamento dos alunos ao longo dos semestres, algumas instituições já estipulam desde o início do curso o momento de suas atividades presenciais. No caso da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o processo avaliativo é realizado em duas etapas, uma virtual e outra que ocorre nos polos credenciados pela instituição.
— As únicas atividades presenciais são as provas finais de cada disciplina, realizadas no polo de referência de cada aluno, que corresponde a 60% da nota final. Os 40% restantes são compostos por atividades realizadas por meio das ferramentas do ambiente virtual de aprendizagem. Nas avaliações virtuais, os estudantes realizam tanto atividades individuais quanto de interação com outros colegas, resolvendo desafios e situações-problema propostos pelos professores no processo de mediação da aprendizagem — orienta a coordenadora acadêmica da EAD da Ulbra, Simone Soares Echeveste.
A professora relembra que, mesmo se tratando de atividades mediadas pela tecnologia, há uma preocupação de tutores e coordenadores para que as avaliações apresentem metodologias ativas e que fomentem o protagonismo do aluno.
— Por se tratar de um processo avaliativo crescente e acumulativo, o aluno consegue, ao final, observar suas transformações durante sua trajetória na disciplina, resultando em uma grande satisfação frente aos resultados obtidos — avalia Simone.
Como funciona no ensino técnico
Nos cursos técnicos, a proposta também segue o ritmo de avaliar o aluno de forma contínua e acompanhá-lo de perto, mesmo que o formato remoto possa parecer algo distante. Para a coordenadora pedagógica dos cursos Técnicos EAD do Senac-RS, Eloisa Marques Cardoso Varela, o modelo de avaliação é pautado no desenvolvimento de competências.
— Entendemos "competência" como uma ação ou fazer o profissional observável, potencialmente criativo, que articula conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, permitindo desenvolvimento contínuo. O objeto da avaliação está centrado na formação para o mercado de trabalho e alinhado ao perfil profissional de conclusão de cada curso — sustenta Eloisa.
Dentro da metodologia dos cursos oferecidos pelo Senac-RS, as avaliações são realizadas por meio de indicadores, que são “fazeres” do mundo do trabalho e, por meio deles, é possível identificar o desenvolvimento de competências que são pedidas nos perfis profissionais de conclusão de curso. Eloisa reforça que os professores possuem um papel central nesse processo, pois são responsáveis por todo o planejamento, a mediação e a avaliação das situações de aprendizagem significativas, que contribuem para que se possam atingir os objetivos educacionais propostos nos cursos técnicos.
— Além disso, há muito reconhecimento por parte dos estudantes sobre a importância das atividades e a interação dos docentes via ambiente virtual de aprendizagem, o que contribui para o protagonismo do aluno, sendo ele o sujeito do seu processo educativo — conclui
Metodologias para mensuração
Confira abaixo quatro maneiras de avaliar alunos na modalidade:
1 - Prova dissertativa
Parece complexo, mas é um modo de avaliação presente no formato remoto. Para um resultado mais efetivo, na maioria dos casos é estipulada uma data-limite para a realização da prova nas plataformas utilizadas pelas instituições.
2 - Prova objetiva
As provas objetivas são mais simples de serem realizadas e também é comum que tenham um prazo para a sua realização dentro das plataformas de cada curso ou universidade. Algumas, inclusive, estipulam um tempo mínimo para o preenchimento das questões.
3 - Seminários
Os seminários realizados durante as aulas síncronas (em formato remoto, porém ao vivo) geram discussões sobre os temas abordados nas disciplinas e são uma das formas de avaliação mais utilizadas na EAD. Em alguns casos, o aluno é provocado a buscar textos sobre uma temática em diferentes veículos, agregando informações para além das trazidas pelos professores. Também podem ser realizados seminários de um texto específico ou mesmo de um autor que se encaixe na proposta.
4 - Sala de aula invertida
Uma das chamadas metodologias ativas mais utilizadas no ensino a distância, a sala de aula invertida promove o protagonismo do aluno e permite uma avaliação abrangente de suas capacidades de aprendizado. A ideia é que os estudantes aprendam sobre um conteúdo previamente e o apresentem para a turma. Cabe ao professor esclarecer algumas dúvidas que podem surgir durante o processo de pesquisa.
Quais são os cursos a distância mais procurados no Brasil
Pedagogia é a campeã nas instituições públicas e privadas e área de negócios também cresceu
16/12/2022
O último Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e divulgado no começo de novembro, aponta a graduação em Pedagogia como o curso mais procurado por estudantes brasileiros em Educação a Distância (EAD). Com base em dados coletados em 2021, foram cerca de 570 mil novas matrículas de estudantes interessados nos processos de ensino e aprendizagem em cursos oferecidos no formato remoto.
Nesta edição, o Censo registrou 2.574 instituições de Ensino Superior, sendo 87,68% privadas e 12,2% públicas, e apresentou algumas informações históricas para a educação a distância no Brasil. O aumento das matrículas em cursos EAD mostra a consolidação da modalidade. Só na rede privada, 70,5% dos ingressantes em cursos de graduação optaram pela modalidade remota. Apesar de ser uma realidade no Ensino Superior do Brasil desde 1999, a Educação a Distância teve crescimento na última década. Para se ter uma ideia, no Censo de 2020, realizado após os primeiros meses da pandemia, pela primeira vez as graduações a distância receberam mais alunos novos do que os cursos presenciais, informação que se repetiu no ano passado.
O último levantamento também destacou um crescimento da procura por cursos de licenciatura a distância. Cerca de 77% dos estudantes que iniciaram uma formação como licenciado em 2021 optaram pelo formato. Isso mostra que grande parte dos futuros professores da educação básica do país serão provenientes de uma formação a distância, dado até então inédito.
O coordenador do programa de Educação a Distância da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Luís Paulo Munhoz, acredita que há um interesse pela profissão de professor entre os alunos que optam pela Educação a Distância.
— Há áreas de trabalho mais amplas, como a tecnologia, e também cursos de valores mais acessíveis. Porém, percebemos que o aluno escolhe a pedagogia por ter interesse na carreira docente — observa Munhoz, que destaca o aumento da presença de pedagogos na área corporativa.
Nas rodas de conversas organizadas na UCS, segundo ele, é possível conhecer o perfil do aluno que procura a EAD da instituição. Entre os matriculados em Pedagogia, inclusive, é comum encontrar pessoas com formação em outras áreas que buscam uma atualização de conhecimentos e novas possibilidades para o desenvolvimento profissional.
— Também é interessante ver que esses professores formados na EAD ganham condições de atuar nesta modalidade de uma forma mais aprimorada — conclui.
Campeões de matrículas
Confira os cursos EAD com mais alunos brasileiros em 2021:
Instituições de Ensino Superior privadas
- 1º Pedagogia - 557,2 mil matrículas
- 2º Administração - 341,1 mil matrículas
- 3º Ciências Contábeis - 193,1 mil matrículas
- 4º Gestão de Pessoas - 170,4 mil
- 5º Educação Física - 146,4 mil
Instituições de Ensino Superior públicas
- 1º Pedagogia - 12,8 mil matrículas
- 2º Licenciatura em Matemática - 8,5 mil matrículas
- 3º Licenciatura em Letras Português - 7,3 mil matrículas
- 4º Administração - 6,7 mil matrículas
- 5º Administração Pública - 6,6 mil matrículas