Perfil universitário do RS
Saiba o que mudou no perfil dos universitários do RS ao longo dos últimos 10 anos
Faixa etária dos estudantes do Ensino Superior é a característica que mais se alterou no período; presença de pessoas com 35 anos ou mais em universidades vem crescendo
Principais traços se mantêm desde 2014, mas alguns foram reforçados, enquanto
outros enfraquecidos. Anderson Aires / Agência RBS
Os principais traços do perfil dos universitários gaúchos se mantêm desde 2014, mas a presença de alguns grupos vem mudando. Teve traços que foram reforçados, como a predominância de mulheres entre os estudantes de Ensino Superior, e outros enfraquecidos, como a diminuição de jovens e aumento de adultos. No geral, a maioria dos alunos são mulheres, brancas, de até 24 anos e que vieram da educação pública.
De acordo com os dados do Censo do Ensino Superior, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a presença dos grupos etários vem mudando no RS durante a última década. Enquanto a parcela de universitários com idade entre 25 e 34 anos, praticamente, não se altera, a de 0 a 24 anos vem perdendo espaço para os estudantes de 35 anos ou mais.
Há dez anos, apenas 15,7% (75.229) dos universitários tinham mais de 35 anos, já em 2023 a parcela de alunos com essa idade no Ensino Superior era de 26,6% (156.364), um aumento de 10,9 pontos percentuais. Enquanto isso, a quantidade de jovens na universidade diminuiu não só percentualmente, mas também em números absolutos. A presença de pessoas com até 24 anos no Ensino Superior do RS caiu de 50,6% (243.116) para 40,3% (236.834), uma queda de 10,4 pontos percentuais e de 6.282 em números absolutos.
Para o pesquisador e pós-doutorando da Faculdade de Educação da UFRGS, Bernardo Sfredo, o aumento da presença de estudantes com 35 anos ou mais no Ensino Superior pode ter relação direta com o aumento de matrículas em cursos de educação à distância (EAD):
— A gente vai ter um contingente de adultos que já estão inseridos no mercado de trabalho e estão fazendo cursos de graduação EAD na perspectiva do desenvolvimento profissional ou para reorientação de carreiras ou para agregar como formação continuada. Inclusive, pode ter nesses casos pessoas que já têm uma graduação e estão fazendo uma segunda graduação, que é outro fenômeno que está acontecendo dentro das matrículas no setor privado EAD. Além dessas questões, tem também o ingresso de pessoas que não puderam fazer a educação superior antes, que foram buscar trabalho e estão buscando agora a formação.
Já em relação à queda de alunos com 24 anos ou menos, a coordenadora de Disciplinas Online da Graduação Presencial da PUCRS, Débora Conforto, aponta algumas possibilidades e que podem mudar de acordo com a faixa econômica do jovem. Entre os principais fatores estão a crise econômica, que diminuiu o acesso a financiamentos estudantis, e a pandemia, que afastou os jovens do convívio escolar.
— A gente teve uma crise econômica e também a questão da pandemia, que fez com que muitos estudantes perdessem essa conexão com a escola. Teve os que não voltaram ou quando voltaram, voltaram com um déficit de aprendizagem muito grande que levou ao processo de evasão. Se a gente não tem continuidade, se a gente não forma, a gente também reduz a entrada desse estudante no ensino superior. Outra coisa que a gente pode buscar também, e isso não impactaria um estudante com uma renda menor, mas os estudantes que têm outras possibilidades que já não colocam o ingresso na universidade como uma certeza. Hoje, um estudante já questiona se vai fazer intercâmbio, vai ficar trabalhando um ano fora. Ele coloca outras possibilidades que já não são, necessariamente, a universidade como uma primeira opção.
Gênero, raça e origem escolar
Em 2014, 56,9% (273.153) dos universitários matriculados no Rio Grande do Sul eram mulheres e os dados mais recentes revelam que essa predominância se manteve ao longo dos últimos dez anos. Em 2023, foram registradas 350.683 alunas no Ensino Superior, o que representa 59,6% do total de matrículas no RS. Ou seja, houve um crescimento de 2,7 pontos percentuais. Durante toda a última década, as mulheres foram maioria entre os universitários gaúchos.
Já em relação à raça dos estudantes, não é possível afirmar se cresceu ou não a presença de algum grupo específico, mas sim de que agora essa característica tem sido mais informada por eles. Isso porque em 2014 não havia informação de cor ou raça de 39,1% (187.574) dos universitários. Dez anos depois, em 2023, essa porcentagem cai para 14,8% (87.281), uma queda de 24,2 pontos percentuais.
Apesar disso, o aumento da informação da cor do universitário pode ser visto de forma positiva. Sfredo explica que esse pode ser um medidor de que as políticas e ações afirmativas estão tendo sucesso, principalmente ao comparar o perfil populacional do RS. Conforme o Censo de 2022, 78,42% (8.534.229) da população gaúcha é branca e 21,58% (2.348.536) é parda, preta, indígena e amarela.
— Se a gente for combinar aqui pretos e pardos, a gente vai ter uns 14% e, talvez, estes sejam dados de que a representatividade da população parda e preta na educação superior está chegando lá, está chegando à equivalência da representação deles na população. A gente vem de 20 anos de ações afirmativas, então, parece ser um dado que, tanto isso quanto a queda da cor não declarada, confirma o sucesso das políticas e ações afirmativas, como promotoras de equidade racial na educação superior — aponta Sfredo.
Já na visão da coordenadora de Disciplinas Online da Graduação Presencial da PUCRS, a mudança ainda é pequena e revela que ainda existe necessidade de políticas públicas em relação ao assunto:
— Se a gente olhar a questão racial, a gente vê que a coisa também não se modificou muito, e o que modificou, que a gente pode perceber, é muito sutil ainda. Por isso houve uma mudança na lei de cotas, porque não se atingiu o perfil desejado de ingresso desse público. Só que a gente também começa a perceber que a lei por si só não adianta, tu precisa de políticas de garantia de permanência desse estudante na universidade.
Por fim, a origem escolar dos universitários gaúchos também sofreu leve alteração na última década. Na Educação Básica, a maioria dos estudantes são de instituições públicas e por isso o número de alunos do Ensino Superior que vieram de escolas particulares é menor.
Na série histórica é possível avaliar que, com o passar dos anos, a presença de estudantes que vieram de escolas públicas ficou maior. Em 2014, 64% (307.198) dos universitários gaúchos concluíram o ensino médio em instituições públicas, já em 2023 esse grupo representava 79,9% (469.903) das matrículas do Ensino Superior.
Apesar disso, Sfredo ressalta que a trajetória desses estudantes não é a mesma. A parcela de concluintes do ensino médio que já ingressam no ensino superior no ano seguinte é diferente entre esses grupos.
— A trajetória dos estudantes da escola pública não é tão direta quanto a dos estudantes da escola básica privada. Esses estudantes não vão entrar tão imediatamente na educação superior. Ao mesmo tempo, nós temos um grande diferencial dentro do setor público que são os colégios federais, tanto nos institutos federais quanto nos colégios de aplicação das universidades, que acompanham muito fortemente a tendência das instituições privadas. Esse é um dado que não altera as tendências maiores de educação, mas serve para mostrar que existe um diferencial dentro da preparação das escolas básicas que vai afetar o ingresso dos estudantes na educação superior — detalha o pós-doutorando.
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