O dia da mãe
QUANTAS HORAS TEM O DIA DE UMA MÃE?
AUTOR DESCONHECIDO, citado em Bertrand Livreiros
São horas de levantar.
Acordam-nos com beijos com sabor a café e abrem as cortinas dos dias, para deixar entrar as manhãs.
Espantam-nos os últimos fios de sono presos nos olhos e orientam, com mão firme, colarinhos desalinhados e cabelo em estado de sítio.
Acaba o pequeno-almoço e vai escovar os dentes.
Na ponta da língua, guardam respostas como se soubessem o segredo da vida.
Compõem puzzles e listas de compras, organizam banhos, roupas e dias seguintes.
Desenham sorrisos na sobremesa e arrancam-nos gargalhadas que sabem a amor e canela.
Já fizeste os trabalhos de casa?
Prendem o cabelo, descalçam os sapatos, desabotoam a noite e, sem perder o norte, ajudam-nos a deslindar a equação e a desbravar a semântica.
Não venhas tarde. Tem cuidado.
Esperam-nos, com o peito em alvoroço, nas noites que esticamos com os amigos, rumo às primeiras descobertas.
Põem pensos rápidos no coração das primeiras ilusões e assustam doenças com pratos de canja.
Vai passar.
Escondem as lágrimas e acendem a força quando o caminho se faz longe e escuro.
Farol dos sonhos e campeãs de maratonas, ainda nos olham como se fossemos magia em forma de gente.
Força, eu estou aqui.
Abafam angústias com abraços que nos carimbam na pele um para sempre.
E, quando chega a noite e fechamos os olhos, observam-nos, como se soubessem o segredo da vida.
E sabem.
Boa noite, bons sonhos.
Feitas de ferro e de fogo, de açúcar e mel, as mães inventaram os verbos e ensinaram a coragem a andar.
Para nós, serão sempre eternas e haverá sempre tempo para depois. Amanhã.
Não tens telefonado, estava preocupada.
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Aguarela ©Soosh, Ucrânia
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Cortesia @Mala d’estórias
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(LT)