O que é o Saeb
O que é o Saeb — e sua importância para a educação brasileira
O Sistema de Avaliação da Educação Básica busca traçar um raio X da qualidade do ensino e da aprendizagem no país. Entenda mais sobre essa prova e sua importância para escolas e estudantes
Por Victor Santos, Rede Galápagos, São Paulo
O Saeb permite um diagnóstico da educação básica do Brasil com informações sobre a
proficiência dos estudantes. Foto: Michele Manoel/itaú Social
Neste segundo semestre de 2023, as escolas brasileiras têm seu radar direcionado para um mesmo acontecimento: entre os dias 23 de outubro e 10 de novembro, ocorrem em todo o país as aplicações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
“É algo muito aguardado — tanto que eu sei que, neste momento em que conversamos, faltam 46 dias para a prova acontecer”, enfatiza o gestor escolar José Couto Júnior, que atua na educação há mais de uma década e, desde 2019, dirige a Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ). “Falo não só pelo Ivone, mas por toda a rede aqui do Rio: temos uma série de preparações e marcos de calendário até chegarmos ao dia do Saeb.”
O diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec, Romualdo Luiz Portela de Oliveira, explica que o sistema foi criado em 1990 e é aplicado a cada dois anos. “Os testes realizados pelos alunos e alunas têm foco em língua portuguesa e matemática e, por serem realizados há décadas, permitem um diagnóstico da educação básica do Brasil, nos informando sobre a proficiência dos estudantes e fornecendo parâmetros sobre como está avançando o aprendizado no país.”
“Quando comecei minha carreira, ali entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990, cada escola podia ter o material e a estratégia que quisesse; não se discutia a ideia de uma educação para a nação”, comenta Angela Luiz, educadora experiente e que atualmente é formadora e coordenadora pedagógica na Comunidade Educativa (CE) Cedac. “Não se questionavam coisas como: ‘O que é importante assegurar em todos os lugares, independentemente de onde o estudante tenha nascido?’. Porque as oportunidades seguem desiguais, mas, se a gente pensar em anos 1990, eram ainda maiores. Então, o Saeb veio para trazer uma perspectiva de que a educação pode ter parâmetros de qualidade.” A seguir, detalhamos esses e outros pontos relacionados a essa avaliação.
Quem participa do Saeb?
De acordo com as diretrizes da edição de 2023 publicadas pelo governo federal, o Saeb avalia a educação infantil (nessa etapa, apenas os profissionais da educação participam); o ensino fundamental — em turmas de 2º, 5º e 9º anos em instituições privadas e públicas —; e o 3º ano do ensino médio.
– No caso do 5º e do 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio, as avaliações são censitárias, ou seja, participam praticamente todas as escolas públicas, mais algumas particulares sorteadas. Os estudantes realizam avaliações de língua portuguesa e matemática, com o mesmo conteúdo das edições anteriores do Saeb [mais detalhes no próximo tópico].
– Já no 2º ano do ensino fundamental, os avaliados são de apenas algumas escolas sorteadas, e o conteúdo já é alinhado à BNCC de língua portuguesa e matemática. Certas escolas públicas e particulares do 5º e do 9º ano, também por sorteio, são escolhidas para fazer testes de ciências da natureza e ciências humanas, igualmente alinhadas à Base.
O que é avaliado pelo Saeb?
Estabelecido há mais de 30 anos, o sistema precede em muito tempo a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e o ensino fundamental, homologada em 2017. Por isso, segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a partir da edição de 2019 o Saeb iniciou uma transição — em que as matrizes que desde 2001 norteiam a construção dos itens que caem na prova estão sendo progressivamente substituídas por matrizes elaboradas em conformidade com a Base.
A partir desse contexto, a coordenadora pedagógica Angela Luiz destaca que “as avaliações censitárias para 5º e 9º anos e para o ensino médio não estão, portanto, tão atualizadas em relação ao currículo, mas são testes bem padronizados no que diz respeito à verificação das aprendizagens. A prova tem um recorte de leitura, no caso de língua portuguesa, e de resolução de problemas, no de matemática”.
Um dos pontos-chave do Saeb, complementa o especialista Romualdo Portela de Oliveira, são as metodologias utilizadas que visam apoiar no processo de gerar dados relacionados à proficiência dos alunos e ao contexto educacional. “Um exemplo é que as provas trazem blocos com questões de testes anteriores, o que permite a comparabilidade para traçar uma série histórica”, resume o diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec. “Outro componente importante é a chamada teoria de resposta ao item: se em um mesmo conteúdo há questões fáceis, médias e difíceis, se o estudante acertou a difícil e errou a fácil, é feita uma compensação no resultado, porque o esperado é o contrário. Isso minimiza o efeito do chute.”
Esses testes, no entanto, são só uma parte do Saeb. A avaliação conta também com questionários aplicados aos próprios estudantes (em papel) e aos professores, diretores escolares e gestores municipais de educação (estes últimos, digitais), com foco em identificar elementos como o nível socioeconômico, a infraestrutura, a capacitação dos educadores, o material educacional, os programas estruturados, os serviços sociais e o acesso a bens culturais de todos naquele contexto. A educação infantil participa somente dessa etapa dos questionários, respondidos apenas pelos profissionais da educação.
Ao descrever como se dá a realização do Saeb, o diretor José Couto Jr. exemplifica que ele segue a linha de uma prova de concurso, com aplicadores externos que vão até a escola. “Aqui na rede do Rio, temos muitas provas sistemáticas, então os alunos do 5º ano possuem certa prática com testes. Já os questionários são bem grandes — se bobear, dá até mais trabalho para responderem do que, propriamente, a prova de língua portuguesa e de matemática. Por isso, é muito importante que eles entendam devidamente como funcionam os cartões-resposta.”
Qual a relevância do Saeb para a educação brasileira?
As avaliações que são censitárias — no caso, as de 5º e 9º anos do ensino fundamental e as do ensino médio — fornecem resultados que são disponibilizados para estados, municípios e para cada escola individualmente. Além disso, esses resultados, aliados ao Censo Escolar (que aponta dados de aprovação e retenção), dão origem ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador importante que une fluxo escolar e médias de desempenho — e que apoia, assim, no monitoramento da educação do país e no estabelecimento de metas e iniciativas da área.
“Isso indica como o Saeb possui toda uma quantidade de informações aportadas para os sistemas educacionais e para as escolas em particular”, resume o diretor do Cenpec, Romualdo Luiz Portela de Oliveira. “Inicialmente, temos os testes de proficiência, que revelam o que os alunos sabem e o que não sabem. Já os questionários captam características socioeconômicas e socioculturais dos alunos respondentes — por exemplo, o que ele lê, se tem livros em casa, se costuma estudar — e também essas mesmas características da própria escola, como o perfil do professor e dos gestores, práticas pedagógicas, funcionamento, capacitação dos educadores, enfim.”
Desse modo, continua o especialista, dá para fazer uma análise estatística e correlacionar elementos associados a melhores resultados. “É possível verificar se os estudantes com nível socioeconômico mais alto seguem a tendência esperada de pontuar mais do que aqueles com nível mais baixo, o que reflete como as diferentes condições sociais influenciam o aprendizado. Ou, ainda, identificar as práticas das escolas que possuem bons resultados, entendendo como se dá a gestão escolar ali, a influência da formação dos professores e da formação continuada em serviço, entre outros elementos.” Segundo Romualdo, todo esse conhecimento ajuda a compreender necessidades e a desenvolver políticas, ajudando na tomada de decisão tanto no nível da gestão pública quanto no das salas de aula.
Para esse cenário se consolidar, entretanto, a formadora Angela Luiz destaca que é essencial sentar e discutir sobre os indicadores fornecidos, de maneira integrada entre secretarias da Educação e profissionais das escolas. “O diretor e o coordenador pedagógico precisam analisar os níveis de proficiência revelados pelo Saeb. Vale questionar: ‘Houve uma evolução na série histórica, no resultado da escola? Estamos avançando — se sim, o que fizemos para isso?’. E, se a gente regrediu, quais condições proporcionar para que os nossos estudantes evoluam?”, destaca a coordenadora da CE Cedac. “E com a secretaria, a mesma coisa, porque a escola não é sozinha, faz parte de uma rede. ‘Quantas escolas tiveram um desempenho ruim? Onde estão localizadas? Que fatores estão impactando a aprendizagem, e que acompanhamento a secretaria tem feito?’ Tudo isso vai ajudando a compor um cenário, a verificar ações em andamento e a desenvolver planos de ação para seguir avançando.”
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