O medo do comunismo está de volta
O MEDO DO COMUNISMO ESTÁ DE VOLTA: "NÃO CRIEMOS PÂNICO!"
25/10/2022
Ouvi, pela primeira vez, o termo "comunismo", nos idos de 1965, em uma cidade do interior da Bahia, onde morava. Nessa cidade, um homem trabalhador, pai de família, conhecido de todos, havia sido preso, sob a acusação de ser comunista. Nessa mesma ocasião, em meu curso ginasial, o professor de história ministrou uma excelente aula, na qual, explicou o conceito comunismo, ressaltando as principais diferenças entre: Comunismo primitivo; comunismo marxista; e comunismo utópico. Assim, o professor, que era também um pastor batista, explicou que o termo comunismo, em geral, designa qualquer organização política, social, econômica e, mesmo religiosa, cujo fundamento, se assenta na propriedade coletiva dos bens e dos meios de produção desses bens, de modo ordeiro e civilizado.
Assim, explicava o professor, denomina-se "comunismo primitivo", a propriedade coletiva das terras e dos bens, conforme se verificou nas sociedades arcaicas e no patriarcalismo. Quanto ao comunismo utópico, designa o conjunto de teorias de sociedade, que variam de Platão a Thomas Morus, afirmando a necessidade dos recursos e dos bens individuais se tornarem bens coletivos, como condição para a sociedade construir um Estado justo. Nesse particular, o cristianismo primitivo teria adotado uma espécie de comunismo, quando "tinham tudo em comum, vendiam suas propriedades e repartiam com todos, segundo as necessidades de cada um" (At. 2:44-45). Nesse caso, o comunismo é uma espécie de manifestação de solidariedade humana. Portanto, um ideal, presente nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Diante disso, o professor ressalta que o comunismo epistemológico, presente na visão marxista, sucederia à revolução do proletariado e ao perecimento do Estado Socialista, com o aparecimento do "homem comunista", que será definido como "homem novo", cujos pensamentos, sentimentos e atos serão completamente diferentes dos nossos. Assim, esse novo homem estaria nas bases de uma sociedade nova, sem classes, na qual, se daria a realização completa do ser humano, finalmente, livre de qualquer alienação. Na visão de Karl Marx, especialmente, em sua obra "O Capital", essa visão de propriedade coletiva, que está no cerne do comunismo, foi praticada pela comunidade cristã primitiva, fazendo a diferença, em relação ao farisaismo hegemônico.
Vale ressaltar que o termo comunismo, segundo a concepção marxista, está ligado ao materialismo histórico, que privilegia o suprimento das necessidades materiais e não ao materialismo dialético, que tende a negar o metafísico. Assim, o comunismo, na visão marxista, pressupõe comunidade, comunhão, amor fraterno, solidariedade humana, espírito cooperativo. Qualquer deformação, em relação a isso, torna-se semelhante às deformações, que também existem no campo da religião, com base em informações equivocadas ou mesmo má fé. É precisamente esse tipo de religião, assim deformada, que Karl Marx, em sua obra "A Ideologia Alemã" denomina "ópio do povo." Trata-se do uso da religião por pessoas espertas, para enganar pessoas tolas, visando vantagens pessoais.
Em princípio, o Evangelho de Jesus Cristo, se comunica com a revelação da verdade de Deus, em termos de amor, misericórdia, graça e compaixão. No entanto, não faltam pretensos pregadores, transpirando ódio, agressividade, intolerância, arrogância e preconceitos, por todos os pórus. Esses pregadores, na medida em que recebem doações do povo, estão praticando uma espécie de comunismo. Entretanto, trata-se de um comunismo invertido, pois, no lugar de investir os recursos no suprimento das necessidades comunitárias, usam para o enriquecimento ilícito de alguns. Esses, paradoxalmente, costumam se levantar para combater o comunismo, apoiando o arbítrio, como legitimação de seus interesses e conveniências. Qualquer semelhança com o bolsonarismo é mera coincidência.
Para isso, precisam manter as estratégias de dominação, com base nas astúcias que facilitam a manipulação e a enganação. Para conseguir esse fim, porém, contam com a colaboração de dois grandes aliados: O medo e o ódio, irmãos gêmeos da hipocrisia e da falsidade, armas usadas pelos fariseus contra Jesus Cristo e seu ministério. Para Bob Woodward, editor associado do Washington Post, jornalista premiado e cientista social norte-americano, autor do livro "Medo: Trump na Casa Branca", o medo que bate às portas dos cidadãos americanos tem uma causa única: "A presença de Donald Trump na Casa Branca, considerando, por um lado, seu passado assombroso e, por outro lado, seu ódio descabido à China, comportamento inadequado a um chefe de Estado, em um país civilizado."
Diante disso, Salem Nasser, jurista brasileiro, com doutorado em Direito Internacional pela Universidade de Paris, ressalta que o futuro da humanidade está ameaçado pelas estratégias, pouco civilizadas, de imprimir medo nos cidadãos, a fim de dominar a sociedade. Esse medo, de acordo com Nasser, apoia-se nos seguintes fundamentos: Os efeitos dos avanços tecnológicos; as ameças do terrorismo; a crise dos sistemas políticos; o advento das pandemias; os lucros da corrupção; e, finalmente, a eleição de homens, como: Trump, Brexit e Bolsonaro. Assim, se pode constatar que o medo está de volta, mas não precisa ser do comunismo, porque, muito pior do que o comunismo é a religião tomar o nome do Deus da Vida em vão, assumindo a cultura da morte, para legitimar a mentira, o ódio, a corrupção e a exploração do homem pelo homem, em nome de Deus, transformando-se no narcótico, que anestesia a mente das pessoas, no lugar do discernimento que ilumina a mente e inspira a alma.
Enfim, "A Constituição da URSS" de 07 de outubro de 1977, em seu artigo 34, afirma textualmente: "Os cidadãos da URSS são iguais perante a lei, independente da sua origem, situação social e econômica, raça e nacionalidade, sexo, grau de instrução, língua, atitude para com a religião, gênero e natureza da sua ocupação, lugar de residência e outras circunstâncias". Isso significa que a igualdade de direitos é assegurada aos cidadãos em todos os domínios da vida econômica, política, social e cultural. Assim, a base material de garantia da igualdade dos cidadãos perante a lei, comprova que as transformações socialistas conduziram à liquidação completa do direito de explorar o trabalho alheio, isto é, do direito à proprordade privada dos meios de produção. É precisamente isso que incomoda a mentalidade capitalista ocidental, que na falta de conhecimento histórico e de argumentação lógica, parte para a estupidez, através de calúnia e difamação, enganando as pessoas ingênuas, com o fim de dominá-las, em nome da ganância colonizadora. Assim, de tanto ouvir ao longo dos anos pastores e ilustres pregadores atacarem os comunistas como ateus, perseguidores do Evangelho de Jesus Cristo, inimigos da Bíblia que, ao ler os 172 artigos da Constituição da antiga URSS, com seus respectivos comentários políticos, levei um susto. Isso sem falar do progresso atual da religião cristã na Rússia, especialmente, A Igreja Católica Ortodoxa. Finalmente, não criemos pânico, as anteninhas de vinil do Chapolim Colorado vêm detectando que combater o comunismo é, afortiori, combater o espírito cooperativo. Pense nisso!
Um abraço fraterno!
Professor João Ferreira
Jucativa-0233 - 25-10-2022