Os dramas da terceira...ou melhor idade.

Os dramas da terceira...ou melhor idade.

Filmes: MEU PAI; AMOR e AS CONFISSÕES DE SCHMIDT - Os dramas da terceira...ou melhor idade.

Anthony Hopkins levou o Oscar. Também, pudera. Seu personagem nos faz mergulhar fundo nos mistérios da mente no drama “Meu Pai”. A realidade vai esvanecendo no comportamento de um idoso que enxerga com desconfiança o mundo que o cerca. A perda da autonomia e da razão vai ocorrendo aos poucos, transformando a relação com a filha numa mistura de sentimentos em que se confunde o amor e a mágoa. O apego a bens materiais que lhe parecem estar sendo subtraídos promove um clima de insegurança em relação aos cuidados que a filha procura lhe proporcionar, seja ela própria ou através de cuidadoras profissionais. Difícil para o personagem aceitar a verdade. Difícil para a filha aceitar a nova condição de vida que se apresenta e diante da qual procura agir com responsabilidade, seja levando-o para morar consigo ou relutando para condená-lo a um asilo. O filme nos coloca no lugar dos pensamentos perturbados do idoso, perdidos no tempo e no espaço, se deteriorando, cuja evolução da enfermidade toma um rumo sem volta à consciência. Como se diz, quando envelhecemos voltamos a virar crianças, e nosso personagem termina clamando pela mãe.

Em “Amor”, a vida de um casal octogenário é consumida pela doença da esposa vítima de um AVC. Aqui, temos novamente a ideia de que a enfermidade vai transformando uma vida outrora desfrutada em espaços de cultura num cotidiano entre as fronteiras de um apartamento. A não aceitação da doença e as limitações impostas pela mesma coloca à prova a estabilidade do relacionamento. Os dilemas sobre os caminhos a seguir diante da nova realidade confrontam o casal e a filha, dividida entre sua própria realidade e situação imposta ao pai, após este prometer a esposa que jamais a levaria novamente ao hospital. Na medida em que a doença avança, temos a contratação de enfermeiras, nem todas eticamente comprometidas com a profissão, o que nos faz questionar este segmento. Aliás, é a reflexão moral e ética que se apresenta no final do filme: qual é o sentido do verdadeiro amor?

E quando a demonstração de afeto e amor tem a origem mais improvável possível, mas nem por isso menos sincera? Em “As Confissões de Schmidt”, a aposentadoria pode ser um fim ou um começo para um idoso? O fim de uma trajetória profissional já superada pelas novas ideias e tecnologias. É a dura constatação de que somos substituíveis por maior que seja a resistência ao não admitir a ideia de que fomos superados pelo sistema. O começo de uma desilusão ao perceber que uma vida que parecia tão estável, de repente mostra a solidão, a traição e as cobranças oriundas de uma ausência paterna. Ao adotar uma criança na África por meio de uma organização social, o personagem vai relatando suas experiências de vida e aspirações frustradas enquanto roda algumas estradas a bordo de seu trailer. No fim, a redenção vem em forma de arte e inocência, mostrando que um ato solidário aparentemente aleatório pode adquirir um significado profundo por mais distante que esteja o alvo de sua ação. Impossível não se emocionar com Jack Nicholson...e o afilhado Ndugu.

Sinopses:

- MEU PAI - Em Meu Pai, um homem idoso recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora, buscando encontrar alguém para cuidar do pai. Ao tentar entender suas mudanças, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade. Direção: Florian Zeller. 2021.

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- AMOR - Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados apaixonados por música. Eles têm uma filha musicista que vive em outro país. Certo dia Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos que colocarão o seu amor em teste. Direção: Michael Haneke. 2013.

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- AS CONFISSÕES DE SCHMIDT - Warren Schmidt (Jack Nicholson) é um homem de mais de 60 anos que precisa lidar com a recente aposentadoria e também com a morte repentina de sua esposa. Incerto sobre seu futuro e também sobre seu passado, ele parte em uma jornada rumo ao Nebraska para ajudar no casamento de sua filha Jeannie (Hope Davis) com Randall (Dermot Mulroney), um vendedor de camas d'água. Entretanto, cada novo passo que Warren dá parece ser sempre errado, fazendo com que ele acredite que o fim de sua vida será igual ao seu passado: um grande fracasso. Até que Warren decide dividir sua jornada com um inesperado amigo: um jovem garoto da Tanzânia o qual ele patrocina pagando 73 centavos por dia. Em suas longas cartas ao garoto Warren expõe sua história e passa a ver com outros olhos sua própria vida. Direção: Alexander Payne. 2002.

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