O erro populacional do IBGE
O erro populacional milionário do IBGE
É deveras reveladora a polêmica que não houve na mídia nacional sobre o erro de 12 milhões de habitantes na população brasileira, no Censo 2022
por Milton Pomar
Deveras reveladora a polêmica que não houve na mídia nacional sobre o erro de 12 milhões de habitantes na população brasileira, cometido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com projeções que colocaram o Brasil em 2022 com 215 milhões de habitantes, dado oficial que consta inclusive de estatísticas de instituições internacionais como o Banco Mundial e altera todos os indicadores elaborados com base na população do país.
Ainda não se sabe se as estimativas estavam erradas, se o Censo 2022 ultrapassou a margem de erro tecnicamente aceitável, ou se ocorreram as duas coisas. Para piorar ainda mais, o IBGE criou enorme confusão com o anúncio, no final de 2022, de projeção de 207,8 milhões de habitantes, que seria baseada nos dados do Censo recém-concluído.
Portanto, chegamos à paradoxal situação de ter três quantidades de população no País – além dos 215 e dos 207,8 milhões de habitantes, anunciados anteriormente pelo IBGE, temos também os 203 milhões divulgados oficialmente como resultado do Censo 2022, dia 28 de junho de 2023.
Diferença de singelos e inaceitáveis 6%, entre o total de 203 milhões do Censo, e os 215 milhões proclamados aos quatro cantos em 2022. Certamente com “n” explicações técnicas. E várias implicações políticas, a começar pela partilha de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), realizada a menor e a maior para centenas de municípios, a partir das estimativas do IBGE nos últimos anos. Tanta diferença não pode ser explicada somente pela mortandade na pandemia, ainda que a omissão e a atuação contrária do desgoverno federal tenham causado muito mais vítimas fatais do que o número “oficial” divulgado pela mídia – as “mortes em excesso” no período 2020/2022 chegaram a 1,1 milhão.
É bem verdade que o ex-ministro da Economia do governo anterior dificultou o que pode o Censo 2020, a ponto dele ser transferido para 2022 (a Covid não impediu a China de realizar o seu em 2020). Adiamento muito prejudicial, a exemplo dos que ocorreram com o Censo Agropecuário, realizado em 2017 e não em 2015, como seria o correto para manter a periodicidade; e com o Censo Demográfico de 1990, realizado em 1991. Mas não sabe exatamente o grau de estrago na qualidade do Censo 2022 que a atuação do ex-ministro tenha proporcionado.
Erros acontecem, e o de US$14,5 bilhões do fluxo cambial pelo Banco Central no ano passado é prova disso – ao invés do saldo, no ano eleitoral de 2022, ter sido positivo em US$9,5 bilhões, como anunciou oficialmente a instituição, ele “na verdade” foi negativo em US$3 bilhões.
Cabe agora ao novo presidente do IBGE, o economista Márcio Pochmann – cuja nomeação foi alvo de ataques patéticos e insinuações caluniosas, por parte de economistas e jornalistas de Direita, em generoso espaço na mídia – realizar investigação para descobrir o que gerou o erro continuado dos últimos anos ou, se não houve erro nas estimativas divulgadas, o que ocorreu com o Censo 2022, capaz de resultar na diferença de 12 milhões de habitantes, quantidade maior do que toda a população do Rio Grande do Sul, por exemplo. Aliás, o estado é exemplo também do erro cometido – em 2016, constava ter 11,3 milhões; pelo Censo 2022, apenas 10,88 milhões.
O Brasil precisa saber porque aconteceu o que aconteceu nas estatísticas do IBGE, e o que fazer para evitar que algo semelhante volte a ocorrer, por várias razões, inclusive porque custará caro para o País e para instituições internacionais refazerem “n” cálculos e estudos que utilizaram dados errados sobre a população brasileira.
Milton Pomar - Geógrafo, Mestre em Políticas Públicas
FONTE:
https://sul21.com.br/opiniao/2023/07/o-erro-populacional-milionario-do-ibge-por-milton-pomar/