Participação em eventos científicos
Portaria que limita a participação de pesquisadores em eventos científicos é escandalosa
Fluxo do conhecimento depende de encontros entre professores e alunos
Uma portaria datada de 31 de dezembro de 2019, de número 2.227, assinada por Antonio Paulo Vogel de Medeiros, secretário-executivo do Ministério da Educação, e que disciplina a emissão de passagens, diárias e autorizações de viagens para funcionários do ministério, acabou protagonizando mais uma batalha nessa guerra fratricida – suicida do governo contra as universidades federais – e, por extensão, contra todo o saber produzido no país.
Dita portaria nem bem foi publicada e já está sendo reformulada, embora não se saiba ainda o resultado da colagem. Um dos efeitos mais deletérios do documento – e que se espera seja revertido – limita a participação de servidores, inclusive de pesquisadores científicos das unidades federais de ensino, em feiras, fóruns, seminários, congressos, simpósios, grupos de trabalho e outros eventos a, no máximo, dois representantes em eventos no Brasil e um representante em eventos no Exterior, por unidade, órgão singular ou entidade vinculada.
Ora, só decreta uma coisa dessas quem não conhece as necessidades do fluxo do conhecimento e de ideias, que depende de acordos bilaterais, da presença de professores e de alunos em feiras e eventos nacionais e internacionais. A simples ideia de limitar isso é escandalosa, sem noção e mutiladora.
Se o governo crê que haja algum benefício nesse tipo de atitude cerceadora e agressiva, que pelo menos ele saiba que está dando vários tiros no próprio pé
Sabe-se, e não é de hoje, que o governo não mede esforços no sentido de implodir a universidade pública, justificando tal gana destruidora pelo suposto aparelhamento à esquerda durante os governos petistas. Ocorre que essas investidas só fazem destruir o pouco conquistado. Se o governo crê que haja algum benefício nesse tipo de atitude cerceadora e agressiva, que pelo menos ele saiba que está dando vários tiros no próprio pé. Ou usando um outro dito popular: jogando fora a criança com a água do banho.
Não sei qual vai ser o resultado da revisão da portaria, tampouco quando vai ser publicada. Por agora, resta acompanhar os capítulos dessa guerra e pedir, pelo bem da nação, que parem de fazer terra arrasada do país.