Os visionários do SUS

Os visionários do SUS

OS VISIONÁRIOS DO SUS 

Os desafios para prestar assistência universal a uma população sedentária que envelhece, engorda e ainda fuma são imensos. 

 

Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Entre seus livros de maior sucesso estão Estação Carandiru, Por um Fio e O Médico Doente.

 

Computador, estetoscópio, bloco de notas, caneta, copo de café e óculos de grau em uma mesa. artigo sobre os visionários do SUS

 

Publicado em: 14 de dezembro de 2015

Revisado em: 11 de agosto de 2020

 

Os desafios para prestar assistência universal a uma população sedentária que envelhece, engorda e ainda fuma são imensos. Veja artigo do dr. Drauzio sobre visionários do SUS. 

Nasci no Brás, durante a Segunda Guerra. Da rua em que morávamos até a Praça da Sé, são 20 minutos de caminhada.

Quando estava com 7 anos, acordei com os olhos inchados, e meu pai me levou ao pediatra.

Ao voltarmos, o futebol ininterrupto que jogávamos com bola de borracha na porta da fábrica em frente, parou e a molecada correu até nós. Queriam saber se era verdade que os médicos davam injeções enormes na bunda das crianças.

Nenhum daqueles filhos de operários, meus irmãos ou eu havia ido ao pediatra; só os fortes sobreviviam, a morte de crianças era aceita com resignação. Em várias regiões do país, a mortalidade infantil ultrapassava uma centena para cada mil nascidos.

Se a assistência médica não chegava ao Brás fabril, o primeiro bairro da zona leste, encostado no centro da cidade que mais crescia na América Latina, que cuidados recebiam aqueles da zona rural, que constituíam mais de 70% da população?

Sarampocaxumbacataporadifteria tosse comprida eram “doenças da infância”, tão inevitáveis quanto a noite e o dia. Qualquer episódio de febre que deixasse a criança apática enlouquecia as mães, apavoradas pelo fantasma onipresente da poliomielite. O som metálico das próteses que acompanhava os passos de meninas e meninos era ouvido em toda parte.

São Paulo insistiu em seu delírio de grandeza. Nos vinte anos seguintes, afluíram milhões de migrantes que fugiam da miséria. No fim da década de 1960, eram 300 mil novos habitantes por ano que se aglomeravam na periferia inchada, carente dos serviços públicos mais elementares.




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