PEC da impunidade

PEC da impunidade

PEC da impunidade e do cambalacho

por Juremir Machado da Silva

 

PEC da impunidade e do cambalachoFoto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

 

O lema de boa parte dos parlamentares brasileiros, especialmente dos que atuam em Brasília como representantes federais, é conhecido: sim, nós podemos. Eles podem fazer o que quiserem em benefício próprio. Se podem, eles fazem. Se a sociedade está preocupada com a isenção de imposto renda em até R$ 5 mil, eles estão mais interessados em se blindar contra investigações e processos, autoconcedendo-se imunidade penal. Não é por sofrer injustiças que se blindam, mas para fugir da justiça pelos crimes que praticam e desejam continuar praticando enquanto forem reeleitos.

Parece que a tal PEC da sacanagem não passa no Senado. Se for assim, o Senado mostrará a sua utilidade. A falta de vergonha dos deputados que votam para evitar ações penais é caso clássico de calhordice. Quem é eleito padrão? O mais esperto do pedaço, o mais malandro, o que tem a lábia mais fina, o que dá nó em pingo d’água, o que mente sem ficar vermelho, o que enrola com tanta facilidade que nunca fica enrolado, o mentiroso contumaz, o que tem estômago de avestruz e engole qualquer coisa para atingir a sua meta, o que fala de ética sem ter moral, o que vende a praça da matriz da cidade para um empreiteiro, o que tem por princípio só pensar nos fins.

Claro que nem todos os políticos são assim. A tendência é que os diferentes não sobrevivam nesse duro processo de seleção natural pelo pior. Essa PEC da impunidade é uma canalhice sem tamanho. Além dela, que já não passa na garganta de qualquer pessoa com um mínimo de decoro, tem a PEC da anistia, que é premiação para quem enlameou o país com uma tentativa de golpe de Estado. Sem contar as tais emendas parlamentares pelas quais os representantes do povo se representam e não querem saber de transparência. De resto, na PEC da canalhice e da impunidade, os caros representantes queriam voto secreto, que era para o eleitor não saber quem votou pelo quê toda vez que se pedir licença para investigar e processar um colega ladrão.

A política no Brasil favorece o clichê, o lugar-comum, a falta de novas imagens. É sempre a mesma coisa: políticos tentando levar vantagem e votando em causa própria contra tudo o que a população espera. A atual legislatura federal é de uma mediocridade impressionante. Brilha pelos interesses mais baixos, só pensa em troca-troca, não se constrange com o que quer que seja, desde que resulte em benefícios pessoais consideráveis. Há que se registrar também que 12 deputados do Partidos dos Trabalhadores votaram pela PEC da vigarice. Se essa emenda constitucional passar no Senado, o verdadeiro nobre motivo da sua existência será revelado: aliviar o trabalho do STF, que anda assoberbado julgando malfeitores eleitos.

Dá para imaginar a redução da carga de trabalho dos ministros? Essa é a PEC do golpe legislativo contra a justiça e a polícia. A pizzaria do Congresso Nacional está prestes a reabrir com novos sabores e odores.

Ah, não. O odor é mesmo.

FONTE:

https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/pec-da-impunidade-e-do-cambalacho/ 

 

 




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