O falso dilema
NO FALSO DILEMA SOBRE AS AULAS PRESENCIAIS, O MODELO DE RODIZIO/REVEZAMENTO É OUTRA FACE DO MESMO PROBLEMA
Desde o início, o enfrentamento da pandemia da COVID-19 no Brasil foi desarticulado pela ausência de um programa coordenado pelo governo federal. Em muitos lugares a pandemia não foi levada à sério e muitos estados e municípios tentaram fingir normalidade por meio da flexibilização das orientações recomendadas pelos organismos multilaterais como a OMS, ONU e UNICEF contra o novo coronavírus.
Na educação não tem sido diferente. Além do menosprezo aos riscos existentes com o retorno presencial das atividades de ensino no atual momento, governos estaduais e municipais têm adotado um modelo de revezamento (ou rodízio) de turmas e/ou do número de alunas(os) por sala de aula sugerindo tal medida como uma estratégia de segurança para o retorno das pessoas às salas de aulas.
Esse modelo não é uma opção viável pois esbarra em duas barreiras fundamentais: a falta de testagem e de vacinação em massa da população. Além disso, o rodízio não funciona como inibidor dos contágios porque entre os fatores estão questões básicas como: salas de aula sem adaptação; falta de segurança sanitária no transporte escolar (público e privado); falta de testagem periódica e massiva; crianças e estudantes jovens não são imunes ao COVID-19; falta de pessoas para o trabalho de limpeza, higienização e sanitização; baixo número de pias e banheiros em funcionamento adequado para limpeza e higienização das mãos; e falta de EPIs adequados para educadoras(es), profissionais da educação, funcionárias(os).
As cidades e estados que optaram pelo modelo de revezamento já enfrentam surtos de COVID-19 depois da retomada das atividades presenciais nas escolas municipais, como ocorreu em Campinas (SP). Na região de Maringá (PR), 9 escolas da rede estadual de ensino já foram fechadas na última semana. O Paraná é um dos estados que também adotou o modelo de rodízio. De acordo com a APP Sindicato “a troca semanal de estudantes que vão frequentar as turmas de modo presencial não garante proteção contra a Covid-19. Além disso, os (as) professores (as) não são incluídos no sistema de rodízio e terão contato com todos os estudantes, podendo ser um vetor de transmissão entre os dois grupos e entre seus familiares.
Além do risco de contaminação pela COVID-19, sob o ponto de vista da aprendizagem o modelo de retorno presencial das aulas por rodízio não representa um benefício aos estudantes já que o vínculo escolar continua precário. Em resumo, o retorno presencial de parte dos estudantes – uma semana sim, outra não – não compensa os riscos de contaminação.
No atual momento é preciso oferecer as condições seguras e dignas de todas as pessoas com programas de complementação de renda, de segurança alimentar e nutricional, de proteção à crianças e adolescentes, de combate as violências domésticas, programas de acesso à banda larga, equipamentos de acesso à internet e materiais de apoio pedagógico.
Nesse momento a defesa da vida está em primeiro lugar.
Vacinação para todas as pessoas, já!
Porto Alegre (RS), 22 de fevereiro de 2021
# Dia 4 da Campanha "aulas presenciais: voltar ou não voltar, um falso dilema!"