O Trabalho
O TRABALHO
Por Guiomar Terra Batú Dos Santos
Muito interessante como Henfil explica o que é trabalho: “Um abacateiro dá abacate. Uma mangueira dá manga. Uma girafa dá uma girafinha. Uma nuvem dá chuva. E um homem? Em princípio, ele geraria outros homens, apenas. Mas há uma diferença entre o abacateiro, a mangueira, a girafa, a nuvem e o homem. O homem é o único ser da natureza que tem condições de fazer algo mais, além de caçar, dormir, viver como outros animais. Se quiser, o homem pode voar com os pássaros, pode nadar com as baleias. Tudo isso o homem consegue quando começa a trabalhar. O trabalho é a mágica que faz os homens se transformarem em seres inteligentes, capazes de criar uma omelete de um ovo, de um tecido uma fantasia, de um barulho uma música. O mais importante é que ele goste muito do trabalho que escolheu e que executa. Somente assim ele consegue ser capaz de criar a fruta mais gostosa: a felicidade”.
Podemos perceber que é pelo trabalho que o ser humano se diferencia dos outros seres. É pelo trabalho que os homens se transformam em seres inteligentes, criativos, capazes de transformar o mundo transformando-s
É pela ação humana, sua inteligência e criatividade que o homem opera todas as mudanças, todas as transformações no mundo que pensa seu. Paulo Freire muito bem exemplifica como a transformação acontece: “Pedro e Antônio derrubaram uma árvore. Tiveram uma prática. A atividade prática dos seres humanos tem uma finalidade. Eles sabiam o que queriam fazer quando derrubaram a árvore. Trabalharam.
Com instrumentos, não só derrubaram a árvore, mas a desbastaram. Depois, dividiram o tronco em toras que secaram ao sol. Em seguida, Pedro e Antônio serraram os troncos e fizeram tábuas com eles. Com as tábuas fizeram um barco. Antes de fazer o barco, antes mesmo de derrubar a árvore, eles já tinham na cabeça a forma do barco que iam fazer. Eles já sabiam para que iam fazer o barco. Pedro e Antônio trabalharam. Transformaram com seu trabalho a árvore e fizeram com ela um barco. É trabalhando que os homens e as mulheres transformam o mundo, transformando o mundo, se transformam também.”
Mas o trabalho, ao longo o tempo, deixou de ser satisfação, conquista da felicidade, ação e transformação com vistas à sobrevivência humana. O homem percebeu que o trabalho gera lucro e, num processo histórico de crescente complexidade, passou a exaurir a natureza, cego pelo lucro e a acumulação do capital. A felicidade passou a ter como horizonte o ter, o consumir.
O que enfrentamos agora é a desenfreada desconstrução do trabalho, desemprego, perda de direitos, informalidade, precarização e miserabilidade.
O Dia o Trabalho, em plena pandemia, descortina o real. O que gera riqueza não é o capital, mas o trabalho humano. Sem o trabalho humano, param todas as máquinas, a economia sucumbe. A máscara antiviral, que simboliza nossa pequenez e fragilidade, precisa banir para sempre a máscara da soberba, que sobeja no ser humano. Quem sabe possa emergir a importância do trabalhador, e que entendamos que o lucro não pode ser mais importante que a vida. A ternura e o cuidado com tudo o que existe e vive precisam ser a nova ordem planetária. Que só sejam derrubadas árvores, feitas canoas se for para garantir pão, saúde, educação. Afinal, estamos aprendendo a viver com tão pouco, com tão pouco, exceto a gratidão, a paz, a esperança do abraço, a alegria de ser, a poesia de viver.
Mil vidas a todos nós, trabalhadores!
GUIOMAR TERRA BATÚ DOS SANTOS
(Guiomar é Professora aposentada da Rede Estadual do RS, Escritora e participa do Movimento Popular Pedagógico – Escola do Povo).
Imagem: Pan americano da unidade, 1940 por Diego Rivera