O melhor lugar para uma criança
A escola não pode deixar de ser o melhor lugar para uma criança esta
por Biga Pereira
O 15 de abril marcou a passagem do dia do desarmamento infantil. A data, cujo objetivo é evitar a violência através da conscientização do uso de armas por crianças (ainda que sejam de brinquedo), se faz ainda mais importante dentro do contexto que estamos atravessando.
Os recentes ataques às escolas, deixam nós mulheres, mães e avós, assombradas, e precisamos falar de forma responsável sobre isso. Antes, as escolas eram o lugar onde as mães deixavam suas crianças com a garantia que elas estariam protegidas, alimentadas e bem cuidadas. Hoje, somados a todos os medos, impotências e inseguranças que acompanham as mulheres, temos a incerteza sobre o que vai acontecer nas nossas escolas.
O aumento de 183% em relação ao total de novos registros de armas de fogo nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, e a postura do ex-presidente ao incentivo do porte de armas tem desestabilizado a jornada de conscientização de desarmamento e a cultura de paz: apenas em 2022, foram oito ataques em escolas.
É necessário, sim, falar sobre o enfrentamento aos ataques, mas pela perspectiva do cuidado: devemos acolher a comunidade escolar mais o que nunca. Precisamos ser parte da solução dos problemas, e não simples vetores que compartilham as imagens que são produto de ódio e intolerância.
Entendo as tentativas de propor soluções imediatas, como o botão de pânico nas escolas e o aumento do policiamento. A sociedade está apavorada, mas o medo pode nos levar a decisões nubladas. Porém, não é com mais medo e mais violência que combateremos este problema imposto. O ambiente de ódio que fomenta comportamentos agressivos exige alternativas que tenham justamente o amor, o afeto e o acolhimento como resposta.
Precisamos dar atenção à saúde mental de educadores, funcionários e estudantes não apenas para tratar traumas causados por ataques, mas para evitar novos problemas. Abordar de forma séria questões como a depressão, o estresse e o bullying, instruindo e acolhendo professores, pais e estudantes.
A cultura de paz precisa ser o norte quando pensamos em formas coletivas de combate à violência nas escolas. Seguir divulgando as publicações (ainda que com a intenção de alertar e denunciar os fatos), é dar, aos que perpetuam o ódio, o holofote que eles buscam. É alimentar o medo, fomentar a intimidação.
O debate sobre uma educação midiática também se faz necessário e urgente em diversos âmbitos: escolas, redações de jornais, meios políticos e civis. O Instituto E Se Fosse Você, dirigido por Manuela D’ávila, faz um trabalho muito sério em nome do combate à desinformação. É nosso dever ouvir e aprender com quem, há anos, estuda e monitora os discursos de ódio nas redes. Só assim poderemos evitar ataques, antes de lamentarmos alguma nova tragédia.
Ao longo da minha caminhada política, estive em muitas creches e escolas. Mesmo naquelas em comunidades mais periféricas, é possível perceber como as crianças gostam de estar neste espaço que é sinônimo de carinho e acolhimento. Como pedagoga de formação, questões como a saúde mental, o desarmamento infantil, o acolhimento às famílias e a proteção aos direitos das crianças perpassam minha atuação enquanto vereadora: acredito na educação como o caminho da construção de uma sociedade melhor. Na escola, nossos pequenos recebem não apenas educação, mas também socialização. O medo não pode tirar um direito básico das nossas crianças. Não podemos permitir que a escola deixe de ser o melhor lugar para uma criança estar.
(*) Biga Pereira é vereadora em Porto Alegre pelo PC do B