Passagem dos Anos Iniciais para os Anos Finais
Como apoiar a passagem dos Anos Iniciais para os Anos Finais do Ensino Fundamental
A transição se torna mais tranquila para os alunos quando há planejamento, organização e suporte por parte dos professores
Por Carol Firmino 01/11/2022
Crédito: Getty Images
Por mais que os alunos estejam sempre sob o olhar atento dos professores, com a chegada dos meses finais do ano, as crianças que vão fazer a transição dos anos iniciais para os anos finais do Ensino Fundamental exigem ainda mais atenção. Isso porque essa é uma fase que envolve diversas mudanças, o que pode ser bastante desafiador.
Diante de tantas novidades, como amenizar essa passagem e fazer com que os estudantes se adaptem da melhor forma? Acolhimento, conversas autênticas e esclarecedoras com os alunos e as famílias, além de estratégias práticas de organização para o dia a dia escolar, estão entre as prioridades.
Para começar, a consultora pedagógica Renata Borges, que concluiu seu mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) sobre as particularidades que envolvem a passagem do 5º para o 6º ano do Fundamental, explica que este apoio à transição dos alunos não pode ser visto como uma ação pontual. “Na verdade, isso precisa fazer parte da proposta pedagógica da escola desde o 1º ano”, afirma.
Ela reconhece, no entanto, que um dos motivos que torna esta passagem tão desafiadora é o aumento do número de professores que o estudante passa a ter. “Uma das maiores dificuldades é se organizar dentro dessa nova proposta, com professores para as várias disciplinas. Então, os que estão presentes nos anos iniciais precisam ter uma ação voltada para a autonomia do aluno – dele saber fazer suas próprias escolhas, separar o próprio material, etc.”, diz.
A importância do acolhimento
Bruna Albieri, coordenadora pedagógica na EMEF Maria Chaparro Costa, em Bauru (SP), lembra que a passagem dos anos iniciais para os anos finais é um momento delicado: muda-se a escola, os professores, os amigos e o ritmo de estudo. “Alguns ficam com medo, muitos estão ansiosos, com aquele sentimento de querer crescer logo, deixando de serem crianças para se tornarem adolescentes”, diz ela.
É por isso que o acolhimento dos alunos que chegam ao 6º ano é essencial. Selene Coletti, professora há 41 anos na rede municipal de Itatiba (SP) e vice-diretora da EMEB Philomena Salvia Zupardo, situada na mesma cidade, uma iniciativa interessante e que promove essa sensação de amparo é levar os alunos do 5º ano para conhecer a sua nova instituição de ensino, acompanhados dos professores.
“Realizar um rito de passagem também pode ser interessante. Por exemplo: queimar o que não querem levar do 5º para o 6º ano, fazer uma cápsula do tempo com fotografias da turma e cartas dos pais. Vi isso em um colégio particular e achei legal. Agora, adaptando para nossa realidade, vamos propor que os estudantes do 6º ano escrevam uma carta coletiva para os do 5º como é estar lá”, conta. Para fechamento do ciclo, a educadora também sugere fazer uma roda de conversa para que todos dividam o que estão levando de aprendizado e o que aguardam para o ano seguinte.
Outro ponto importante é envolver as famílias. Os pais e responsáveis também precisam ser acolhidos em suas dúvidas e participar de momentos com os filhos nessa fase de mudança. “É interessante trazer os pais para a escola, apresentar os professores, a história do lugar, explicar o que vai ser cobrado, os tipos de materiais solicitados e a rotina de maneira geral, que é diferente do 5º ano. Sabemos que é uma correria para todos, mas pode fazer a diferença para a família”, entende Selene.
Recomposição de aprendizagens
Além dos desafios próprios da transição, há os esforços no sentido da recomposição de aprendizagens por conta da pandemia e a consequente suspensão das aulas presenciais. “Todo e qualquer professor precisa de um ponto de partida, ter um diagnóstico de como está o aluno e suas habilidades e competências adquiridas para que consiga fazer o seu trabalho. Além disso, é necessário que a escola tenha uma boa proposta pedagógica e que o educador siga um bom plano de ensino”, orienta Renata Borges.
Ela explica que, dessa forma, é possível acolher, estabelecer vínculos já no primeiro bimestre do 6º ano e respeitar as mudanças físicas, emocionais e sociais. “No 6º ano, o profissional tem que lidar com todas essas questões, além de realizar o trabalho pedagógico. Então, existir uma comunicação entre as coordenadoras ou unidades, onde haja um instrumento avaliativo que dê esse diagnóstico no 5º ano, facilita”.
Ajudando na organização
Karina Manhenti Faustino, coordenadora de gestão pedagógica geral na EE Marisa de Mello, em São Paulo (SP), conta que, por lá, já no 4º ano os professores começam a ter um olhar mais atencioso para algumas questões, entre elas, a gestão de tempo. “Esse é um grande desafio dos anos finais do Fundamental. Mesmo como professora polivalente, eu tenho que ensinar esse aluno a ter uma rotina, usar agenda, entender quanto dura cada aula, desenvolver seu protagonismo e trabalhar metodologias ativas que sugiram responsabilidade”, exemplifica.
Outro conselho é contribuir para que o estudante organize as datas de trabalhos que precisa entregar e fortalecer esse tipo de hábito para tornar mais tranquila a chegada no Fundamental 2. “O professor no 6º ano espera encontrar um aluno mais estabelecido em suas rotinas. Percebendo essas dificuldades [na EE Marisa de Mello], começamos a viabilizar esses métodos para que a transição flua melhor”, conclui.
Práticas que promovem fluidez na passagem do 5º para o 6º ano
Realize diagnósticos. “O professor precisa ser capaz de viabilizar um instrumento avaliativo para compreender o que o aluno está trazendo dos anos iniciais e aonde ele pode chegar”, diz Renata Borges.
Promova trabalhos em grupo desde os anos iniciais para fomentar autonomia e a divisão de tarefas. “Quem controla o tempo, quem modera as discussões e outras atribuições ajudam a trazer responsabilidade. Assim, quando o professor sugerir um trabalho no 6º ano, o aluno já tem iniciativa e autonomia”, diz Karina Manhenti Faustino.
Incentive as famílias a acompanharem cada etapa da mudança e o que vem depois. “Eles precisam ser orientados a olhar o caderno, ajudar na organização, cobrar informação dos filhos e da escola, como a pauta do dia, calendário de provas, eventos e mais”, diz Selene Coletti.