Olimpíadas, o NEM e escolas públicas
As Olimpíadas, o Novo Ensino Médio e as escolas públicas sem quadras esportivas
por Eduardo Luís Ruppenthal -
Escolas que possuem quadras e materiais adequados para as aulas de educação física somam apenas 40,6% das instituições de educação básica no Brasil
Com o encerramento das Olimpíadas de Paris, é necessário refletir sobre a participação do Brasil, de um lado marcado pela luta, esforço e dedicação dos nossos atletas, com destaque para as mulheres, de outro pela desvalorização e pela falta de investimento no esporte, na sua base e quando tocamos neste ponto, na falta de investimento na promoção dos esportes e isso passa pela educação pública brasileira porque é na escola que se tem contato com a prática esportiva e o conhecimento dos esportes, principalmente modalidades esportivas menos conhecidas, praticadas e não oferecidas no cotidiano da maioria da população.
O Brasil ficou distante das principais potências olímpicas, em 20º lugar, com 20 medalhas, sendo 3 de ouro, todas elas conquistadas por mulheres brasileiras. Enquanto, somos a “8ª economia do mundo”, estamos distantes de configurarmos entre o “G-10 olímpico”. A falta de investimento nos esportes, na sua base, assim como a promoção dos esportes no sistema de educação, não pode ficar restrita a uma política pública importante e fundamental como o bolsa atleta, destinada para quem já possui alguma visibilidade esportiva e que se destaca na participação em modalidades, torneios e campeonatos. Não é uma política estruturante, de mudança profunda na promoção, na construção e na valorização dos esportes e da educação pública.
Isso está refletido nos dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2023 divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que apontam problemas em relação à estrutura para prática desportiva. De acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), escolas que possuem quadras e materiais adequados para as aulas de educação física somam apenas 40,6% das instituições de educação básica no Brasil (Ensino Fundamental e Médio). Não tem condições de trabalho para os trabalhadores em educação física, que passa pela desvalorização salarial geral do magistério, mas também porque faltam bolas de futebol, vôlei, basquete, bambolês, cones, cordas, redes, que segundo o Censo, 27% das escolas brasileiras não tem nem material e nem espaço (uma em cada escola). Dados preocupantes que também demonstram escolas sem bibliotecas (três em cada dez escolas públicas) e nem psicólogos (uma em cada dez escolas públicas).
Aqui no Litoral Norte, um exemplo desse descaso em relação a escolas sem quadra esportiva, é o caso da Escola Estadual de Ensino Médio Diogo Penha, a única escola de ensino médio de Balneário Pinhal, que ficou mais de uma década sem quadra de esportes, depois que o ginásio teve sua estrutura comprometida e que também estragou a quadra. Todo este tempo, várias gerações de crianças e adolescentes foram prejudicadas, pelo comprometimento de falta de espaço físico escolar, das péssimas condições de trabalho dadas aos professores de educação física, sem espaço adequado, não tiveram suas necessidades básicas atendidas e que este ano de 2024, após anos de espera da omissão por parte dos sucessivos governos do estado, a comunidade escolar se mobilizou para reformar a quadra esportiva, para dar condições mínimas para a prática esportiva.
E para aumentar e dificultar ainda mais esta situação, a implantação do Novo Ensino Médio, proposto pelo governo Michel Temer (MDB) em 2017 e a implementação pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, com redução do número de períodos semanais de Educação Física e em alguns turnos, como no noturno, a disciplina é ofertada online ou à distância (nas escolas da rede pública estadual do RS sob gestão da secretária Raquel Teixeira do governo de Eduardo Leite/Gabriel Souza (PSDB/MDB), aprofunda a desvalorização das aulas de educação física escolar, comprometendo as habilidades físico-motoras de milhares de crianças e jovens, não só para aprendizagem nesta fase, como para o restante da vida, já que para a maioria é neste momento que há o contato com a prática física, com os esportes e suas diversas modalidades. Nesta fase da vida, é decisiva para a promoção e surgimento de novos talentos, que possam participar e quem sabe seguir uma carreira esportiva. A prática de esportes durante a idade escolar é fundamental para a saúde, bem-estar e qualidade de vida para a população em geral e também é a base para a construção de atletas de alto rendimento.
Portanto, enquanto que os governos neoliberais, de Estado Mínimo, promovem menos investimentos na Educação Pública e na menor promoção dos esportes na sua base, são responsáveis por políticas anti-esportivas, como a extinção do Ministério dos Esportes por Bolsonaro em 2019 e que foi recriado por Lula em 2023, entretanto ainda em setembro, foi usado como moeda de troca com o Centrão, ao trocar a Ana Moser, ex-atleta de vôlei por André Fufuca (PP), compromete a implementação de uma política consequente e necessária, frente à realidade atual. Junto a isso, o fracassado Novo Ensino Médio, orquestrado e capitaneado pelas fundações privadas e empresariais, entre as quais destacam-se: Todos pela Educação, Fundação Lemann, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Instituto Unibanco, Fundação Itaú Social, Fundação Roberto Marinho, Fundação SM e Itaú BBA, que aumentará ainda mais o fosso entre as escolas privadas e públicas e ao mesmo tempo, de atacar ainda mais a qualidade ao reduzir a carga horária da educação física escolar e não garantir as condições mínimas de trabalho aos educadores, em escolas que não possuem materiais esportivos e muitas das escolas, sequer quadras esportivas. Sem quadras, menos ou sem aulas de Educação Física, sem materiais, sem valorização salarial e profissional, menos educação, menos esportes, menos desportistas, menos atletas, amadores ou profissionais, menos medalhas olímpicas. Educação de qualidade e promoção dos esportes, não são obra do acaso, muito menos da lógica neoliberal de Estado Mínimo e das fundações privadas e empresariais, com cortes, ataques, descaso, precarização e privatização. Pelo contrário, são frutos de planejamento, de investimento e de valorização.
(*) Professor da rede pública estadual, biólogo, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (UERGS) e mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS). Membro do Coletivo Alicerce.
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