O samba da Mangueira
“Não existe ‘messias’ de arma na mão”, diz o samba da Mangueira
Por Hora do Povo Publicado em 2 de fevereiro de 2020
O enredo vem sendo atacado por milícias digitais porque fala da volta de um Jesus irmanado com os mais pobres e com os moradores de favelas. O mesmo Jesus que se insurgiu contra a hipocrisia dos líderes religiosos do seu tempo e colocou-se contra a opressão
A Estação Primeira de Mangueira vem para o Carnaval de 2020 já emocionando a todos com seu samba-enredo “A Verdade Vos Fará Livre”, de Luiz Carlos Máximo e Manu da Cuíca.
O enredo do carnavalesco Leandro Vieira vai tratar da volta de Jesus Cristo à Terra e vai se identificar e se irmanar com os mais pobres, como os moradores de favelas, que sofrem com todo tipo de preconceito, principalmente o religioso, e com a intolerância.
Quem se encarregará de levantar a avenida com este samba-enredo será Marquinho Art’Samba, o novo puxador da Mangueira.
A professora Marluci Brasil (foto abaixo), de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, formada em pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, deu uma aula de interpretação de texto da letra do samba da Mangueira que viralizou nas redes sociais.
Nós aproveitamos a postagem de seu vídeo, feita pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da oposição na Câmara Federal, para trazer até você, leitor, essa brilhante interpretação.
Confira no vídeo abaixo:
O que motivou a professora Marluci Brasil a fazer essa interpretação foram os ataques que a escola campeã de 2019 vem sofrendo por parte de milícias bolsonaristas e grupos obscurantistas da sociedade.
A crítica desses setores se concentra na parte da letra que diz “não há messias de arma na mão”.
Eles quiseram enxergar na crítica que o enredo da Estação Primeira faz à manipulação do verdadeiro cristianismo, um desrespeito à figura de Jesus e um ataque a seu “mito”, que vive aparecendo com armas, ou como se estivesse com uma delas, em suas mãos.
Ao contrário do que diz essa gente, não há desrespeito algum da Mangueira a Jesus, a ideia do enredo é exatamente reforçar o verdadeiro espírito cristão.
Leandro explica que o enredo trata de como seria o retorno de Jesus no atual cenário de intolerância no mundo. “O Cristo histórico que ‘A Verdade Vos fará Livre’ leva para o carnaval é aquele que nasceu pobre, viveu ao lado dos menos favorecidos e condenou o acúmulo de riqueza. O mesmo que se insurgiu contra a hipocrisia dos líderes religiosos do seu tempo e colocou-se contra a opressão”, dize ele.
“A liderança pacifista, que amou de forma irrestrita, sem preconceitos ou discursos de ódio, e por isso foi condenado, torturado e morto”, prossegue um dos trechos do texto oficial da agremiação, que desagradou o bolsonarismo.
Segundo Leandro Vieira, na Mangueira o enredo vai falar sobre a “figura política de Cristo” e de sua pregação em torno do amor, “que nos torna livres da intolerância e do preconceito”. Ele disse que o enredo “é um recado político para o país todo, que tem que entender que isso aqui é importante”.
“É um recado político também para o presidente, para mostrar que o carnaval é isso daqui, o carnaval é a festa do povo, o carnaval é cultura popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso e ele devia mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira, o carnaval da arte, o carnaval da luta, o carnaval do povo e da cultura popular.”
A escola vai chamar o Brasil a refletir sobre o amor, a partilha e a luta contra a opressão. A poesia e o ritmo contagiante, além da melodia que nos envolve em esperança num futuro melhor, também nos alerta para as “maldades do mundo” e para os “profetas da intolerância” que deturpam a fé e usam o cristianismo para professar o ódio e a violência.
Vale a pena conferir
Segue o vídeo com a interpretação o ficial de “A Verdade Vos Fará Livre” e, mais abaixo, a letra do samba
A VERDADE VOS FARÁ LIVRE
De Luiz Carlos Máximo / Manu da Cuíca
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Senhor, tenha piedade
Olhai para a terra
Veja quanta maldade
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi pro cordão da liberdade
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi pro cordão da liberdade
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também