Paulo Freire será homenageado
O patrono da educação brasileira, morto em 1997, deve ser homenageado em 4 de maio de 2020, mês em que sua morte completa 23 anos
Paulo Freire: Para os críticos, sua obra é uma ameaça e incita o “pensamento ideológico de esquerda” (Professor Paulo Freire/Facebook/Divulgação)
São Paulo — Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro chamar Paulo Freire de “energúmeno”, o plenário do Senado Federal aprovou nesta terça-feira (17) um requerimento para realizar uma sessão em homenagem ao educador, que morreu em 1997.
O pedido, idealizado pelo senador Weverton (PDT-MA) e assinado por outros parlamentares, sugere a data da cerimônia para 4 de maio de 2020, mês em que sua morte completa 23 anos.
“Ah, senhor presidente, busque o dicionário, aprenda o que que é energúmeno, tome a postura como presidente da República Federativa do Brasil, porque isso o senhor está longe de ser. O senhor faria muito pela nação brasileira se renunciasse. Não só pela nação brasileira, mas pela população mundial, porque o desmonte está sendo operacionalizado no Brasil, seja na educação, na segurança, na saúde, no meio ambiente”, afirmou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), durante a sessão desta tarde.
Nesta segunda-feira (16), em entrevista coletiva na saída do Palácio do Planato, Bolsonaro atacou o educador, ao criticar a programação da TV Escola, que vem passando por um processo de reformulação neste governo.
“Era uma programação [da TV Escola] totalmente de esquerda, ideologia de gênero, dinheiro público para ideologia de gênero. Então, tem que mudar. Reflexo, daqui a 5, 10, 15 anos vai ter reflexo. Os caras estão há 30 anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda”, disse o presidente.
Paulo Freire
A obra do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira desde 2012, vem sofrendo ataques por aliados do governo desde as eleições do ano passado.
Para os críticos, sua obra, que tinha como princípio básico a defesa do ensino como forma de despertar a o pensamento crítico do aluno para sua própria realidade, é uma ameaça e incita o “pensamento ideológico de esquerda”.
Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro trabalha para “expurgar o legado de Paulo Freire”, como ele mesmo descreveu em seu plano de governo para as eleições de 2018.
Sua obra mais conhecida é “A Pedagogia do Oprimido”, publicada em 1974, onde ele disseca seus métodos de ensinamento. O livro foi traduzido para mais de 20 idiomas.
De acordo com a London School of Economics, essa é a terceira obra mais citada em trabalhos na área de humanas. Freire também aparece como único brasileiro na lista dos cem mais referenciados por universidades de língua inglesa. Seu legado é reconhecido oficialmente por várias universidades estrangeiras de prestígio, como Harvard e Yale.
(Com informações da Agência Senado)
Energúmeno? Seis obras que mostram a grandiosidade do patrono Paulo Freire
Atacado por Bolsonaro, escritor e filósofo pernambucano foi o mais célebre educador brasileiro com atuação e reconhecimento internacionais
Ao ser questionado por jornalistas sobre o encerramento da TV Escola na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta última segunda-feira (16), Jair Bolsonaro atacou o Patrono da Educação no Brasil ao chamá-lo de "energúmeno" e "ídolo da esquerda" para dizer que a emissora "deseducava", por abordar o método de Paulo Freire.
O escritor e filósofo pernambucano Paulo Freire foi o mais célebre educador brasileiro com atuação e reconhecimento internacionais. Em sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, Freire defende o conceito de que o maior objetivo da educação é conscientizar o aluno, principalmente entre as parcelas desfavorecidas da sociedade, para que não só entendessem sua situação, mas que pudessem agir a favor da própria liberdade.
Um exemplo do sucesso de seu método de educador aconteceu no povoado de Angicos, no sertão brasileiro do Rio Grande do Norte, onde uma multidão de trabalhadores analfabetos viveu uma revolução educacional no ano de 1963: em apenas 40 horas, um grupo de professores liderados pelo educador ensinou 300 adultos a ler e a escrever.
George Guariento
O escritor e filósofo pernambucano Paulo Freire foi o mais célebre educador brasileiro com atuação e reconhecimento internacionais.
O resultado deu tão certo que inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que nunca chegou a sair do papel por causa do golpe militar de 1964, quando Freire foi acusado de traição, preso e acabou exilado, retornando ao Brasil apenas em 1980, após a Lei de Anistia.
Para celebrar a educação e ressaltar os 27 títulos de Doutor Honoris Causa recebidos pelo patrono, além de outros prêmios importantes que o transformaram no brasileiro mais homenageado da história, a revista Diálogos do Sul selecionou seis obras que retratam o compromisso do Patrono da Educação em erradicar o analfabetismo no Brasil.
Confira:
Paulo Freire Contemporâneo
O documentário produzido em 2006 por Toni Venturini com o apoio da TV Escola e Olhar Imaginário, retoma as origens das primeiras experiências de alfabetização freirianas, como o exemplo da cidade de Angicos (RN) acima citado. Após quase 50 anos, o filme mostra de que forma os elementos de seu pensamento estão vivos e presentes até os dias atuais, além de nos presentear com arquivos e fragmentos de entrevistas com Paulo Freire.
Paulo Freire: vida e obra - De Lá Pra Cá
Há dois anos, o programa semanal da TV Brasil, De Lá Pra Cá, homenageou Paulo Freire, o apresentando como um dos maiores educadores que esse país já teve, trazendo nomes como o do senador Cristovam Buarque, a professora da Faculdade de Educação da UERJ, Tania Carvalho Netto, o comunicador Claudius Ceccon e o ex-Ministro da Cultura Francisco Weffort para falar da vida e dos métodos pedagógicos que ele desenvolveu.
Pedagogia da Autonomia
Um de seus trabalhos mais conhecidos, ao lado da Pedagogia do Oprimido, e sua última obra publicada em vida, o livro apresenta práticas pedagógicas necessárias à educação como forma de construir a autonomia do aluno, valorizando e respeitando sua cultura e seus conhecimentos empíricos adquiridos com a individualidade de cada um. Além disso, o educador expõe suas críticas ao fatalismo, neoliberalismo e a globalização.
Paulo Freire mais do que nunca: Uma biografia filosófica
Aqui o autor, Walter Kohan apresenta o educador de forma mais ampla, ajudando a pensar as possibilidades da filosofia em conexão muito próxima com a educação e política. A obra traz também duas entrevistas reveladoras, uma com o filho caçula de Paulo Freire, Lutgardes Costa Freire, e outra com a educadora e amiga Esther Pilar Grossi; além de um apêndice que trata da relação de Paulo Freire com a filosofia com crianças.
Paulo Freire: Uma história de vida
Um livro que não pode faltar em nossa lista é “Paulo Freire: Uma história de vida”, de Ana Maria Araujo Freire. A viúva do patrono oferece aos leitores a trajetória completa do educador. Desde a infância, em Recife, até a maturidade em São Paulo, seus amigos, sua família, a participação política e até fotos e documentos inéditos, além de encarte com manuscritos de poemas, escritos por Paulo Freire em diferentes momentos de sua vida são apresentados na obra.
Paulo Freire: Uma vida entre aprender e ensinar
Entre os livros aqui citados, uma opção mais simples e acessível é a obra de Carlos Brandão, resgata os fundamentos, as práticas e as ideias do educador Paulo Freire. Direciona (não exclusivamente) aos professores do “chão da escola”, o autor reforça a ideia do educador de que “a educação existe na escola e para além da escola. Existe antes dela e depois dela.”
JOSÉ SIMÃO: “BOLSONARO XINGAR O PAULO FREIRE DE ENERGÚMENO É FÁCIL! QUERO VER É ESCREVER”
Por Pedro Zambarda de Araujo 17/12/2019