Os resultados do PISA
Os resultados do PISA
Os resultados da nova prova do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) dominaram o noticiário essa semana. A grande repercussão foi acompanhada por um diagnóstico, em grande parte, padronizado: a educação brasileira estagnou.
Muitas análises e argumentos derivam apenas da observação da prova da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) - que, na verdade, é uma prova de desempenho em áreas específicas do conhecimento e nunca uma avaliação da educação para o exercício de plena cidadania.
Contudo, há mais por trás desse fato.
Interpretar o que o Pisa nos diz tem mais a ver com a natureza da prova do que com seus resultados.
Por isso, eu convido você a ler pelo menos dois textos que vão na contramão do que a maioria dos sites, jornais e TVs veiculam.
O primeiro é o texto “PISA: muita importância para uma avaliação questionável” do blog do jornalista, professor universitário e meu amigo Rodrigo Ratier, no UOL. Aqui, um trecho:
O exame vem sendo questionado desde sua primeira edição, em 2000. Alguns aspectos recorrentes: o PISA avalia competências e não disciplinas, que é como as escolas apresentam o conhecimento; o recorte da amostra de alunos por idade e não por grau de escolaridade dificulta a comparação entre nações (países com alta distorção idade-série e repetência, como o Brasil, podem ser prejudicados); há muitos segredos em relação às escolhas metodológicas e dados relevantes do exame, sobretudo questões da prova (a OCDE revela poucas delas). A divulgação dos resultados também é alvo de reparos. Em 2016, os jornalistas Marcelo Soares e Gustavo Heidrich denunciaram problemas no preenchimento dos questionários brasileiros na edição de 2015. Confrontada, a OCDE admitiu falhas em dados sobre o Brasil.
Há muito o que se questionar sobre a validade da prova. Ainda que rigorosa em seus termos, não pode ser tomada como incontestável.
A segunda indicação de leitura é uma entrevista que dei ao site da EPSJV/Fiocruz (Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio). Acredito que a entrevista reflete bem o que eu e muitos membros da rede da Campanha pensamos sobre os limites e os riscos de se elevar avaliações de larga escala a normas sobre como um país deve desenvolver sua educação.
O outro motivo para a sua leitura é que a defesa sobre mais recursos públicos na educação - uma luta da Campanha há décadas, que tem como bandeira atual um Fundeb Pra Valer - é a chave para que o Brasil possa avançar em uma perspectiva de educação pública, inclusiva, de qualidade, democrática, e consequentemente, avançar também em avaliações internacionais como a do Pisa.
Deixo também um trecho:
A situação do investimento é conclusiva. Sem mais recursos o país não vai conseguir avançar na educação. E por questões simples. O Brasil ainda tem escola sem banheiro, escola sem rede de água e esgoto, escola sem luz elétrica... Quase nenhuma escola tem biblioteca e laboratório de ciências em funcionamento. O próprio ensino da matemática deveria ser muito menos em sala de aula e muito mais em laboratório. E tudo isso está muito distante de acontecer no Brasil.O Brasil investe por aluno ao ano, em média, de três a quatro vezes menos do que os países mais desenvolvidos, quando o estudante brasileiro precisaria de um investimento muito maior do que o aluno desses países desenvolvidos porque ele tem um histórico de acesso à educação prejudicado, inclusive em termos familiares. Portanto, o estudante brasileiro precisa de um investimento maior para garantir o aprendizado equivalente.
Ajude-nos a remar contra a maré criada por institutos, fundações e associações empresariais que atuam na área de educação e prescrevem cegamente diretrizes do clube dos países ricos (a OCDE), baseadas no Pisa, para serem incorporadas em nossa educação.
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Daniel Cara da Campanha