Papel fundamental do educador
Dia do Professor: o papel fundamental do educador brasileiro
Conheça a trajetória e a história de sucesso de quatro docentes de escolas públicas do Distrito Federal
Se é fundamental reconhecer a importância do professor no cotidiano, quanto mais no dia em que ele é oficialmente celebrado. Nesta sexta-feira (15), o Dia do Professor é mais do que uma data oportuna para agradecer àqueles que mediam a construção do conhecimento, mas é, também, uma oportunidade de dar visibilidade aos desafios e à trajetória de professores e professoras de todo o Brasil, que ensinam, inspiram e orientam alunos da educação básica e educação superior.
A origem dessa data comemorativa no Brasil está no ano de 1827, ainda durante a monarquia, quando Dom Pedro I instituiu, no dia 15 de outubro, o decreto imperial que estabelecia a criação do ensino elementar no país. Cento e vinte anos depois, em 1947, inspirado por esse acontecimento, o professor Salomão Becker propôs que esse dia se tornasse um momento de descanso e de reflexão sobre os rumos da educação. Posteriormente, a iniciativa se espalhou por todo o país e, no dia 14 de outubro de 1963, por meio do Decreto Federal 52.682, o Dia do Professor foi oficializado nacionalmente como um feriado escolar.
Assim, a data de hoje evidencia e relembra, mais uma vez, a importância do educador brasileiro para a sociedade – uma figura que supera os obstáculos da profissão para, por meio dela, contribuir significativamente para provocar mudanças sociais, impactar vidas e formar todas as outras profissões.
O professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e diretor do Centro Educacional – CED São Francisco, em São Sebastião, Matheus Costa, 26 anos, acredita e investe no protagonismo juvenil dentro da escola. Para ele, enxergar todo jovem como potencial líder é fundamental para haver uma transformação nas escolas e uma evolução na maneira de educar e aprender. Do mesmo modo, para o educador, o incentivo à autonomia possibilita a comunidade escolar aprender com os próprios erros e acertos, reconhecer as próprias facilidades e dificuldades e, também, conhecer a si por meio do outro.
O educador conta que, desde criança, gostava de brincar de dar aula para alunos imaginários e já dizia querer seguir a profissão de docente. Entretanto, foi no ensino médio, a partir de um sentimento de inconformação com a educação que recebia e com a atitude da escola diante de questões levadas para sala de aula, que veio a convicção de exercer o oficio. “Saí do ensino médio com a certeza de que era um até logo – e foi um até logo mesmo, porque três anos depois eu já estava de volta”, relatou. Assim, aos 19 anos, ele já havia concluído um curso e passado no concurso da Secretaria de Educação. Anos depois, Matheus chegou ao CED São Francisco, que é carinhosamente apelidado de “Chicão”, onde teve grandes realizações profissionais, que o levaram a se engajar pela comunidade e pela escola.
Além disso, o professor relatou como foi incômodo perceber, em sala de aula, que os alunos não se sentiam pertencentes à escola, e a comunidade não conhecia o dia a dia da instituição. Por essa razão, nos últimos anos, um dos objetivos dele tem sido mostrar para a população local como a articulação entre a escola e a comunidade pode promover ações e transformações sociais por meio da educação. “O meu principal desafio foi derrubar os muros invisíveis da escola, os muros que constituem o imaginário da comunidade sobre a escola e da escola sobre a comunidade”.
Assim, o projeto “Escola na Rua” surgiu como uma estratégia que prega a organização comunitária a partir das escolas. O intuito é promover reflexões sobre a territorialidade e a organização da comunidade, além de envolver as lideranças comunitárias e a população no dia a dia da escola. “A minha principal estratégia foi levar a escola para a rua ou a rua para dentro da escola”, disse. “Acho isso muito importante, porque a gente acaba derrubando vários preconceitos”.
Acolhimento e representatividade
A professora Gleuze Moura, do Centro de Educação Infantil 01 de Ceilândia, conta que foi impactada
por professores durante toda a vida estudantil. Hoje, transmite, aos seus alunos, o acolhimento e a
motivação que um dia recebeu.(foto: Lucas Guedes/Divulgação)
Em entrevista, ela relatou ter começado a estudar na rede pública aos sete anos de idade. Naqueles tempos, segundo a educadora, Ceilândia já era vista como uma cidade violenta, e havia poucas crianças negras na sala de aula: “Eu não me via tão representada na escola, e meus professores me deram a possibilidade de estar sendo representada”. Em razão desse acolhimento edessa representatividade sentidos por ela pela primeira vez, Gleuze descobriu o desejo de se tornar professora e de motivar seus futuros alunos a fazer mesmo, para que mais vidas fossem impactadas por meio da educação. Mais tarde, aos 23 anos, ela ingressou no curso de Pedagogia, no qual continuou a receber apoio de docentes e teve a convicção de que estava na profissão certa.
Gleuze trabalha desde 2009 na rede pública com a educação infantil e vê nas famílias das crianças aliadas fundamentais para a realização de um trabalho diferenciado e, por isso, busca, primeiramente, estar próxima delas e acolhê-las. “Eu sou o que sou hoje por conta disso, porque os professores me enxergavam como uma pessoa única, então, eu busco fazer isso com as minhas famílias e com as minhas crianças”, disse. Além disso, afirmou acreditar no papel transformador da educação, que não estaria apenas no ensinar crianças a ler e a escrever, mas em ajudar a construir valores.
Helen Cristina Silva Santos, 28, é mãe de Sophia Santos Martins, 5, e contou que Gleuze é paciente e sensível e, mesmo com os desafios do ensino remoto, o cuidado e a atenção da professora são constantes. “Ela tem um jeito de ensinar com uma leveza, que dá vontade da gente (a família) ir também para a sala de aula”, comentou. Além disso, Sophia complementou e afirmou aprender muito com a educadora: “ter aula com a minha tia é muito legal, eu gosto de ficar com ela, eu gosto dela.”
Superação e motivação
A história de superação do professor de química Luiz Carlos Correia, do Centro de Ensino Médio 02
de Ceilândia, serve de exemplo para os alunos(foto: Gildenor de Araújo/Divulgação)
Luiz Correia de Jesus, 39 anos, professor no Centro de Ensino Médio 02 de Ceilândia, tem uma trajetória de superação e, além de acreditar no papel de transformação que o educador pode desempenhar, tem a convicção de que o docente e os alunos, juntos, formam o pilar central da educação.
Desde o ensino fundamental, Luiz teve muita vontade de ser professor. O educador, criado por uma mãe solo, em Samambaia, desde muito jovem teve facilidade com as disciplinas da área de exatas. Por esse motivo, comumente auxiliava professores e ajudava colegas em horários contrários às aulas. Antes de iniciar o curso superior e de realizar o mestrado e o doutorado pela Universidade de Brasília (UnB), ele foi auxiliar de estoque da fábrica da Coca-Cola, auxiliar de pedreiro e catador de lixo. Assim, sua história de superação é um exemplo para outros alunos que compartilham desafios semelhantes e desejam, também, seguir essa carreira. “Acho que professor já nasce com uma vontade de ensinar e com uma certa empatia em relação ao próximo”, afirma. “Eu amo muito o que eu faço”
O professor relatou que, muitas vezes, os alunos de escola pública sentem que o ingresso na universidade é um sonho distante da realidade em que vivem. Por esse motivo, Luiz sentiu a necessidade de investir e de trabalhar a autoestima dos jovens e de manter uma relação de empatia e de sinceridade com eles, sempre reiterando, em sala, a importância da educação como fonte de transformações sociais. Para ele, é por meio da escola que os alunos podem alcançar seus objetivos.
Além disso, Luiz destacou as dificuldades da profissão, em decorrência da falta de valorização do professor no Brasil. Segundo ele, a desvalorização passa pela falta de ferramentas, de estrutura e de apoio do Estado. O professor considera que é necessário o desenvolvimento de políticas públicas, com o objetivo de fortalecer a educação e oferecer boas escolas aos estudantes e aos docentes. Apesar dos desafios, o educador prossegue incentivando os alunos a acreditarem que o espaço da universidade também pertence a eles. “Desde o juiz até o Presidente da República, todos passaram por um professor, então, nós não podemos desanimar jamais”, concluiu.
Reflexão e Consciência de mundo
Gladys Maris Leite, da Escola Classe 07 do Guará, não mede esforços para trazer novidades
para a sala de aula(foto: Arquivo Pessoal)
A professora Gladys Maris Leite, 49 anos, atua na Escola Classe 07 do Guará há 10 anos e desenvolve um trabalho com o ensino fundamental, incentivando a reflexão e a consciência de mundo. Ela acredita que o papel do professor seja orientar e ensinar o aluno a pensar criticamente a partir da realidade que o cerca. Dessa forma, ela utiliza metodologias variadas, com foco na ludicidade e buscando novidades para despertar, nas crianças, o desejo de aprender.
Durante a infância, Gladys já pensava em ser professora, no entanto, somente ao ingressar no curso normal (formação de professores habilitados a ensinar no só ensino médio), aos 15 anos, que ela teve a convicção de que essa era profissão que ela gostaria de exercer. Já graduada, a docente passou por diversas experiências em diferentes escolas no Distrito Federal que a ajudaram a construir sua identidade profissional. A educadora relatou que, apesar do cansaço causado pela rotina da sala de aula, considera o trabalho que exerce como um lazer: “Eu me divirto tanto que me esqueço do tempo”
A professora acredita que o processo de ensino-aprendizagem possibilita repensar as questões do mundo e promover mudanças na vida das crianças e de suas famílias. Para isso, Gladys não mede esforços para trazer novidades para a sala de aula. Algumas de suas estratégias são voltadas para o desenvolvimento de projetos que envolvam a comunidade escolar em campanhas, visando adquirir diferentes materiais educativos, como livros literários e brinquedos pedagógicos para os estudantes.
Em síntese, ela acredita que o processo educativo deve resultar em aprendizagens significativas e duradouras, que levem as crianças a experimentar e vivenciar situações pedagógicas diversas por meio dos sentidos e do pensamento reflexivo. Além disso, não busca estimular as crianças a participar das atividades educacionais, de maneira democrática e em igualdade de condições.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá